Associação dos Sem Carisma #64
Quão diversa é a sua leitura?
Não é nenhuma novidade que a leitura, quanto mais diversa, melhor é. É pelos livros que conhecemos outras pessoas, outras culturas, outros jeitos de ver a vida. É o que a autora Laetitia Colombani deixa bem claro em A trança, publicado pela editora Intrínseca que está apoiando a news de hoje. Uma história sobre três mulheres, de três continentes, que vivem realidades bem diferentes, mas todas estão em busca da mesma coisa: a liberdade.
Pensando no livro e na importância que a leitura tem na vida de todas as sem carismers aqui, fizemos esse bingo da diversidade na sua leitura. Porque ler sobre o outro é o que deixa a gente mais empático e ajuda a gente a entender melhor o mundo. <3
Em A trança, conhecemos três mulheres que vivem, cada uma, em um canto do planeta. Smita vive numa vila da Índia e é uma dalit, a casta mais baixa, e sonha em dar uma vida diferente para sua filha. Giulia vive em Palermo, na Itália, e trabalha no ateliê da família. Já Sarah é uma advogada bem-sucedida no Canadá, que coloca o trabalho à frente da sua família. Com as três, Laetitia Colombani mostra como, mesmo de origens e lugares tão diferentes, elas possuem muita coisa em comum.
Apelando
Por Camila Fremder
Eu já não sei mais o que fazer. Eu olho os planetas e busco esperança na astrologia, mas aí vejo o jornal e não tem Júpiter bem aspectado que salve a nossa situação. Depois eu tento ligar pra alguma amiga mais otimista, mas nem a mais otimista está em condições de ser otimista e aí ficamos tristes juntas. Eu juro que até ideias malucas me passam pela cabeça, sei lá, um avião de sal grosso que despeja toneladas por várias cidades, pra ver se a coisa vai. Tá muito complicado morar no Brasil.
Todo mundo tem aquela amiga (e se você não tem, talvez a amiga seja você) que antes de tomar uma decisão, tipo, separar ou se mudar de casa ou pedir demissão, consulta todo o tipo de ajuda que existe. Na segunda ela vai na taróloga, na terça marcou vidente, na quarta numerologia, quinta mapa astral, sexta marca um reike, sabe? Eu to entrando numas piras que só vamos conseguir sair disso apelando pra tudo que existe de esotérico no mundo, porque ninguém aguenta mais não ver um futuro, não sentir uma energia boa, não ouvir que em agosto tudo vai melhorar. Nem que pra isso a gente mude de Brasil pra Brasyl.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha
Por Bertha Salles
Percepções da monotonia
Com a mudança de temperatura, eu reparei que tenho dois moods para dormir, e todos eles se baseiam em duas peças muito básicas.
No frio, o pijama sem calcinha, mas com meia. Já no verão, blusinha com calcinha (para não entrar bicho na ppka rs) e sem meias.
Sim, depois de mais de um ano de pandemia essa foi uma das minhas grandes percepções, risos.
Também percebi que eu ouço as mesmas músicas todos os dias incansavelmente, e de uma forma mágica elas sempre acabam tendo o mesmo efeito no meu estado de espírito. "Just the Two of Us" do Bill Whiters para começar com o gás total dançante, e acabo sempre caindo no loop dos mesmos Tiny Desks — Chloe x Halle, H.E.R, Jorja Smith, e por aí vai.
Acordo, faço xixi, lavo o rosto, passo os meus cremes, tomo café e vou performando a trajetória que o dia me pede, até a hora da novela das 21h. E na maioria das vezes, que venho notando dentro desse período, neste momento eu já vou estar de banho tomado, pijama, dentes escovados e com a minha garrafa de água gelada ao lado.
Também percebi que deixo a TV ligada o dia todo, tocando as minhas músicas preferidas, e só na hora da novela eu tiro, quase como uma companhia para mim e para o Carlinhos. Pelo menos de segunda a sexta.
Por fim, reconheci que as minhas manias e rotinas me ajudam a organizar a cabeça. Me dando uma segurança de que está tudo dentro dos conformes pelo menos em algum lugar. Afinal, dentro do meu cabeção e no Brasil, não está fácil.
Me encontrar e me perceber dentro de coisinhas tão pequenas e corriqueiras me asseguram de quem eu sou e do conforto de se saber quem é.
Sei que as coisas têm que mudar, assim como agora que esfriou e eu estou de pijama, sem calcinha e com meias.
Mas também sei que, ao deitar, vou desligar a TV, pegar o Carlinhos e minha garrafa de água, ir para o quarto e enrolá-lo na cobertinha ao meu lado, pegar o meu livro e adormecer com ele na mão. E no outro dia, amanhecer e fazer tudo de novo, ou pelo menos tentar.
Beijos rotineiros,
Bebetinha
Aprende quem quer
Por Taize Odelli
Essa semana a discussão que todo mundo acompanhou foi a sobre as falas racistas de Rodolffo no Big Brother. Não só as falas, mas a recusa dele de entender que o que ele disse machucou. Não machucou só o João, mas todos que já tiveram que ouvir comentários como esses. Para muitos de nós, brancos, o que Rodolffo fez foi algo pequeno. Mas não é pequeno. Não é mesmo.
