Associação dos Sem Carisma #212
Formulário de Reclamação
Tem vezes que precisamos reclamar, botar pra fora, desabafar o ódio que está aqui dentro, mas sem querer pesar em ninguém – afinal, tá todo mundo cheio de problemas, né?
E tem coisas que é melhor deixar só pra gente, sem sair por aí reclamando na internet e atraindo um monte de doido para a sua vida. Pensando nisso, criamos esse formulário para você registrar a sua reclamação e, depois, guardar naquela pastinha do rancor. Sem ferir ninguém, sem treta, só para desafogar os pensamentos.
Musculosa e deitada
Sabe quando você tá rolando o feed e dá de cara com um vídeo de uma pessoa fazendo exercício e meio sem pensar você segue o perfil? Você pensa “ah, isso vai me incentivar, olha só que jeito diferente de fazer abdominal”. Até que o mais impressionante acontece, você faz o tal abdominal no dia seguinte e fica feliz e dolorida.
Só que o tempo passou e eu me esqueci do tal perfil. Aí tô tranquilona perdendo tempo no feed e, do nada, aparece uma pessoa completamente musculosa, carregando pesos enormes no meio de uma tempestade. Tava chovendo!! Chovendo muito! Mas a pessoa tava lá, agachando e saltando, girando o corpo de ponta cabeça, uma loucura.
Aí eu entendi a importância dos meus vídeos serem sempre deitada na cama. Se essa pessoa, em algum momento da vida, me incentivou a fazer abdominais diferentes, eu também posso influenciá-la a ver a chuva da janela enquanto um gato esquenta a sua barriga. Cada um no seu papel.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
a jornada de "aceitação do nosso próprio corpo", de quem a gente é, não é um caminho fácil e nem uma ascendente.
disso eu já sei e tô cansada de saber.
eu acreditei, e de certa forma ainda acredito, que algum dia eu consiga encontrar paz na minha própria imagem.
então toda vez que me deparo com a frustração de não estar nesse lugar, tento lutar contra esse sentimento, me reinventar, mas acabo caindo no mesmo lugar.
me sinto um ratinho correndo na roda, que corre, corre, desesperado, mas não sai do lugar de jeito nenhum.
vejo a minha imagem, não gosto, tento mudar e procuro alguns caminhos — um novo nutricionista, um novo exercício, mas sempre acabo aqui, sozinha, dentro da minha cabeça, lutando com as mesmas paranóias.
me aceito, me amo, não gosto, me xingo e falo coisas sobre mim que eu nunca diria nem pra minha pior inimiga, é foda.
nas próximas semanas, vou fazer 30 anos e definitivamente achei que já estaria mais bem resolvida nessa relação com o corpo, pelo menos mais estável de alguma forma, mas não estou.
escrevo esse texto para dizer que eu ainda não desisti e vou seguir lutando para encontrar esse lugar que é tão difícil e ainda parece tão distante, que é o de estar confortável dentro de mim.
Ausência paterna
Estava eu lá na sala da psiquiatra, com quem me consulto desde 2018, e pela primeira vez em todos esses anos ela soltou a frase: “você não acha que tem uma ausência de pai aí?” Pronto, chegamos ao grande ponto da questão.
Sou filha de caminhoneiro, então é óbvio que teve uma ausência paterna aí. Quando eu era pequena, costumava a ver ele a cada duas semanas. Quando ele conseguia dar um pulo em casa de madrugada para pegar uma nova muda de roupa e partir de novo, eu lembro de acordar meio sonolenta quando ele veio dar um beijo rápido só pra dizer "oi, cheguei, mas já tenho que ir". Nos natais, sempre tinha aquela preocupação de se ele estaria em casa ou não — mas aí não sei se é pela questão da presença dele ou porque eu queria um presente, pois desconfio que sempre fui mercenária.
Mas a frase "você não acha que tem uma ausência de pai aí?" assusta, né? Pelo menos me assustou, porque sempre considerei que meus pais foram super de boas dentro das suas particularidades. Não tive uma educação autoritária, apesar da frase usual do meu pai naquela época ser "você não fez mais que a sua obrigação" quando eu mostrava uma nota 10 no boletim. Mas ele tava certo, a minha obrigação naqueles tempos era essa, estudar e tirar nota boa. Agora que sou adulta, não tem mais essa de "você não fez mais que a sua obrigação", porque ele sabe bem que conseguir fazer o que a gente precisa pode ser considerado uma vitória.
Enfim, tergiversei. Meu pai nunca foi violento, nunca me cobrou demais, nunca negou a minha presença ao lado dele, pois quando ele estava em casa, ia até pro bar junto com ele. Não quero culpar meu pai por não ter sido presente na minha infância, até porque ele não teve culpa alguma. Ele tinha que trabalhar, e o trabalho exigia que ele ficasse longe de casa. De resto, nada nunca faltou. Mas ainda ficou um trauma.
