Associação dos Sem Carisma #101
Ser Sem Carisma no calor
O verão começou em dezembro, mas como o Brasil não está para brincadeira nunca, vivemos um pequeno inverninho bem durante as festas de fim de ano. Quis aproveitar a praia e a piscina? Não conseguiu.
Aí voltamos a trabalhar e o que acontece? CALOR. CALOR INFERNAL. Sem tempo para ir pra praia, sem aquele amigo com piscina disponível para te oferecer um tchibum.
Fazer o quê, então? O jeito é aproveitar o calorzinho de um jeito bem sem carisma: em casa e com as armas que a gente tem.
Minha nóia
Por Camila Fremder
Olha, eu preciso confessar que eu tô meio assim, sabe? E eu tô usando esse termo "meio assim" porque como eu sei que ceis são tudo um bando de noiados, eu tô tentando pegar leve, mas gente, o ano mal começou e eu já tive bronquite, herpes, refluxo e piolho. Sim, piolho, não me bastasse vírus, agora também tenho pragas. Aí, pra me acalmar, eu tô pensando da seguinte maneira: que Janeiro seria o meu mês de coisas chatas e, aí sim, no resto dos meses a coisa vai ser suave. Ao mesmo tempo, eu não quero te noiar com o contrário, caso o seu mês de janeiro não tenha sido uma bomba.
Aí pronto, formou-se a nóia: será que existem x chatices por ano? Existe um limite de coisas chatas pra acontecer com a gente? Eu nesse momento vou optar em pensar que sim, porque me agrada muito achar que o mais chato já foi. Ou seja, o que eu vim falar pra você é que escolher como as coisas vão acontecer infelizmente nós não conseguimos, mas escolher como vamos noiar com isso nós super podemos. A nóia é minha, a nóia é sua, nessa parte a gente que manda.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
Se você não está cansado, você não está bem.
Pois é, o ano mal começou, mas como eu disse no texto anterior, ele só parece uma parte II ruim e que não precisava existir de 2021, ou seja, seguimos exaustos.
Mais da metade dos nossos amigos estão com COVID, e os poucos que restam, com influenza. O mundo tá quente, chuvoso e bizarro, mas em meio a tudo isso um fogo de juventude se acendeu diretamente no meu cool, mesmo que exausta.
Só que é difícil ser jovem, beber e ir trabalhar no dia seguinte quando se está perto dos trinta.
Cada ressaca, parece que você está a ponto de morrer, fica com piriri por dias, pressão baixa, burrice kkk. Enfim, um mix de horror com tremedeira.
E esses dias resolvi sair durante a semana, beber vinho com algumas amigas e um ex-ficante que eu tinha uma queda de 80 andares, mas estava curada, aparentemente.
Moral da história: acordei no dia seguinte na casa dele, com os dentes roxos de vinho e atrasada para o trabalho, fui direto do jeito que eu tava trabalhar. Enfrentei o dia com o peso de um caminhão nas costas, mas enfrentei. E, por fim, estou há dois dias me recuperando da noite. DOIS DIAS! D-O-I-S D-I-A-S!
E agora sim, a moral: quando a gente fica mais velho precisamos ser mais seletivos e assertivos com quando vamos sair, que dia da semana, com quem e por quê. Afinal, você não vai ficar só com ressaca moral e física por um diazinho, mas sim ficar dias se rastejando por aí, assim como estou agora escrevendo esse texto.
Beijos de ressaca moral,
Bebetinha
Deus me dibre
Por Taize Odelli
Essa semana tive um dos piores sonhos que eu poderia ter: tinha engravidado. Desde criança eu sabia que não queria ser mãe. E quando minha vida sexual começou, meu maior medo era engravidar. E esse medo continua até hoje.
Ele é maior, até, do que pegar alguma doença sexualmente transmissível. Eu consigo me imaginar convivendo com o tratamento de uma doença. Com esse cuidado. Ou até com o fato de que eu poderia morrer por causa dela – ainda vou falar sobre como enxergo a morte aqui. Mas com filho… Não.
