Associação dos Sem Carisma #15
Como é que anda essa memória?
Vamos de jogo da memória de tudo aquilo que você mal lembra que existe de tanto tempo que já está trancado em casa? Dá até pra jogar com os filhos, olha que newsletter que pensa em todos, até nas mães! Saudades de abraçar uma árvore…
Tédio, primo da insônia, amigo da madrugada
Por Camila Fremder
A nóia da pinça durou bem uns vinte minutos, cutuquei a perna o tempo que aguentei a posição curvada e aí resolvi me alongar. Alongar é rápido também, não mata o tempo, então busquei ajuda no saco de polvilho. Lambi os dedos esfarelados quando encontrei o fundo do saco. Aparentemente o Tédio dá fome, tive certeza logo que me peguei virando o saco na boca, enchendo a cara de farelo de polvilho. Olha o que o Tédio pode fazer com você.
A unha até que tava bonitinha antes de ser roída. Que horas são? Eu pergunto. A voz que vem da sala grita: “Dez minutos a mais dá ultima vez que você perguntou”. Pelas minhas contas são onze da noite. Não encontro nenhuma série, programa de TV ou uma música boa o suficiente que me leve por alguns segundos para outro lugar, que me tire desse tédio. E ele tá aqui, sentado bem do meu lado, me olhando. Tédio, chegou algum e-mail aí pra mim? Tedioooo, troca de música, por favor? Té (sente a intimidade que chegamos), traz o meu celular aqui no quarto porque eu acho que ele tocou?
Pra quem não sabe, o Tédio é primo da insônia. Eu tava lendo com ele, quando ela chegou. Me fez levantar pra pegar um suco, acredita? Insônia dá sede. Deve ser porque ela fala demais, nossa como fala! Não tem como dormir quando ela tá aqui em casa. Logo que ela encontra o Tédio então, vão pondo a fofoca em dia, e eu sou sempre o assunto. Não demora muito e chega a madrugada, toda mal humorada, nem dá oi direito. Estamos os quatro sentados na sala. Sugiro uma partida de tranca, mas não quero nenhum deles como dupla.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha
Por Bertha Salles
Meu pai tem 75 anos. É pisciano, coronel da reserva, psicólogo, ex piloto de caça da FAB, e atualmente artesão na cidade de São José dos Campos.
Tem cinco filhos, três divórcios e agora está apaixonado pela sua última namorada.
Se você jogar Tatão Parque da Cidade no Google vai encontrar várias fotos dele sentado nos troncos que esculpe.
Ele é o senhorzinho simpático ao lado das esculturas, vou deixar uma foto aqui para vocês reconhecerem:
Nessa ele certamente estava falando mais que o homi da cobra (como de costume), por isso essa cara - Não consegue parar quieto nem para tirar uma fotuxa, ele não páaaara! Tem muita história para contar, sabe.
O meu pai é um cara que já viveu e viu bastante coisa na vida. Nasceu no final da Segunda Guerra Mundial, já morou em sei lá quantos estados do Brasil e já trabalhou em não sei quantos países do mundo. Ou seja, é viviiiiido!
Acho que é por isso que toda vez que eu falo com ele eu sinto tanta confiança e segurança. É como se a cada palavra que saísse da boca dele eu me apertasse em um abraço confortável e com a certeza de que tudo vai ficar bem. Afinal, se ele já passou por tanto, eu também vou conseguir.
É engraçado como a gente se apega a algumas coisas ou pessoas por nos passarem essa sensação tão boa.
Essa semana o meu pai me enviou uma foto usando uma máscara que a namorada dele deu para ele, e sugeriu que eu escrevesse sobre o uso de máscaras na News desta semana - sim, ele acompanha a News.
Mas quando eu comecei a escrever, acabei me distraindo e me perdendo em um sentimento bom.
Refleti e pontifiquei, e deu nisso.
Bom, tô com saudade e vou ligar para ele agora.
Beijins,
Bebetinha.
A receitinha de hoje vai ser:
Quando bater a bad ou se pegar um pouco insegura, dá uma ligada para alguém que te faça sentir bem.
