Associação dos Sem Carisma #69
Guia do Webflerte
Será que ele(a) está fim de mim? Ou: será que ele(a) pensa que estou dando em cima quando só estou sendo legal?
O webflerte guarda muitas armadilhas, sem carismers deste Brasil. Um like não é só um like, um foguinho nos stories definitivamente não é só um foguinho nos stories.
Apresentamos a vocês este guia que explica, através de pesquisas incansáveis e testes in loco realizadas pelo Instituto Sem Carisma, como se dá o flerte no ambiente virtual.
Usem com sabedoria.
Por que a gente faz isso?
Por Camila Fremder
O Nóia dessa semana fala sobre aceitação, e é lógico que depois que eu gravei o episódio mil novas nóias surgiram. Vocês já pararam pra pensar no tanto de roupas e acessórios desconfortáveis que a gente já usou só pra se sentir fazendo parte? Eu tinha uma botinha de cano curto que eu achava super incrível, mas toda vez que eu usava ela por muito tempo a parte interna do meu tornozelo ficava em carne viva! Mano, como assim? E eu usei ela muitas outras vezes depois dela ter me machucado a primeira vez. Por quê?
Me lembro de até tentar colocar um band-aid, um esparadrapo com algodão e coisas do tipo. Mas aí você pode até pensar: "ah, mas uma bota custa caro, né? Não dá pra usar uma vez e se desfazer dela..." Concordo, mas aí eu continuo, eu tinha um colar, que comprei na 25 de março e paguei 22 reais, naquela fase que tudo era maxi; maxicolar, maxibolsa… Além de carregar um peso ridículo no pescoço e provavelmente desenvolver aos 20 anos a escoliose que me mata de dor agora aos 40 anos, ele ainda desbotava no meu pescoço inteiro e me dava coceira. Agora, se você me perguntar quantas vezes eu usei, eu vou te dizer tranquilamente mais que 30 vezes. Não é loucura?
Enfim, fica aí a nóia minha…
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha
Por Bertha Salles
Acabei de assistir ao filme Depois a louca sou eu, que é baseado no livro da incrível e tudona Tati Bernardi.
O livro e o filme são uma autobiografia de como ela vive a sua vida sendo uma pessoa que tem ansiedade e pânico, através da personagem Dani, interpretada por Débora Falabella de forma intensa e cômica.
Eu, assim como a Tati, e muitas outras pessoas nesse mundão, tenho crises de ansiedade e pânico desde que me entendo por gente, um ser pensante e consciente.
E tem uma cena específica no filme, em que ela começa a contar sobre quando foi a sua primeira crise, e acaba relatando várias primeiras crises em diferentes momentos e situações. E de fato, eu, quando vou contar sobre quando tive a minha primeira crise, consigo lembrar e misturar exatamente todas elas.
Quando bate, sempre parece que é a nossa primeira vez, o que é muito louco, porque a gente sabe no nosso subconsciente o que vai acontecer e que está tudo na nossa cabeça, nada de mal ou físico está realmente rolando no seu corpo. Só que quando o negócio vem, ele vem e a gente esquece de tudo, se fragmenta por inteiro em mil bolinhas de gude, como a Tati diz.
Viver a vida assim é um eterno vou ou não vou, cogitar e planejar rotas de fuga e de escape caso você queira correr para casa ou para o colo da sua mãe, seja em segurança numa viagem ou no seu caminho para o trabalho do dia a dia. Dar desculpas absurdas e acabar até mentindo para fugir de situações sociais. É cansativo e por muitos anos solitário.
Quando eu era pequena, minha mãe também tentou me levar para igrejas e rituais para ver se passava esse negócio ruim, essa angústia que aparentemente não fazia sentido algum. Tentamos florais, aromaterapia, yoga, tentamos acupuntura de choque, meditação, dança… Tudo!
Até que, aos 12, comecei a terapia, que é como eu consigo seguir.
Hoje em dia, com auxílio da minha psiquiatra e medicamentosa também, finalmente não tenho vergonha ou medo de falar que tomo antidepressivo, conciliando a terapia com exercícios. E isso não quer dizer que eu não me sinta ainda ansiosa, que eu não tenha dias caóticos em que parece que a minha cabeça vai explodir em 30 mil pedaços. Eles existem, mas passam.
Botar para fora a nossa vulnerabilidade e os nossos medos, nos aproximam e acabam minimizando, de certa forma, e "normalizando" o que a gente tá sentindo. Não estamos nem um pouco sozinhos, e desde que consegui falar sobre a minha vivência como pessoa com pânico e ansiedade, as coisas ficaram mais fáceis para mim, me aproximei e me conectei com muita gente.
Hoje em dia fico feliz em assistir a um filme que me representa 100%, e acredito que também a uma geração ansiosa. E fico mais contente ainda em poder dividir os meus relatos aqui com vocês também, sem o medo do julgamento, e sim pensando na rede de apoio que somos capazes de criar através das nossas características e anseios, que não, não nos diminuem, e sim engrandecem.
Beijos de lavanda,
Bebetinha
Impostores
Por Taize Odelli
Thiago Cozzato enganou várias pessoas e marcas dizendo que é ator contratado pela Record e faz parte do cast de Gênesis. Eu amei muito essa história que um (único, talvez) fã da novela revelou no Twitter. A farsa tem direito a montagens mal-feitas e uso de fotos de outros atores enquanto ele finge ser um vilão da novela — detalhe, o personagem que ele diz interpretar nem existe na Bíblia e na novela. Mas como ninguém vê novela da Record, tem gente que acredita nele.