O que mais me irritou nisso tudo foi a postura dele. A forma como ele sempre usa a carta "sou do interior, lá não tem isso" para justificar sua ignorância quanto a pautas raciais, sexuais, de identidade e pertencimento. Eu sei bem que muita, mas muita gente mesmo, pensa igual a ele. Acha que precisa ser ensinado porque "na minha cidade não tem isso". E eu sei disso porque eu vim de uma cidade pequena do interior onde a maioria concorda com ele. Mas aí é que está a questão: por mais isolado que um lugar seja, no caso de pessoas com acesso à internet, que viajam, que podem falar e ver coisas além do lugar onde vivem, você pode, sim, aprender por conta própria. Você pode ir atrás de informação.
A leitura foi um ponto muito importante para mim para entender isso. Um exemplo: lendo A trança, por exemplo, aprendi como é dura a vida de uma dalit na Índia, como a personagem Smita sobrevive catando a bosta alheia porque a sociedade diz que esse é o papel dela naquela sociedade. Não tem ninguém catando bosta dos outros na cidade onde nasci ou na cidade onde moro — não nesse nível, pelo menos —, mas não é por isso que eu tenho que ignorar que essa realidade existe e que ela causa sofrimento. O sofrimento de Smita é real, por mais que esteja em uma obra de ficção. Porque isso acontece lá. Pessoas ainda lutam para conseguir mudar seu destino, lutam por respeito. Na Índia, no Brasil, no Japão, em uma cidade grande ou em uma cidade do interior.
Como uma "pessoa do inteiror", nunca precisei que me ensinassem as coisas que Rodolffo acha que precisam ensinar a ele. Pode parecer que estou me colocando como superior — mas plmdds, não é muito difícil ser superior ao Rodolffo, rs —, mas não é isso. É saber ouvir, é saber procurar, é saber pensar naquilo que está na sua frente. A leitura faz isso, e a leitura não precisa estar só dentro dos livros. Está nas notícias que você lê, nas legendas de Instagram, nos tweets. É sentar, ouvir, pensar e não tentar se justificar, mas sim tentar entender. Mas os livros podem potencializar isso. Os livros podem tocar a gente num lugar mais profundo, ligar a nossa história pessoal com a história de pessoas inventadas ou reais que estão, sempre, discutindo algo da realidade. E se tem uma coisa que falta para essa "galera do interior" é leitura, é interpretação de texto, é entender que o mundo em que eles vivem não é o único mundo que existe.
Quando você se fecha para o diferente, quando lida só com aquilo que é igual ou parecido com você, ou que só pensa como você, você não aprende. Você não cresce. Você não entende que o mundo é plural e que seu jeito de enxergar as coisas não é o único que existe e não é o único “certo”.
Queria escrever sobre isso hoje porque acho importante dizer que ninguém precisa ensinar nada pra ninguém. A gente é que tem que querer ir atrás. A gente tem que pensar no outro, conhecer o outro, e evitar a ignorância. E se você quer uma dica para começar, comece por A trança. Lá têm três realidades diferentes que vão te incentivar a querer descobrir outras realidades. Outras pessoas. Outros jeitos de viver.
Dicas demais
Dicaize
Minha dica de hoje é o clube Leitura Decoloniais, feito pelas maravilhosas Camilla Dias, Maria Ferreira, Pétala e Isa. Elas fazem uma curadoria de livros que rompem "com práticas e pensamentos colonialistas e racistas", e através da leitura coletiva desfazem esses pensamentos limitantes com os quais crescemos.
Para participar e apoiar o projeto, é só ir nesse link aqui, que além das indicações de livros elas sempre mandam materiais complementares e tem um encontro online para discutir o livro da vez. Apoiem e sigam elas porque esse trabalho é importante demais!
Bebediconash
Comecei a maratonar os filmes do Oscar, pois tédio e interesse, claro.
E neste final de semana assisti ao Pieces of a Woman, que conta a história de uma mulher que perde a sua filha de maneira brutal, após o parto.
Os primeiros 30 minutos do filme são completamente viscerais, retratando o parto em plano sequência com uma atuação bizarra de boa da Vanessa Kirby, a irmã da rainha Elizabeth em The Crown, ela merma, que foi indicada ao Oscar de melhor atriz deste ano por esse filme. U-HUM.
Depois do trauma, através de várias passagens de tempo, o filme conta como a vida dessa mulher e tudo ao seu redor acaba se transformando — relação com a família, parceiro, trabalho.
O filme me impactou muito e me deixou em silêncio por algum tempo.
A história é triste, mas importante por vários outros sentidos também!
VALE VER!
Vou maratonar mais alguns filmes nesta semana e vou contando para vocês!
Podcastners
No É Nóia Minha? da semana falamos sobre casamento. O que é casar, afinal? Conversei sobre isso com a psicanalista Vera Iaconelli e a produtora de conteúdo Lena Mattar. Ouve que tá profundo, tá cabeça.
No Calcinha Larga teve Monique Evelle, ou seja, mais papo cabeça pra você fazer a culta nesse final de semana. Vai que tá bom!!
No PPKANSADA teve mais uma rodada de autoterapia com Bertha, Taize e a convidada especial Nathaly Dias, a Blogueira de Baixa Renda, falando sobre os conflitos entre mulheres autônomas e os homens. Saudades, Bela, que está de licença. <3
Beijinho!
Muito obrigada por reservar um tempo para ler essas doces garotas que vos escrevem. A gente sente o carinho. <3 Em breve lançaremos um novo modelo da camiseta sem carisma, mas presta atenção que tivemos reposição de tamanho da camiseta antiga e tem ecobag também! Entra no site da Tangerina Moon e compre seu manto!
bjs,
Nois