Associação dos Sem Carisma #34
Bingo da Sustentabilidade
Como o podcast dessa semana tratou do tema sustentabilidade, nós resolvemos criar esse bingo para incentivar todo mundo, inclusive nós mesmas. Tá mais que na hora de mudarmos nossos hábitos, não é mesmo?
Uma pessoa burra
Por Camila Fremder
Era junho de 2017, eu estava grávida de uns 4 meses (até hoje não sei fazer as contas da gravidez direito, porque é aquela confusão de semanas, e ainda dizem pra gente que ficamos grávidas por 9 meses, mas aí você começa a contar e dá 10 meses, ou seja, eu poderia na época estar de 3 ou 4 ou até 5 meses, não sei ao certo) e um recepcionista da academia que eu treinava (eu ia dizer “fazia ginástica” ao invés de “treinava”, apenas porque na realidade eu acho que quem faz um treino é um atleta, bem longe da minha realidade, mas como de um tempo pra cá as pessoas inventaram essa de dizer que treinam, então eu tô fazendo igual talvez pra me sentir mais aceita, ok?) e aí segue o diálogo:
- Oi, Camila, notei que você não aparece mais, aconteceu alguma coisa?
- Eu tô grávida.
- Mas a sua médica te proibiu de se exercitar grávida?
- Não.
- Então por que você não aparece?
- Porque eu tô grávida.
- Sim, entendi.
- Desculpa, eu tô muito burra grávida, não consigo pensar em nenhuma desculpa melhor.
- Ah, ok. Se mudar de ideia apareça.
- Eu não vou, eu tô grávida.
- Eu já entendi.
- Desculpa novamente, é muito confuso ser grávida.
- Beleza.
Ficar grávida é ficar confusa (certeza que a Bela, nossa colunista gravidinha, já percebeu isso), mas acontece que ando sentindo a mesma burrice da gravidez durante a quarentena. Não sei se é cansaço, se é a mudança de rotina, se são os dias todos iguais, mas quando eu achei esse diálogo da minha época de grávida eu me reconheci nos dias de hoje. Então, se você também está se achando uma pessoa burra e não está grávida, você não está sozinha. Ou você está grávida, vai saber, né? Faz o teste e me conta depois.
De repente, grávida
Por Isabela Reis
Associação amada, se alguém não viu no meu Instagram, trago notícias: estou grávida! Carreguei esse segredo por longos meses, mais do que os três habituais que as famílias levam para anunciar as gestações. Sinceramente, por mim, faria a Kylie Jenner e chegava depois de nove meses “então, gente, nasceu!”, meu espírito sem carisma poderia viver tranquilamente sem esse holofote. Mas não poder falar publicamente de todas essas transformações da vida estavam atrapalhando muito meu trabalho, porque né, o que dizer quando você não pode falar sobre a única coisa que passa na sua cabeça?
Uma gravidez e uma pandemia tudojuntoaomesmotempo. “Como está sendo?” é o que mais me perguntam. Teve medo quando o marido médico pegou Covid, frustração de ter que contar para os amigos e família por ligação de vídeo e ainda nem ideia se vai ter chá de bebê. Mas posso falar? Que alívio não ter mil pessoas encostando na minha barriga pela rua. Nunca tinha passado por algo tão esquisito quanto isso. Você está ali vivendo normalmente e do nada PÁ, uma mãozona no seu umbigo — por mais que essa mão seja da sua própria mãe. Parece normal pensar em pessoas tocando barrigas de grávidas, mas quando o bebê não mexe ainda nem você sente realmente que tem alguém ali dentro. Imagina você aí tomando seu café da manhã enquanto lê essa newsletter fresquinha e do nada: PÁ! uma mão na sua barriga. É de dar arrepio na espinha.
Apesar de sufocante na reta final, foi uma delícia viver alguns meses com esse segredinho. A gravidez me trouxe uma introspecção profunda, e preservar esse momento fora das redes foi muito importante. Por mais reservada que eu seja, nem lembrava mais direito como era ter algo da nossa vida que não está em lugar nenhum da internet, que nem o melhor CSI do stalker pode descobrir. Recomendo. Não só com gravidez, mas com qualquer grande projeto de vida que você esteja gestando por aí, seja um relacionamento, a criação dos seus filhos, um projeto profissional. Enquanto estiver revirando sua vida de um jeito que nem você entenda, se der, deixa quieto. A hora de contar é quando assenta dentro do eixo cabeça-coração — e às vezes isso demora mais do que três meses, por mais feliz e radiante que você esteja.
