Associação dos Sem Carisma #213
Rotina "Saudável" de um Sem Carisma
Quem habita a internet com certeza já se deparou com aquelas vídeos de pessoas matutinas que acordam às 5h da manhã cheias de energia para fazer um café da manhã elaborado, praticar yoga, ajeitar a casa logo cedo… A gente pode até se inspirar um pouco a pôr as coisas em ordem, mas a verdade mesmo é que ficamos cansadas só de assistir a galera tendo tanta energia. Nosso carisma simplesmente não aguenta!
Para você se sentir contemplada, preparamos aqui um cronograma da rotina "saudável" de um sem carisma cansado. Inspire-se e sinta-se abraçade!
Camila in Rio
Aproveitando que Madonna está no Rio de Janeiro e toda a atenção do Brasil está em cima dela, Camila Fremder se deslocou para a cidade maravilhosa para tirar mini-ferias disfarçadas. Por conta disso, não contaremos com a coluna da nossa presidenta nesta edição. Na verdade, não contem com ela pra nada, deixa a mulher descansar.
A casa é minha
Eu não tenho história nenhuma com a Madonna, mas tenho uma história longa com o Rio de Janeiro. A Rainha do Pop é tudo isso mesmo, e sobre “tudo isso” eu sei muito pouco. Conheço os maiores hits, admiro sua trajetória, verei o show do conforto de um hotel em Búzios, que é onde me encontro nesse feriado que eu decidi prologar. Já sobre a Cidade Maravilhosa, eu tenho muito a dizer. Que tesão ver minha cidade borbulhando assim!
Estive no Leme na feriado. Na praia, várias caixinhas de som já tocavam Madonna. Turistas, cariocas, a praia lotada e aquele cheiro no ar, aquele cheirinho da história acontecendo. O palco montado, toda a população LGBTQIAP+ da América Latina pelas ruas de Copacabana e adjacências. Nem precisava estar tão perto, é só ligar a TV que tá lá o plantão 24h na porta do Copacabana Palace. Não tem outra palavra além de tesão. Tem um tesão coletivo pairando sobre o Rio. E não é sobre sexualização, é a cidade pulsando.
Esse clima me lembrou demais a Copa, em 2014. Eu tinha 10 anos a menos, vivendo o auge dos meus 18 anos. Todos os héteros do planeta no Rio, eu solteira, a cidade lotada, FIFA Fan Fest na praia de Copacabana (era uma arena com telões pra todo mundo acompanhar os jogos, lotava!), festas em todos os lugares da cidade, aquele clima de feriado o mês inteiro. Um tesão absoluto no ar. A sensação que todo mundo ali tava sendo guiado pelo mesmo evento, mesma expectativa, mesma energia. Quem jogava, quem ganhava era irrelevante. O negócio era outro.
Senti isso de novo. Pra alguns, a Madonna é tudo. Pra outros, a farra generalizada é o que importa. Como disse meu amigo Caju: “Bom demais viver na melhor cidade do mundo em seus dias de lenda.” O Rio de Janeiro é um caos desorganizado. Nem adianta tentar amenizar. É uma cidade desgraçada, violenta, cruel, complexa, profundamente desigual, segregada, insalubre, como toda metrópole. É uma merda, mas é meu lar. Meu país, minha casa. Carioca da gema é tudo que eu sou. Pra quem não sabe, “da gema” só cariocas filhos de cariocas. Raízes profundamente fincadas nesse caldeirão cultural que mistura todas as referências que podem salvar esse país.
Ver o Rio em seus dias de “fazendo a história acontecer” é inebriante, alucinante. É o melhor lugar do planeta. Eu sou apaixonada por essa cidade terrível. Como sem carisma, eu vivo menos a cidade do que tantas outras pessoas. Eu me considero mesmo uma observadora. Eu não preciso me acabar, me jogar, eu gosto de olhar de fora. Ver como as pessoas se comportam, ouvir a conversa da canga do lado, fuxicar onde meus amigos estão indo, acompanhar os debates da bolha do Carnaval sobre os enredos do ano que vem. Eu sou uma profunda interessada no Rio de Janeiro. Na história, na divisão dos territórios, no samba, nas macumbas, nos eventos.
