Associação dos Sem Carisma #24
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O Fantasminha camarada
Por Camila Fremder
Tem um programa no Discovery Channel chamado Assombrações. Acho que o nome já explica bastante coisa. Como eu tava de bobeira procurando o que ver, achei que tudo bem acompanhar a história do Mike, que sentiu um cheiro de fumaça vindo do porão bem no meio da madrugada, e que tudo certo a casa dele ser no meio de uma floresta, e poxa, mais legal ainda que a história é real.
De repente passou um vulto bem perto do Mike e nós dois gritamos. Meu cachorro me encarou, eu olhei ao redor com medo do que poderia ver, mas mudar de canal não era mais uma opção, agora eu precisava saber quem era o fantasma que morava no porão do Mike, e da onde, afinal, vinha o cheiro de fumaça.
Cobrindo parte do rosto com as mãos, vendo com apenas um olho, como se isso adiantasse alguma coisa, eu assisti Mike passar por poucas e boas na mão dos fantasmas. Eles acendiam as luzes da casa, batiam portas, quebravam pratos, arrastavam cadeiras, uma loucura. O programa acabou e não encontrei nenhuma explicação plausível, apenas constatei que o aconteceu com Mike poderia acontecer com qualquer outra pessoa, e isso me deixou um tanto quanto paranoica.
Meus ouvidos começaram a escutar mais do que o normal, a sombra do vaso de plantas da sala virou a silhueta de alguém me observando, o banheiro me pareceu um local distante e sombrio e qualquer espelho poderia refletir bem mais do que eu esperava ver. E foi aí que eu me peguei pensando: Será que não existe nenhum fantasma gente fina? Todo fantasma tem que ficar causando? Batendo porta, puxando pé, piscando luz? Não tem nenhum que lave uma louça pra você? Juro que eu ia assustar do mesmo jeito ao ver a pia limpa do nada. Imagina só, você vendo TV na sala e, de repente, começa a ouvir um barulho na cozinha, e quando você vai ver o que é, tem um café pronto pra você!?
Dizem que eles estão pedindo ajuda quando se comunicam com a gente, mas se eles conseguem abrir armários e quebrar pratos, não rola deixar um bilhete? Esse negócio de ficar piscando luz é um pouco infantil, não é não? Beleza, não achou a luz até agora e está preso do lado de cá, vamos jogar um buraco, uma tranca! Quer jeito melhor de passar o tempo? Na hora de "pegar o morto" a gente faz uma piadinha sem graça... Muito mais saudável. Só quero deixar claro para qualquer fantasma que não quero que entrem contato comigo, mas se realmente for o caso, por favor, não quebre minhas coisas e nem apareça atrás de mim no reflexo do espelho, ok? Obrigada.
Pelo direito de sentir
Por Isabela Reis
Outro dia, fui fazer uma reclamação que achei ser bem humorada e irônica no Instagram, e entre mil mensagens da galera rindo, uma única seguidora falou que eu “só reclamo” e eu tô há uma semana tentando não reclamar publicamente.
Mas é mesmo um problema reclamar? Eu detesto essa necessidade de estar bem o tempo inteiro. Fujo quando estou triste ou irritada e tentam me animar desesperadamente ou puxar assuntos variados para eu me sentir bem. Eu não quero me sentir bem o tempo todo.
A potência com que as redes sociais demandam essa falsa sensação de bem estar me deixa louca. Ainda mais em tempos de pandemia. É um jogo entre reconhecer a importância de ser real e honesta com quem te acompanha, e uma culpa tremenda de ser A negativona que vai baixar o astral de quem assiste.
Onde entra a sinceridade com os nossos sentimentos? Isso não deveria ser uma prioridade? Foram muitos anos na adolescência sem chorar porque era “coisa de gente fraca” e vários outros de terapia para derrubar essa construção. Gerações que cresceram com “engole o choro” e, não satisfeitos de engolir o próprio, querem obrigar os outros a engolir também. Eu quero ter o direito de não estar bem sem que isso seja um problema. Sem que haja grandes preocupações, mensagens imensas de força, comoção, perguntas e espanto de pessoas que não sabem lidar com sentimentos que transbordam.