Para fechar nosso primeiro episódio de reflexões soltas dessa nova temporada da minha vida, quero mandar um beijo, um abraço, flores e uma massagem para todas as mulheres que trabalham fora e que precisaram seguir normalmente suas rotinas exaustivas nos primeiros três meses de gravidez com todo o enjoo desse período. Eu enjoei até pouco, não cheguei a vomitar, o pior durou três semanas, quando completei o primeiro trimestre passou totalmente, sequer acabei com uma cartela do remédio. Mas, meu deus, quando vinha… VINHA. Uma náusea incapacitante, dias inteiros de cama. Eu só pensava nas guerreiras que são obrigadas a tocar a vida normalmente com esse mal estar. É pior do que qualquer falta de carisma habitual, parece que toda sua alma e vivacidade foram sugadas para o magma da Terra.
A partir dessa vivência pessoal, aplaudo cada uma das que enfrentaram esse período sendo funcionais e amaldiçoo cada engrenagem do sistema que nega a elas um simples repouso. Aliás, tenho pego ranço de muitas coisas e várias outras que têm me deixado ainda mais sem carisma. Acompanhem.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha
Por Bertha Salles
Setembro começou, e com ele eu sempre sinto muito além do misto de frio de inverno com o início do quentinho da primavera. Acho que como o quente e o frio, para mim é um misto de sensações.
Eu demorei a entender o porque deste mês sempre me trazer esse sentimento e aprender a decifrá-lo. E lembro exatamente do dia em que descobri tudo isso.
Desde os 12 sofro com transtorno de ansiedade, algumas crises de pânico e transtorno alimentar. Na verdade, com essa idade fui fazer terapia e compreendi esses sintomas e o diagnóstico.
E parênteses: eu agradeço todos os dias da minha vida à minha mãe por ter me colocado na terapia com essa idade, tenho certeza que se não fosse pelo bom senso dela em me ouvir e tentar me compreender, e ao ver que não estava ao seu alcance, ter procurado uma profissional para me auxiliar nesses processos.
Tenho a plena certeza de que, se ela não tivesse o feito, a história aqui seria outra.
E falando em história, volto ao meu misto de sensações e um pouco mais afundo na minha e na dos meus antepassados.
Quando eu tinha um ano de idade, o meu avô faleceu. Depressão, em setembro de 1995.
Eu não sabia ou entendia isso, ou sabia sobre a sua data de morte, era muito novinha.
Até que um dia, em um almoço na casa da minha avó, finalmente falamos sobre isso, de forma ainda muito dolorosa. Eu já devia ter uns 16 anos.
Me senti estranha e confusa e impotente, de certa forma. Assustada também, nesse momento.
Setembro para mim já tinha outro tom, outro cheiro, outra sensação térmica, e confesso que ainda tem um pouco.
Mas hoje em dia eu penso e associo de outra forma, de um jeito em que a gente possa falar e tornar mais acessível esses assuntos sobre saúde mental, transformá-los.
Meu avô sofreu de depressão em silêncio, sem ninguém à sua volta perceber, e acredito que nem ele entendia o que era, e eu acredito muito que isso pode ter acontecido por não se falar sobre o assunto depressão e suicídio na época, era quase um tabu, e infelizmente ainda é um pouco.
E eu não julgo a dificuldade em falar sobre isso, eu só consigo falar e escrever sobre a minha saúde mental hoje em dia com 26 anos, e nunca foi ou é fácil. Hoje em dia é menos confuso, digamos.
Mas eu imagino que a gente consiga mudar isso, seja com o marco do Setembro Amarelo que abrange discussões mais abertas nas mídias sobre saúde mental, ou apenas falando e desmistificando entre família ou amigues, em espaços seguros.
E que possamos entender que, por termos questões psíquicas ou não, isso não define a nossa personalidade e não nos torna mais fracos de forma alguma. Também compreendi isso recentemente.
Então espero que o Setembro Amarelo, para mim (e espero que para os outres também), seja mais do que um mês, um marco no ano para se falar sobre o tema, mas sim para dar a oportunidade para falarmos mais sobre saúde mental e trazê-la para realidade do nosso dia a dia.
