Associação dos Sem Carisma #52
Parabéns pra você, pra nós, pra todo mundo!
E tem coisa melhor do que comemorar aniversário sem precisar ver pessoas ou sair de casa? Como o nosso 1º ano de news é graças a vocês, aqui está o nosso presente, pode imprimir e pôr na parede de casa, você mereceu!
A gaveta da geladeira
Por Camila Fremder
Uns meses atrás eu ganhei uma geladeira nova de uma marca, quem me segue no Instagram deve ter visto porque eu divulguei a maravilhosa lá, e não, isso aqui não é um publi. Até cheguei a pensar que seria um anti-publi já que hoje, mais uma vez, olhei para aquela gaveta da geladeira onde moram as cebolas e fiquei muito triste, muito mesmo, mas acho que aquela gaveta, não importa qual seja a geladeira, é uma gaveta triste.
Quando dizem que a emissora tal deixou o artista tal na geladeira, eu o imagino dentro daquela gaveta. Encostado em uma batata com uma raiz de uns 4 centímetros, perto de uma cenoura murcha e uns tomates enrugados. Os cantos dessa gaveta têm sempre uma poeira suja de resto de legumes e casca de alho. É muito triste mesmo. Mas aí veio a geladeira nova e, naquela gaveta, uma luz de led especial, que segundo a marca (e eu juro mesmo que isso não é um publi) preserva mais os alimentos. A gaveta, que é transparente e iluminada até me enganou por algum tempo, me fez esquecer da tristeza que é morar ali e correr o risco de ser esquecido.
Mas agora eu assisto a constante decadência dos moradores dela dia após dia. A batata parece que olha pra mim e diz: "Eu sei que você está me vendo! Me tire daqui. Me pique, me refogue, me coloque no forno, eu estou acabando, você não percebe?". A cenoura agoniza a cada olhada indecisa que eu dou ao abrir a geladeira, "me salve", ela sussurra. Não sei se estou há muito tempo trancada em casa, mas eu vejo tristeza todos os dias dentro da gaveta da geladeira. Talvez eu faça uma sopa. Sim, eu sei, está calor.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha
Por Bertha Salles
Ontem eu tive um dia super cansativo.
Cheguei do trabalho às 18h30 e capotei no sofá por umas 2 horas. Daí é aquela coisa, uma preguiça de tomar banho, escovar os dentes, passar "os creme" tudo… Ó CÉUS, Ó VIDA! kkk
Demorei mais uma hora só para sair da mesma posição em que eu me encontrava, deitada olhando para o teto — famoso olhando para o nada e pensando fora Bozo, sabe?
Passada a leseira infinita, consegui vencê-la e por meu pijaminha. Logo pensei: à mimir!
Mas eu sempre gosto de tomar uma água geladinha e deixá-la ao lado da minha cama durante a noite, em caso de boca seca e essas coisas, né.
OBS: Só de reler tudo que eu escrevi aqui percebi que sim, sou uma senhora metódica que cheira a Chanel número 5, risos. Mentira a parte Chanel, o resto é verdade.
Quando me desloco e vou pegar até então o meu copo de água geladinha, me dou conta de que a eu do passado fui perfeita e pensei em mim no futuro, deixando uma bela garrafinha de água da Sallve (obrigada, @sallve) na geladeira.
Nossa, foi uma felicidade tão grande ter essa percepção de que eu tinha pensado em mim,
era só o que eu precisava para dormir em paz: saber que a eu do passado se preocupou com a eu do futuro.
E que assim eu siga para mais momentos imbecis, porém satisfatórios, como esse.
Beijos para o eu do futuro,
Bebetinha do passado, kk.
Eterno toque de recolher
Por Taize Odelli
Já peço desculpas por trazer aqui um assunto meio bad, nada relacionado a livros.