Não sou uma pessoa contida e não tenho qualquer pretensão de ser. Eu adoro ver o povo reclamando. Adoro ver que fulana também não está bem, que sicrano teve um dia ruim e, nossa!, que alívio ver gente que sente. A vida não tá fácil. Mesmo. Não se cobrem, não tenham vergonha, chorem, fiquem péssimos, reclamem horrores. Quanto mais a gente sufoca, mais demora a passar. Desabafar e sentir são os primeiros passos para tirar do peito o que nos aflige. Nós conseguiremos ver harmonia no caos muito antes de quem finge que sempre esteve tudo bem.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha
Por Bertha Salles
Dia desses, na verdade antes de ontem, eu estava deitadinha na minha cama e pensei: "bom, é hora da naninha, vou dormir".
Mas é óbvio que, como boa Quarentener, todas as minhas nóias olharam para mim no mesmo instante e disseram: "NA-NA-NI-NA-NÃO! Vamos pensar na sua vidinha e em tudo que está te deixando ansiosa (leia com voz fofa)".
Comecei a pensar em absolutamente tudo - traumas de infância, carreira, lista de supermercado, na máquina de lavar que preciso limpar o tambor e por aí vai.
Pronto. Não conseguia mais dormir.
E para melhorar, eu ia menstruar em dois dias, o que não me ajudava em nada.
Bom, mas eu sou guerreira e não desisto nunca, e não ia desistir dessa naninha.
Peguei o celular e deixei uma playlist vibezinha massa e o isolei na mesinha de cabeceira, afofei o travesseiro e pensei: "agora vai".
Mas é lógico que isso não me adiantou de nada, continuei rolando de um lado pro outro na cama que nem um frangão de padaria (e que bela frangona, diga-se de passagem, risos).
Nisso tive uma epifania meio que misturada com uma crise, e resolvi abrir a minha gaveta da mesa de cabeceira, e dentro dessa gavetinha encontrei um saquinho com cartinhas, fotos e coisas afetivas da minha vida. E misturado a tudo isso tinha um terço que eu tenho desde criança, e eu não o via há muito tempo.
Só para contextualizar, eu nasci em uma família com um pai ateu e a minha mãe meio espírita/católica, mas não praticante. Nunca fiz catequese nem nada do tipo, e eu não sei por qual motivo que eu tinha esse terço. E ele era um terço neon, ou seja, 100% chamativo e específico, que ficava pendurado ao lado da minha cama.
Mas mesmo com todo esse contexto, eu lembro de muitas noites, quando pequena, onde eu estava com medo de noite, ou me sentindo ansiosa, agitada, de pegar esse tercinho, colocar na mão e dormir.
Lembro também quando os meus pais se separaram e eu ia viajar só com o meu pai de levar o tercinho, só para me sentir segura.
Enfim, nessa noite olhei para o terço, o terço me olhou e, assim, hoje em dia ele nem neon é mais, o coitado, e pensei: "será que eu pego ele para dormir?" Mas eu já sou adulta, né, pega mal, sei lá, mulher feita desse tamanho…
Ah, mas quer saber?
Sim, sou adulta, moro sozinha, pago os meus boletos, sou independente, mas nada me impede de segurar um bom tercinho e me agarrar a alguma coisa que me dê segurança para dormir, né não.
Peguei o tercinho, coloquei na mãozinha e pronto, finalmente consegui dormir que nem um anjinho.
Depois acordei pensando em como é bom a gente ter alguma coisinha, que seja um objeto, uma música ou até mesmo um sentimento, para nos agarrar e nos fazer sentir bem e segura.
Independe da idade ou maturidade, às vezes a gente só precisa se agarrar neles para conseguir dormir em paz.
Beijinhos,
Bebetinha
5 perfis literários para seguir
Por Taize Odelli
Já faz um tempinho que falo de livros na rede mundial de computadores (tipo, uns 11 anos, sou velha). E, curiosamente, tem muita gente que desconhece o conceito de IG Literário (ou Instagram Literário, ou Bookstagram, enfim...). E olha, não faltam pessoas legais falando de livros daora na internet, por isso pensei em usar meu espacinho nada carismático aqui para indicar alguns perfis bacanas para seguir e pegar aquelas dicas marotas de leitura - além de seguir o meu, é claro, dá aquela força pra eu conseguir o arrastinho pra cima, rs.