Me dão medo as mudanças no corpo, as dores que eu provavelmente sentiria, o desconforto. Mas mais ainda, meu medo é de outro ser humano, um ser humano que depende só de mim. Então, ao vislumbrar a possibilidade de uma gravidez (o que nunca me aconteceu de verdade), meus primeiros pensamentos são: 1- como abortar; 2- quem poderia cuidar dessa criança caso eu não consiga abortar. Porque eu, eu sei bem, não seria capaz.
Faz alguns dias que o papa Francisco falou que era egoísmo não querer ter filhos. Que essa era a coisa mais importante na vida, é o nosso objetivo aqui: amai-vos e multiplicai-vos. Continuar povoando a terra, sabe? Bem, para ele faz sentido dizer isso: sem pessoas, não há cristãos. A Igreja Católica vem perdendo fiéis, mas no lugar de reformar a Igreja e torná-la mais inclusiva para angariar novos fiéis ou recuperar os perdidos, ela prefere que a gente continue colocando filhos no mundo para forçar uma religião a eles. Esse é um argumento que eu sempre ouvi, também: você está sendo egoísta ao se recusar a ter filhos.
Não estão errados. Eu sou egoísta mesmo, e não só em relação a filhos. Sou egoísta com minhas coisas, meus bichos, meus gostos, minhas vontades. Só que ter um filho não deixa de ser, também, um ato de egoísmo. O egoísmo está presente em todos os lugares. É egoísmo achar que colocar outra pessoa no mundo vai te fazer uma pessoa mais completa. É egoísmo ter filho achando que ele vai salvar seu relacionamento. Esse é um argumento, aliás, que me salvou muito nessas discussões sobre maternidade. Por que você quer ter filho? Pensa aí, e veja como os motivos são sempre relacionados a você. Somos indivíduos, e como indivíduos temos sim uma boa parcela de egoísmo dentro de nós.
Li sobre esse egoísmo primeiro no livro Maternidade, de Sheila Heti, onde ela reflete sobre querer ser mãe ou não. Uma mulher que nunca pensou em ter filhos, mas que, próxima dos 40 anos, começa a reavaliar essa ideia. Acabei de ler sobre esse egoísmo também em O que você está enfrentando, de Sigrid Nunez, onde um personagem tem uma visão bem catastrófica do futuro da humanidade, e considera que é praticamente imoral colocar um ser humano no mundo para sofrer no futuro com as mudanças climáticas — mas eu não chego assim tão longe, tá? Por mim, vocês podem continuar a ter filhos à vontade.
Só não é para mim. Só não é o que eu gostaria de ter na minha vida. Para mim, pessoa física, colocar um filho no mundo seria submeter uma pessoa inocente ao sofrimento eterno. Seria traumatizar alguém desde o seu nascimento. Se eu, a possível mãe, já não suporto a vida e a realidade em muitos momentos, acho que talvez eu não seria a melhor escolha para criar alguém, né? Só penso na conta da psicóloga e psiquiatra que esse pequeno ser humano teria que lidar pelo resto da vida.
Contudo, entretanto, porém, vejo a beleza na maternidade. Entendo o amor e a sensação de completude que as outras mulheres – E ALGUNS HOMENS, cof cof – sentem. E considero essas pessoas corajosas demais, primeiro porque têm esperança de fornecer a alguém uma vida boa, segundo porque se sentem capazes de fornecer isso. E eu não me vejo capaz de nada disso. Filho não é brinquedo, não é um filhote de pet fofinho, é uma coisa seríssima, e acho que muita gente não leva tão a sério assim quando se encontra diante da possibilidade da maternidade. Então quem leva a sério e realmente deseja isso merece parabéns demais.