Em 2018 o anúncio de um novo prêmio literário, o Babel Book Award, levantou suspeita de editoras, escritores, jornalistas e leitores desde o início. Por trás da farsa estava o escritor brasileiro Antônio Salvador, que durante a Flip daquele ano disse que tudo não se tratava de uma "performance artística". O "prêmio" contava com site para inscrição, patrocinadores falsos e um júri que não existia. Algo bem fácil de rastrear e ver, de cara, que não era um prêmio sério. Mas o responsável, claramento um charlatão, foi aumentando e aumentando a mentira até o ponto de inventar essa performance.
Marcos Bulhões se diz escritor. Bem, realmente, ele escreve, mas o que ele escreve é difícil de ser chamado de literatura. Não que não seja, mas para ser bem sincera aqui: é ruim demais. Mas para ele e seus 1,5 milhões de seguidores, ele está atrás apenas de Machado de Assis como o grande escritor brasileiro. Bulhões escreve "textos safados" manjados que são o sonho de toda mulher carente: tem tons de feminismo barato, discursos de autoaceitação e empoderamento, mas por trás disso está aquela aura de homem punheteiro que nunca saiu da adolescência. Mas as pessoas amam, e o ego dele cresce exponencialmente conforme a qualidade dos textos decai, porque sempre é possível ser pior.
Guilherme Maoli também usa do discurso do empoderamento da mulher para vender seu "trabalho", que consiste em cursos de masturbação guiada. Sim, é um homem querendo ensinar mulheres a se masturbarem. "Ensinar" é uma palavra forte, na verdade. Porque é óbvio que ele não ensina nada. Ele só aproveita da fragilidade e carência alheia e do seu corpinho musculoso para fazer dinheiro. Errado não está, mas não deixa de ser ridículo como ele se coloca no papel de salvador da autoestima feminina.
Jair Bolsonaro está na política desde 1989 — ano em que nasci. E durante a minha vida toda, ele não fez nada. Nem um projeto de lei aprovado. Nenhuma melhoria para o Rio de Janeiro, por onde foi deputado durante esses anos todos até ser… eleito presidente do Brasil. E como presidente, continua fazendo nada. Mentira, ele faz sim: ele consegue piorar o que já está ruim. Mas está lá, sendo presidente, longe de sofrer um impeachment. Longe de ser responsabilizado por todos os crimes que cometeu.
Cinco homens, cinco exemplos de pessoas medíocres que, de alguma maneira, enganam, se safam e continuam ganhando dinheiro com isso. Cinco homens que estão bem abaixo da capacidade de fazerem algo realmente bom, de terem talento, mas que não se deixam abalar pela mediocridade. Na verdade, nem enxergam sua mediocridade. E se considerando os bonzões, vão lá e fazem... e conseguem. Enquanto a gente, aqui, fica sofrendo se achando incapaz de lidar com as coisas mais mundanas.
Lembre-se bem desses homens na próxima vez que você se sentir uma impostora (ou um impostor). Você é muito melhor e capaz do que eles.
Péra que tem dica
Dicaize
Acabou de sair no Globoplay os dois primeiros episódios da série O caso Evandro. Sim, aquele do podcast.
Eu fiquei viciadíssima no podcast quando ele saiu lá em 2018, mas confesso: o número de episódios e as repetições de coisas que já tinham sido ditas me incomodaram muito. Aí acabei não ouvindo tudo, mas tava lá, sempre acompanhando de longe e ouvindo aquilo que era crucial — obrigada, amigos que faziam a triagem.
Agora essa pesquisa toda realizada pelo Ivan Mizanzuk virou série (e tem livro para sair também), e é outra coisa ouvir e ver as pessoas que estiveram envolvidas nesse caso, ver as reportagens da época, e uma narrativa que não é feita só por uma pessoa, rs. Serão liberados dois episódios por semana, e eu que já vi os primeiros digo com propriedade: vai lá ver.
Pod, po-pod, pod pod, podcast
É Nóia Minha? - A influenciadora Dandara Pagu e o jornalista e podcaster Alvaro Leme voltam ao programa, e dessa vez o papo foi cabeça: Você se aceita do jeito que você é? Durante a discussão, vimos que o buraco é muito mais embaixo. Vai lá entrar na Nóia com a gente!
O Calcinha Larga foi muito legal, principalmente porque eu amo a convidada! A atriz Fê Rodrigues é divertida, inteligente e simpática, a melhor amiga que gostaríamos de ter. Dá o play logo!
E no PPKANSADA tivemos um papo divertidíssimo sobre os clichês que amamos com a cantora e compositora Brunks. Ouve com sua tacinha de vinho na mão.
Beijão, falow?
Que ano, hein?
"Mas gente, é só maio."
É assim que nós nos sentimos, e apostamos que você sente isso também. Parecem que já fazem 84 anos que estamos em 2021. Mas vamo que vamo, porque ainda tem muita coisa pela frente, muita nóia para compartilhar, muita raiva pra passar. Tamo junte, tamo aqui.
Obrigada por estar aqui com a gente por mais essa semana, lendo essa newsletter, ouvindo nossos pods, compartilhando nossas loucuras por aí.
Beijão, hein
Nóis