No último fim de semana assisti a minissérie The Ripper, na Netflix. É sobre assassinatos que aconteceram no norte da Inglaterra nos anos 1970 e que durou muito tempo até a polícia conseguir pegar o cara. Uma daquelas boas séries de real crime que você fica chocada com cada novo acontecimento.
O que mais me deixou encucada com ela, porém, é a questão da segurança da mulher. As vítimas desse "estripador do século XX" eram todas mulheres. Quando os primeiros corpos apareceram, a polícia trabalhou com a teoria de que o assassino ia atrás de prostitutas, pois as odiava, tal qual Jack, o estripador. Isso por que muitas vítimas foram mortas em áreas onde a prostituição era alta — cidades decadentes, com grande índice de desemprego, mulheres que não encontravam outra alternativa que não essa para sustentar os filhos.
Conforme os anos passaram e outras mulheres foram mortas, ficou bem claro que as prostitutas não eram o alvo principal do assassino. Jovens estudantes, universitárias, mães etc. acabaram perdendo a vida brutalmente. Mas, para a polícia, a teoria do ódio às prostitutas persistia. Por quê?
Bem, a resposta não é muito diferente do que diríamos hoje: o velho sexismo. As autoridades que cuidaram do caso tinham aquela visão deturpada do que é uma "mulher decente" e uma "mulher da vida". Aquela visão de que as mulheres tinham que ser obedientes e ficar dentro de casa. Essa foi a "solução", aliás, que as autoridades encontraram quando o medo saiu do controle: decretar toque de recolher para todas as mulheres da região, o que deixou elas bem putas. Como eu, a vítima, tenho que ficar trancada em casa enquanto o assassino está livre leve e solto por aí?
Fiquei tão irritada quanto as mulheres daquela época. Cogitarem fazer as vítimas se trancarem como prisioneiras, espalhando o medo entre elas, enquanto os homens — e o assassino — podiam circular livremente. E hoje continuamos vivendo do mesmo jeito: desistindo de fazer o que queremos porque sempre tem uma voz na nossa cabeça dizendo "é perigoso, você pode ser atacada, você não pode ir sozinha".
Comecei a pensar como seria se, de repente, decretassem um toque de recolher só para os homens — em uma realidade já livre de Covid, claro. Em como eles ficariam indignados por serem impedidos de ficar fora de casa até a hora que quiserem. E em como eu, como mulher, me sentiria tão mais segura, tão mais livre, podendo sair na rua sabendo que não encontraria nenhum homem pelo caminho. Não que mulheres sejam santas e fofas e não cometam crime algum. Mas, ainda hoje, é ver um homem na rua que já me encolho de medo, fico em alerta pensando em como poderia me defender.
Neste último fim de semana, aliás, saí com Carla (a amiga vizinha) para dar aquela caminhada fitness na rua. Mal começamos a andar e tivemos que escapar de uma tentativa de assalto. Na hora já pensei "nunca vou sair na rua de novo". Por mais que a gente tenha escapado — e rimos muito da situação, porque era o assaltante mais idiota do mundo —, fica essa coisa na cabeça de que, se eu estiver no mesmo lugar outra vez, algo ruim vai acontecer. E como é horrível passar a vida toda pesando cada detalhe de cada coisa que você vai fazer ou para onde vai, analisando quais são os riscos que você vai correr ao colocar o pé pra fora de casa. E aí a ideia do toque de recolher para homens me voltou.
Óbvio: seria ridículo um toque de recolher só para homens. Seria tirar deles a tal liberdade de ir e vir. Mas não parece que, de certa forma, nós mulheres vivemos num toque de recolher interno? Sempre pensando na merda que pode acontecer quando estamos na rua, no transporte público, no trabalho. E não é ridículo isso? Não é horrível que, para muitos, isso seja normal, e até desejável, porque se não estamos na rua, não corremos risco? Eu só queria saber quando esse toque de recolher finalmente vai acabar.