Ter e conviver com depressão e ansiedade são só uma partezinha do infinito que somos nós, e uma partezinha que não nos define e que, graças às deusas, pode ter auxílio e ajuda para superar, ou pelo menos reconhecer que ela existe ali e nos fazer viver de forma mais confortável.
E mais uma vez eu repito: ir ao terapeuta ou ao psiquiatra, ter depressão, ansiedade ou qualquer outra questão, não te define e não te torna mais fraco.
Eu já acreditei nisso por muito tempo, mas hoje em dia não me permito e não confio nisso por nenhum minutinho, E NÃO VOU DEIXAR VOCÊ ACREDITAR OU CONFIAR NISSO TAMBÉM, risos! <3
E esse mês para mim é isso, é para que ninguém nunca se sinta assim como o meu avô ou eu já nos sentimos.
Se cuidem e cuidem um dos outres sempre,
Bebetinha
Leitura como terapia
Por Taize Odelli
Faz pouco mais de um mês que eu comecei a fazer terapia. Já tomo remédio para distimia há dois anos — para quem não sabe, distimia é tipo uma depressão, tem os mesmos sintomas, só que são mais leves e duram mais tempo. Levando-se em conta que eu sempre fui meio “down”, eu demorei para procurar tratamento. Estou com 31 anos. Desde os 21, pelo menos, sinto que as coisas não estavam “bem”. Mas sempre fui levando, sempre fui conseguindo dar um jeito de levantar e ir para o trabalho todos os dias.
Durante todo esse tempo, a leitura me ajudou muito. Não que eu tenha tentado suprir a necessidade de ajuda com um texto de ficção, longe disso — plmdds, procurem PROFISSIONAIS. Só que nessa coisa de olhar para dentro, refletir, pensar no que estou fazendo da vida, procurar outras formas de enxergar essa vida, os livros tiveram papel importantíssimo.
Pois foi através deles que encontrei descrições para coisas que eu estava sentindo. Não sou daquelas que pensa que uma história boa é aquela com a qual a gente se identifique 100%. Eu gosto de ler sobre os outros, outros lugares, outros mundos. Mas é inegável que tem alguns livros que falam muito com a gente. Como foram alguns contos de David Foster Wallace ao descrever a melancolia e a tristeza. Como foi A redoma de vidro, de Sylvia Plath, ao retratar uma jovem promissora que estava tendo tudo, mas nada disso a fazia se sentir viva.
Quando estamos mal é difícil organizar as ideias. Primeiro porque nossa percepção está afetada por essa tristeza que faz com que tudo pareça horrível, sem esperança. E depois porque nossa cabeça é sim uma coisa complexa, não sabemos o que queremos e o que somos a todo momento, temos muitas e muitas dúvidas. E aí encontramos uma frase, uma história, que parece conseguir colocar em palavras de maneira clara isso que estamos sentindo. Ou pelo menos conseguem indicar um caminho.
Por isso sou fã da leitura e a enxergo como uma das coisas mais importantes que podemos fazer. Por isso a ficção é algo tão caro para mim. O poder que ela tem de nos colocar na pele do outro e, ao mesmo tempo, nos fazer olhar para nós mesmos é enorme. Então aí está mais um motivo para ler ficção: temos o entretenimento, temos o conhecimento e temos o conforto que ela pode nos trazer.
Dica vai, dica vem
Bertha
Como diquinha de hoje, vou deixar o perfil de um terapeuta que confio muito e atende com valores de terapia à preço social: @psialexbender
E também um Instagram para quem estiver passando por alguma situação e precisar de alguém para conversar ou desabafar: @sosamigodeplantao
Taize
A minha dica de hoje não será alimentícia. Também quero indicar alguns perfis que são, atualmente, os meus favoritos por motivos de: diversão garantida.
A gente sabe que o Instagram desperta certa ansiedade na gente. A casa do outro parece mais bonita. O outro parece estar lidando muito melhor com a situação da nossa POLÍTICA/ECONOMIA/CONJUNTURA SOCIAL do que a gente. E aí tem esses perfis que são a coisa mais bestinha e mais preciosa do mundo, porque despertam aquele sorriso instantâneo e tudo fica mais leve.