Literatamy - Pensa numa mulher talentosa: essa é a Tamy. Além de ter um perfil no Instagram maravilhoso, ela faz vídeos incríveis no seu canal no YouTube. As entrevistas com autores e editores são maravilhosas e ela dá ótimas dicas de autores nacionais. Quando eu crescer, espero ser inteligente como ela.
Livros que leu: Diários de Sylvia Plath; Dentro da noite veloz, de Ferreira Gullar; Os contos, de Lygia Fagundes Telles
Camilla e seus livros - Leitora que não leva desaforo para casa, a Camilla é uma das influencers literárias que mais me... influencia, hehe. Me indica livros maravilhosos, me faz pensar na vida, me dá umas broncas que me faz pensar muito. Que mulher.
Livros que leu: Torto arado, de Itamar Ventura Junior; Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak; Fahrenheit 451, de Ray Bradbury
Objeto Livro - O Rodrigo chegou com uma proposta diferentona no Instagram: além das resenhas, cada post traz também um objeto relacionado à história. O que me levou a pensar em um objeto para cada livro toda vez que eu leio. E as fotos que ele faz são lindos. Sem falar no gosto literário do moço que é 10/10.
Livros que leu: A cabeça do santo, de Socorro Acioli; O olho mais azul, de Toni Morrison; A metamorfose, de Franz Kafka
Book.ster - Você deve conhecer o Pedro. Se não conhece, é uma das poucas pessoas que ainda não sabe quem ele é. Um dos maiores perfis literários do Instagram, o Book.ster incentiva os seguidores a pegarem aquele livro há meses parado e fazer da leitura um HÁBITO DIÁRIO (é o mantra dele, hehe).
Livros que leu: Noites brancas, de Fiódor Dostoiévski; Kindred, de Octavia Butler; O filho de mil homens, de valter hugo mãe
Gabi Barbosa - Madrinha do meu caçula, o gato Bartolomeu, a Gabi tem um podcast literário maravilhoso que se chama Uma Leitura Toda Sua, onde fala só de autoras. Mas no Insta ela fala de tudo mesmo, dos outros livros que lê que dá vontade de sair logo para comprar. Vai lá seguir essa guria maravilhosa.
Livros que leu: Memórias da plantação, de Grada Kilomba; Terra estranha, de James Baldwin; Afetos ferozes, de Vivian Gornick
Tem ainda muuuita gente que adoro que posso indicar em outra newsletter, mas já anota esses nomes para quando quiser encontrar um livro novo!
Podcastzinhos do amor
A noia do Nóia foi falar sobre crises, porque sim, todo mundo está em crise, não é só você. Chamei Samuel Gomes, que é escritor, palestrante, publicitário, youtuber e já participou do episódio “Precisamos falar sobre diversidade” do Nóia no ano passado, pra debater comigo todas as suas crises. O papo ficou delicioso!
Aproveito para avisar vocês que Samuel ocupará meu Instagram a partir de sexta-feira à noite (amanhã) e ficará até domingo à noite. É de extrema importância dar visibilidade para as causas de igualdade racial, por isso espero que curtam, compartilhem e sigam o Samuca em suas redes sociais #vozesnegrasimportam
Já no Calcinha Larga conversamos com a artista, muralista e ativista Rafa Mon, mãe de David, uma criança LGBT. Falamos sobre liberdade, a nossa e a dos filhos. Foi um episódio bem emocionante, espero realmente que todo mundo ouça.
Beijinho, outro, tchau tchau...
Eu tô especialmente feliz com os podcasts dessa semana e com a newsletter de hoje. Então, apesar dos tempos difíceis, dos dias estranhos e das notícias ruins, hoje eu termino essa news sorrindo, espero que você sorria de volta. Obrigada por ler e por ouvir.
bjos,
Cami, Ta, Bertha e Bela <3