Madonna, perdão, sei pouco sobre você, confesso. Mas dessa cidade aí onde você fará o maior show da sua carreira, eu sei um bando de coisas. Saber tudo é impossível, e Deus me livre não ter mais nada para viver pela primeira vez na cidade que eu amo. São 28 anos de Rio de Janeiro e, nesses dias de tesão coletivo no ar, renovo meus votos. Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira.
O que aconteceu com a roqueira triste?
Desde que o meu primo mais velho me apresentou Gun's N' Roses quando eu tinha uns 11 anos de idade, parei de escutar aquilo que meus pais escutavam e comecei a apreciar as "minhas" músicas. Fiquei um tempo vidrada em Guns, comecei a ouvir a rádio Atlântida, a até então a "rádio rock" do sul. Gostava de ouvir Foo Fighters, Nirvana, Green Day. Gostei tanto do início da carreira de Avril Lavigne a ponto de querer ser como ela. Ouvi tanto Linkin Park a ponto de chorar, anos depois de nem ouvir mais, com a morte do Chester.
Entrando na fase adulta e conhecendo gente “diferenciada” de São Paulo, meu gosto musical foi pro lado mais deprezinho da coisa, como aquele indie triste: The National, Wilco, Fiona Apple, Vampire Weekend, Arcade Fire (que fiquem com Deus, superei), essas coisas. Banda de gente desesperançosa com a vida adulta e que está totalmente cansada do mundo.
Agora, rumo aos 35 anos de idade — que é o início da contagem regressiva para os 40 —, eu tenho me perguntado: COMO QUE ESSA ROQUEIRINHA TRISTE AGORA SÓ OUVE K-POP?
Há dois anos seguidos o meu Wrapped do Spotify é composto, em grande parte, por girl groups como Red Velvet, Mamamoo, Twice e Blackpink. Ouço quando tô andando na rua, fazendo faxina, quando preciso me arrumar pra sair e, agora que voltei pra academia, fazendo ginástica (beijos, Camila). Ainda escuto meus rocks tristes, mas com bem menos frequência. Enquanto pulo 10 vezes seguidas minha playlist de músicas curtidas, é raro eu pular a minha playlist de K-Pop. E eu não entendo direito os motivos de eu gostar tanto de ouvir e de me sentir tão entretida com isso.
Mas, felizmente, não estou sozinha nessa, e acho que o Suza cravou bem os motivos dessa atração que nós, millennials velhos, temos pela canção jovial do sul da Coréia:
"Para mim, não é que K-pop é legal apesar de ser cringe. Ele é legal justamente por isso. E não falo de um jeito hipster, cínico ou irônico. É que é essa a reação que eu tenho com certas coisas que são novas e diferentes: crinjo e, ao mesmo tempo, me encanto, em um agradável mix de emoções. E o K-Pop contemporâneo, goste ou não, tem algo de novo e diferente, com seu inglês macarrônico, seus refrãos que não querem dizer absolutamente nada mas nunca mais saem da sua cabeça, suas misturas desconcertantes de estilos e referências, ou seus videoclipes coloridos e estapafúrdios mas que também são super bem humorados e deleitosos."
E é isso: a estranheza inicial com os clipes, a sonoridade e a estética do K-Pop foi o que me atraiu para esse rolê. E hoje é meio que uma inspiração, até. Acho muito mais interessante o que esses grupos e artistas da indústria k-popera andam fazendo do que o que os artistas ocidentais estão lançando (e aqui digo, sob o risco de ser apedrejada: Taylor Swift chata pra carai). Nem sei quais foram as últimas músicas que os artistas que eu ouvia 5 anos atrás lançaram, mas acompanho cada notícia do mundinho K-Pop em vídeos que compilam os lançamentos da semana ou com youtubers que explicam os bastidores do negócio.