Para passar o tempo refletindo sobre o tempo
Por Taize Odelli
Estamos apenas em abril de 2020, mas pra mim é como se já estivéssemos em 2021. Não parece que faz um mês que entramos nessa quarentena que não tem fim - e meu lado pessimista, que consiste em quase eu inteira, acha que não vai ter fim mesmo. Se passaram, sei lá, séculos. Que nem agosto, que dura para sempre. Ou julho de 2019, lembra como demorou para acabar?
Nossa percepção sobre o tempo é doida. Li uma vez um artigo na Folha muito bom falando sobre o presente, se ele existe mesmo ou não. Porque assim que eu pisco os olhos, o que vivia já é passado. E a próxima piscada será o futuro.
Gente, sim, tô doida, tô em casa, tô sozinha, e esse é o momento certo pra gente pirar nesse assunto. É por isso que vou indicar aqui algumas leituras sobre o tempo, teóricas e fictícias. Porque tudo o que queremos saber agora é quando vamos poder voltar a viver como vivíamos há um mês, ou o que será do nosso futuro daqui a um mês.
A ordem do tempo, de Carlo Rovelli
Rovelli é um dos principais nomes da divulgação científica atual. É autor de Sete breves lições de física, livrinho ótimo para quem é leigo mas gostaria de entender um pouco mais sobre o assunto - tipo eu. A ordem do tempo segue a mesma proposta, mostrando como o tempo é uma coisa complexa e, ainda, misteriosa. Nós existimos no tempo ou o tempo existe dentro de nós? Ele é contínuo, passado, presente e futuro, ou é tudo ao mesmo… tempo? Não sei se o livro vai te responder suas perguntas sobre o tempo, mas vai te fazer pensar bastante sobre ele.O mapa do tempo, de Félix J. Palma
Para quem curte histórias de viagem no tempo, esse é um dos livros mais legais que já li sobre o tema. Na era vitoriana, em Londres, uma empresa de viagens promete levar seus clientes até os anos 2000. Durante a leitura, você fica o tempo todo em dúvida se essas viagens são um golpe pra arrancar dinheiro dos ricaços ou se é tudo verdade mesmo. De qualquer forma, brinca com nosso desejo de voltar para o passado e de ir para o futuro.O fim da Eternidade, de Isaac Asimov
Falando em ficção científica, não pode faltar um dos mestres do gênero. A Eternidade é um lugar ~fora do espaço/tempo?~ onde todo o nosso futuro é controlado. Quem vive na Eternidade trabalha calculando todas as possibilidades de realidade e agem para que a raça humana não seja extinta. Mas um Técnico da Eternidade, a pessoa que viaja pelo tempo e realiza pequenas alterações para mudar a realidade, começa a questionar esse trabalho todo. É uma história bem daora para quem curte essa coisa de ler sem parar até terminar.
Se você se pegou várias vezes pensando sobre o tempo, saiba que não é o único e que muita gente fez isso antes - tipo os filósofos, que tinham um tempo danado para ficar por aí pensando. Então, sei lá, se sinta um filósofo, leia e reflita sobre isso. Vai fazer passar o tempo.
Pods? Podsim!
Teve papo sobre amigos imaginários no podcast dessa semana! Aliás, foi nosso episódio cinquenta, olha que amor! Cinquenta nóias, e eu ainda tenho tantas pra falar… Convidei minha ex-amiga imaginária e atual amiga real Monique Alfradique e descobri que ela é bem mais noiada que eu imaginava. Já ouviu? Clica aí que tá muito engraçado e eu sei que vocês estão precisando descontrair.
Falowww aí caras!
Mais uma news! Já estamos na décima quinta e parece que lançamos ontem. Aliás, tudo por aqui ultimamente parece que foi ontem porque todos os dias estão com a mesma cara, acho que só o clima de tensão que aumenta e eu já nem sei o que esperar para a próxima temporada da série Brasil. Ando preocupada, mas tentando me ocupar com trabalho e criança, acho que vocês devem estar na mesma. Fiquem bem, e mesmo se você estiver sozinha em casa, pensa que você não está sozinha, tá? A gente tá aqui com você! Olha eu te dando um tchau! Olha a Taize sorrindo pra você! Ceis viram a Bertha? Acabou de soltar um arrotinho de gás depois de dar um golinho no refri. A gente tá aqui, ninguém tá sozinho, ok?
bjs,
Noix