Então é pesado, né, falar de ausência paterna quando, nas minhas memórias, meu pai foi bem presente, mesmo que não todos os dias. E aí estou matutando: o ser humano não consegue fugir do trauma, né? Ele nasce junto com a gente. Nosso cérebro infantil internaliza umas coisas que a gente tem que desenterrar agora pra ter uma relação menos difícil com a vida. E me parece que a questão aqui é a ausência paterna. Pelo jeito terei que trabalhar essa questão.
Eu quero uma vida de loira platinada
Fui sozinho
Com passagens compradas, AirBnb locado e dinheiro não contado, meu último final de semana foi um teste à minha capacidade de me virar no mundo, mais especificamente numa viagem para São Paulo.
O objetivo principal da viagem era comparecer inteiro e perfumado ao casamento do nosso father da Associação dos Sem Carisma, Bruno Porto. Só que, antes de provar bebidas maravilhosas, conversar com pessoas incríveis e cantar “Don’t Speak”, da Gwen Stefani1, de mãos dadas com Mari Faria, tive que me colocar em Modo Sobrevivência Versão Blogueira (que não sabe atravessar a rua sem utilizar o Maps) e viajar sozinho pela primeira vez na vida.
Acho que pelo nome do quadro da newsletter, “Eu quero uma vida de loira platinada”, já dá pra ter uma ideia de que não sou muito acostumado a me virar sozinho. Experiências comuns, como planejar uma viagem, vividas por adultos ou, até mesmo, pessoas que saem de casa, estão sendo realidade apenas agora para mim — eu sei que já tava na hora, tá bom? Então é óbvio que aeroportos e tudo o que é necessário dentro de um planejamento para ir a outro estado não englobavam um “Check” na lista de coisas que já fiz na vida, pelo menos até semana passada. Apesar de saber que, na teoria, é humanamente possível um loiro com idade superior a dezoito anos viajar sem uma companhia, minha mente optou por desacreditar dessa ideia na hora da prática.
Logo na manhã que saí de casa, acordei um minuto antes do despertador tocar —talento adquirido apenas por pessoas ansiosas —, trêmulo, engolindo em seco e com uma dor de barriga federal. Acho fofo quem fica nervoso e morde as unhas para aliviar a tensão, eu me cago mesmo. O pânico foi tão intenso que parecia que eu havia acordado para fazer o ENEM novamente. Revisei tudo que precisava revisar antes de sair de casa, rezei vinte Ave Marias para que minha operadora de telefone não me deixasse sem sinal em São Paulo e, pasmem, a viagem foi ótima.
Enquanto retornava para casa com a cabeça apoiada no vidro do Uber, comecei a rir da minha própria cara ao me dar conta de que o maior problema da viagem não foi o check-in, nem a falta de grana, muito menos o Mercúrio Retrogrado, mas sim a minha mentalidade insegura que, durante muito tempo, me fez acreditar que a vida poderia ser aproveitada se estivesse sozinho.
Para faxinar ouvindo
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
O É Nóia Minha? dessa semana chamou Jana Viscardi e Maicon Santini para dar um recado importante: calma, galera, vamos ser menos cricri? Ouve aí!
Esse velório virou um… Ih, não vamos dar spoiler, só vai lá ouvir o episódio de E os namoradinhos? dessa semana.
E no Conselhos que você pediu, a Isabela questiona se a vida precisa ser útil mesmo — no caso, se nós precisamos ser úteis e produtivos o tempo todo. Dá o play!
Nos despedimos por hoje
Fechamos mais uma semana, e essa parece que demorou um mês inteiro, né? O pré-Dia das Mães da mãe não tá tranquilo, não. Mas deixo vocês com duas notícias boas: Mercúrio Retrógrado acabou ontem, e semana que vem tem feriadinho na quarta-feira. Vamos nos permitir fazer nada?
Mas antes que o descanso chegue, na sexta e no sábado vai rolar o Bazarzão do Lookão organizado pela Jana Rosa, e levei umas coisinhas pra lá, entre elas o nosso primeiro Jornews. Sim! Se você não se inscreveu para receber o primeiro, pode passar lá para pegar o seu! Anota aí:
Agora sim, beijos pra vocês,
Camila, Bertha, Taize e Claudio
Lembretes de encerramento:
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E vem aqui conhecer o livro Quibe, a formiga corajosa.
Nota da editora: NO DOUBT, CLAUDIO!!!
Claudio, obrigada pelo texto. Eu só me possibilitei (ou melhor, pude) a fazer uma viagem sozinha kkkk aos 29 anos e foi tanta nóia..
Adorei o formulário kkkkkkkkkk vou adotar