Eu geralmente não sei o que eles estão cantando, ou a letra é sobre algo tão besta, tão sem sentido, que torna tudo ainda mais interessante. Eu não preciso entender coreano, só preciso sentir o ânimo tomando conta do meu corpo quando começam as primeiras notas de "Dope", do BTS. Felizmente, tem as músicas em inglês e dá pra entender direitinho que Jung Kook quer te f**** sete dias por semana.
Dito isso, no último domingo me reuni com meus amigos para apresentarmos nossos interesses uns aos outros em formato de powerpoint. Planejava falar de Fórmula 1, claro, mas não tive tempo de preparar uma apresentação. Me saí, então, com uma playlist de K-Pop para compartilhar essa obsessão com mais gente e poder demonstrar meu conhecimento em uma área que pouquíssimos deles conhecem. Aqui vai a playlist, conheçam as maiores lobas do K-Pop segundo meu gosto pessoal.
Aqui jaz uma roqueira triste.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Na última semana maratonei em um só dia a série QUE TÁ NA BOCA DO POVO (só se fala em outra coisa, rsrskk), Baby Reindeer, da Netflix.
Fiquei pensando no ato de coragem e de vulnerabilidade do autor, diretor e ator principal, Richard Gadd, de expor uma história tão dolorosa, difícil e que era sobre a vida dele.
Tava tudo bem cru ali, como o momento em que ele começa a sofrer stalking, como tudo vai se desdobrando, escalonando de uma forma que diz muito mais sobre ele, sobre o jeito com que ele leva e desenrola a relação com a stalker, quais eram os traumas que estavam ali por trás daquela relação bizarra.
Fiquei de estômago embrulhado e de queixo caído logo nos primeiros episódios.
Depois do choque e minutos de silêncio ao terminar a série, fui ler algumas críticas e mais sobre o ator, sobre a série e etc. Caí em alguns textos e comparações com a brilhante série I May Destroy You, escrita, dirigida e com atuação da própria Michaela Coel na MAX, que também expõe de forma visceral um trauma de abuso e estupro que ela passou na vida real. A série é linda, apesar de ser muito difícil assistir algumas cenas.
Daí, coincidentemente, nesse mesmo momento, estou lendo o livro da Rosa Montero, O perigo de estar lúcida, que fala justamente sobre essa quebra na vida de artistas, escritores, pessoas que trabalham com a arte no geral, com a criatividade. Sobre como a maioria de nós (alaka que já se inclui no rolê, RSRSK) é quebrado. E a capacidade que alguns têm de transformar a sua dor, a maior quebra, trauma da sua vida, em pura arte.
A arte é um ato de coragem belíssimo e realmente salva a alma.
Para dar o play depois de ouvir k-pop
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
No É Nóia Minha?, Camila chamou Babu Carreira e Maria Bopp, apresentadoras do podcast Má Influência, da Wondery, para falar sobre golpes! Vem ver que esse tem vídeo!
E no E os namoradinhos? o causo da semana despertou uma dúvida: você engole? Vem ouvir pra entender!
No Conselhos que você pediu, Isabela falou sobre a necessidade do ócio e do descanso mental.
E no sou meio vagabunda, mas sou boa pessoa, a Taize comentou os assuntos de abril, entre literatura, ex-BBBs e o mercado de influência. Vem ouvir um trechinho!
E aqui se acaba mais uma edição
Como nossa presidente está de folga lá no Rio, deixamos aqui pra vocês a nossa rápida despedida que é para você terminar logo esse e-mail e ir ouvir nossos podcasts. Ou ir fazer qualquer outra coisa, não queremos controlar o que você faz não.
Obrigada todo mundo por mais uma semana aqui com a gente, e espalhe esta newsletter para seus amigos entenderem o seu jeitinho sem carisma.
Beijos, se cuidem
Bertha, Taize e Isabela.
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