Lá vem a dica dica aqui dica acolá
Izzetips
Desde que chegou um cachorro na minha casa, parece que a sujeira no chão aumentou 120%. Não que os quatro gatos que eu já tinha antes não soltassem pelo, claro que soltam. Mas um dog grande deixa as coisas um pouquinho mais… desesperadoras. Aí, como uma boa dona de casa (kkkrying sou horrível), fui atrás de alternativas pra me ajudar na limpeza e… Me rendi ao Mop.
Faz umas duas semanas que chegou o Mop Spray aqui em casa e eu estou apenas amando. Ele vem com um reservatório para você colocar água e o desinfetante da sua preferência, um pano de microfibra removível e lavável e só. É tão simples e tão prático. Agora saio pela casa espirrando desinfetante no chão e passando o Mop o tempo todo. Sem precisar de balde com água, pano de chão, torcer pano, essas coisas. Me sinto plena demais na hora da faxina agora. Fica a dica.
BEBEDICASH
No final do ano assisti ao filme Soul, da Disney com a Pixar, e senti um quentinho no meu coração tão grande que era tudo o que eu precisava sendo brasileira em 2020.
O filme conta a história de um professor de música que vive em Nova York e sonha em entrar para uma banda de jazz.
E nessa busca pelo seu sonho, ele é tão fissurado que acontece uma tragédia, digamos assim, que o faz repensar a sua vida e os seus reais objetivos, e se é que eles devem existir ou serem prioridade mesmo.
Nisso, ele acaba repensando sobre tanta coisa que a gente acaba não dando valor no dia a dia, que são os momentos mais corriqueiros e que nos fazem sentir presente, sabe?
Tipo comer uma comida gostosa, ouvir uma música, dar risada com as pessoas que você gosta.
E eu pensei muito em como a gente acaba se dedicando tanto, às vezes, a uma única realização profissional ou pessoal, que acabamos não nos atentando ao processo e também a um fato que achei crucial para o desfecho.
Ao conquistar o que você tanto deseja, não necessariamente isso vai te trazer uma felicidade plena, completa. Não existe um ponto de virada, um ponto chave de realização plena.
Achei a mensagem linda e necessária, e é óbvio que chorei horrores.
O filme com o primeiro protagonista negro da Disney rendeu vários feedbacks e críticas, alguns que fiquei refletindo depois também sobre a questão da representatividade, e como mulher branca, eu com toda certeza tive uma outra percepção, então também quero ouvir de vocês o que acharam de Soul para conversarmos!
Para, para, para! (Leia com a voz do João Kleber) Podcasts voltando!
Mais um É Nóia Minhaaaaa! Finalmente voltamos das férias, eu já tava morrendo de saudades de gravar e receber o feedback de vocês a cada novo episódio. <3 O dessa semana foi sobre Dates Ruim (pausa pra você rir lembrando de algum seu), e tive duas convidadas maravilhosas: Nuta Vasconcellos, que é facilitadora de autoestima e tem o Instagram @chadeautoestima, e Victoria Yamagata, que produz conteúdos belíssimos na net! Vai lá rir das nossas histórias!
Calcinha Larga já voltou com as gravações, mas o episódio inédito entra na semana que vem e, spoiler: Andreia Sadi <3 Musa!
Beijão, bebê, tchau tchau
Um ano que somos um grupo unido e livre em sua falta de carisma, e isso é muito lindo. Quando eu noiei (porque eu realmente sou boa nisso) em criar uma newsletter, eu fiquei como medo que fosse apenas uma pira passageira minha, que não ia durar mais que 3 ou 4 meses. Mas encontrar essas colunistas perfeitas e uma audiência tão engajada me permitiu comemorar esse um ano, por isso, muito obrigada <3
PS: Samuca acabou se enrolando nos jobs e questões pessoais e não conseguiu entrar nesta edição. Samuca, nós entendemos, não tá fácil não…
bjs,
Cami, Bertha e Taize <3