A questão é que não sou otimista quanto ao futuro, nem quanto ao presente. Já enxergo a vida como um fardo que eu gostaria de não ter, mas tô aqui, vivendo, porque é a única coisa que eu sei fazer. Sim, tem coisas lindas no mundo, me admiro e encanto com elas vez ou outra. As paisagens, o modo que o mundo funciona, os fenômenos naturais, as próprias criações humanas que são, sim, surpreendentes. Eu só não tenho esperança de que a gente vai conseguir, em algum momento, resolver nossos problemas, problemas que vão afetar diretamente as pessoas das próximas gerações. Então, além do meu medo e meu egoísmo, outra coisa que não quero é submeter alguém a esse futuro apocalíptico. Então: Deus me dibre.
PS.: Antes que eu seja mal interpretada: NÃO SOU CONTRA CRIANÇAS. Movimento childfree meu cu.
Com diquinhas nós trabalhamos
Dicaize
Na última semana estive 100% entretida com a série Yellowjackets, que tem no Paramount+ (Prime Video). A série acompanha um grupo de jogadoras de futebol de uma escola norte-americana que, indo competir em outro estado, acabaram sofrendo um acidente de avião no meio de uma floresta e ficaram lá por tempo demais até serem resgatadas.
A série alterna o passado (a vida no meio do mato) com o presente, com algumas sobreviventes já adultas tendo que lidar com um mistério: alguém está mandando mensagens para elas sobre o que aconteceu durante o acidente (spoiler: certo canibalismo). Ninguém sabe realmente como elas sobreviveram e elas guardam esse segredo a sete chaves, então né, tem mó treta para acontecer.
Eu amei demais a trilha sonora de Yellowjackets, cheia de sucessos dos anos 1990 e bandas punks femininas que dão aquele climinha riot girl.
Então fica dica, vejam que é boa!
Originais CaFremder Inc.
No É Nóia Minha? teve uma rodada de dates ruins com a audiência! Se ainda não ouviu, vai lá ouvir, faz favor.
O Calcinha Larga recebeu a atriz Ingrid Guimarães, maravilhosa, ajudando a gente a explicar o que é um machista consciente. Ouve aí!
De Casamento às Cegas à PPKANSADA! As ppkers falaram com Dayanne Feitoza sobre ser areia demais para o caminhãozinho deles. Ouve ouve!
Reage, coloca um pijama
Entenderam tudo de ruim que aconteceu com Camila Fremder? Por isso não conseguimos contar com a presença dela na edição #100 da semana passada. Mas estamos aqui, felizes pelo retorno e confiantes de que o pior já passou mesmo. Já podemos dar janeiro por encerrado? Gostaria.
Obrigada por ler a gente mais uma vez. <3
Ah, e se você perdeu o resultado do Prêmio Personalidade Sem Carisma 2021, está aqui no nosso Insta. Obrigada a todos que votaram!
Beijos,
Nóix
Pra mim, nada é mais sem carisma do que o calor. Odeio a sensação de estar sempre suado. Vai uma dica: a gente tem essa sensação porque os braços ficam suados e a gente encosta o braço nas coisas, na roupa, na mesa etc. Então, quando eu vou lavar a mão, eu lavo também o braço. Não é a resposta para todos os problemas que o calor causa, mas ajuda a diminuir a sensação nojenta de estar grudando.
Um abraço sem carisma.
Olá sem carismerrrrss! Tudo bem? (pergunta retórica. ninguém tá bem) fique chocada com a semelhança do meu pensamento com o a Taize, mas temos algo que nos difere. Apesar disso, eu quero ser mãe. Faz sentido? Não. Eu nem sei explicar como essa contradição existe em mim, mas está aí, martelando na minha cabeça. Mesmo eu tendo zero perspectiva de mundo melhor, minha vontade de ser mãe aumenta cada vez mais. Mas é isso, né... como mulher barroca que sou, cabe a mim lidar com minhas contradições e torcer pra dar minimamente bom. Deus me help!