O primeiro é o @dailypurrr, um perfil que faz desenhos toscos de gatos todos os dias. Eu acho a coisa mais fofa do mundo e amo absolutamente esse perfil — e claro que já mandei foto de gato para eles desenharem, aguardando ansiosamente.
O segundo é um perfil que descobri essa semana e estou apaixonada pela genialidade do rolê. O @testesidiotas pega dois assuntos NADA A VER para fazer testes divertidíssimos tipo “É dissertação de mestrado ou é enredo de escola de samba?”. “É Chacrete ou é lutadora de MMA?” “É música dos Tribalistas ou é fragrância de Glade?” “É nome de esmalte ou é operação da Polícia Federal?” Bem, deu pra entender, né. Para todos os dias testarmos nossos conhecimentos em inutilidades e nos sentirmos bem com isso.
Isabela
Nesse momento de muita comida caseira feat. tentando ver séries para desligar a cabeça de todos os B.O. e falhando miseravelmente, trago duas diquinhas:
1º: FAÇA SUA PRÓPRIA MOQUECA.
Moqueca é super fácil de cozinhar, juro! Um desejo de grávida me fez aprender dia desses, e desde então já foram três moquecas por aqui. É basicamente cortar tudo, temperar o fruto do mar e jogar na panela. Não come frutos do mar? Faça moqueca de ovo, eu AMO! É um clássico do restaurante Porto do Moreira, em Salvador (mais uma dica). Aqui temos a versão que mais funcionou pra mim, é só seguir direitinho que dificilmente tem erro. Receita maravilhosa da Dadá, uma das maiores cozinheiras da Bahia.
2º: SÉRIE “INDÚSTRIA DA CURA” NA NETFLIX
Essa é daquelas que você fica igual o emoji com a cabeça explodindo. Quase caí para trás quando vi que nos Estados Unidos existem esquemas enormes de pirâmides com marcas de óleos essenciais. Sim, pirâmide! Aquelas reuniões que parecem cultos, as pessoas querendo a todo custo captar outras, a obrigação de comprar produtos para revender mesmo sem demanda. Com óleos essenciais! E os marombeiros que tomam leite materno na dieta para ganhar massa magra? Eu nem acabei a série ainda e já não sei mais lidar com esse planeta que mercantiliza tudo. Fique doida você também!
Tsacdop (tá escrito Podcast ao contrário, pra quem não entendeu a sacada. Não que esteja chamando alguém de burro aqui...)
Essa semana falamos com duas divas da sustentabilidade: Cristal Muniz, do Instragram @umavidasemlixo, e Luisa Matsushita, ex-vocalista da banda CSS e atual menina da roça que constrói a própria casa sustentável. Pencas de ensinamentos e um tapa na cara da gente a cada frase. Tem que ouvir. Duas vezes se puder.
O Calcinha Larga estreou sua segunda temporada, agora com o tema relacionamento com a psicanalista Vera Iaconelli. Falamos sobre dates furados e micos da hora H. Vai lá passar vergonha com a gente!
AGORA SIM FINALMENTE VOU DIZER QUE VEM COISA BOA POR AÍ
Alguns FBIs já encontraram o nosso Instagram da Associacão sem a gente nem dizer nada, mas como você é inscrito nessa news babadeira, contamos spoilers em primeira mão para os querides assinantes.
Toda segunda-feira teremos a fenomenal Entrevista Desmotivacional da Semana pra já começar com o pique daquele jeito. A nossa primeira entrevistada é a Sem Carisma mais carismática dessa internet: Lorelay Fox <3. Além disso, vamos ter o Diário da Grávida Sem Carisma com Bela Reis, Receitas Top com Bebeta, resenhas e lives livrísticas com Taize, e quadrinhos e tirinhas com a nossa artista e dona do visual Ale Kalko.
Mas espera! Você pode participar também! Toda quarta-feira sobe a famosa participação da audiência, onde você pode nos enviar uma dica em carisma, seja de livro, de série, de receita, uma foto do seu pet, uma foto sua, o que você quiser e que seja sem carisma, assim como eu, você e praticamente grande parte do Brasil, pois sem condições esse governo. Para participar, basta escrever para: associacaodossemcarisma@gmail.com ou lá no nosso Insta por inbox!
Espero que gostem dessa nossa nova jornada (eu precisava usar a palavra jornada em algum momento da vida).
mto bjos,
As mina da news