Associação dos Sem Carisma #104
Para enfeitar seu dispositivo
A gente sabe que você curte uma artezinha bonita para colocar no celular. Nada contra quem coloca foto de casal e selfie como plano de fundo do celular – TUDO CONTRA –, mas que tal você demonstrar toda a sua falta de carisma só com um papel de parede digital?
(Todo mundo sabe que só é socialmente aceito ter na tela de bloqueio foto de filho ou de bicho.)
Preparamos mais uma série de wallpapers desta associação para você usar e abusar. Aproveite. <3
Chuva de dicas
Por Camila Fremder
Depois da volta às aulas de Arthur, eu finalmente consegui voltar a consumir um pouco de conteúdo (TV, livros e podcasts) que não tenham a Galinha Pintadinha como protagonista. E, em comemoração à isso, trago várias dicas pra você que, como eu, precisava desse momentinho que tantos chamam de autocuidado, mas eu chamo de vida "adulta".
Podcast: Pistoleiros
Estou no terceiro episódio de cinco no total. É assinado pelo jornalista Rafael Soares e traça um panorama sobre o cenário da pistolagem no Rio de Janeiro. No primeiro episódio em que ele começa a falar sobre o crime de Marielle Franco, eu até pensei que já sabia muito a respeito do caso, mas em 20 minutos de episódio percebi que não, que a coisa estava indo muito mais fundo. Tô realmente viciada e achei muito bem produzido.
Série: Made for Love (HBOMax)
Na série acompanhamos a fuga de uma menina que se casou com um bilionário (como se ele fosse o dono do Google). Ela foge dele porque o "made for love" é um chip que ele pretende instalar na cabeça dos casais pra eles saberem o que o outro está pensando, ou seja, na minha opinião, um pesadelo, e na dela também, por isso ela foge. Tô amando.
Livro: A última noite, de Catherine O’Connell ( Editora Planeta)
Maggie está de casamento marcado e decide sair numa despedida de solteira com seis amigas, mas no dia seguinte uma delas é encontrada morta num parque. Ela foi assassinada, e aí a coisa começa cheia de mistérios e segredos.
Tá aí pra ninguém botar defeito, um pouco de tudo pra você curtir seus 30 minutos de folga (tô sendo irônica, merecemos bem mais).
Não é fome, é memória
Por Isabela Reis
Essa semana comprei um bolinho Ana Maria. Vi na prateleira do mercado e fui arremessada pra minha infância. Era um dos meus lanches favoritos junto com Trakinas, Passatempo, Nescau de caixinha, Bisnaguinha, Nesquik. Nossa, só de escrever a boca enche. Comi aquele bolinho que ainda tem exatamente o mesmo gosto que lembrava, mas que me pareceu muito menor — ou minhas mãos e minha fome que cresceram?
Fiquei pensando que espero que meu filho não coma esse tipo de coisa tão cedo. Depois que você mergulha no conhecimento sobre alimentação e ultraprocessados, não dá pra desver. Acho maluquice esse papo de que o bebê é coitado porque não come algo que ele nem sabe o gosto que tem. Enquanto der pra segurar a melhor alimentação possível, lá estarei. Mas confesso que depois fiquei pensando que putz, imagina daqui a uns anos dividir um bolinho Ana Maria com meu filho. Tipo uma vez no ano ou na vida. Contar pra ele que “na sua idade, eu lanchava isso na escola! Que horror! Eram mesmo outros tempos, filho.”
A comida me acessa muitas memórias. Na gravidez, tive muito desejo. A maioria de comidas que lembravam minha infância ou adolescência. Comi coisas que não comia há 10 anos. Parecia que estava me despedindo daquela Isabela, atravessando um portal. Uma necessidade louca de sentir aqueles gostos mais uma vez. E cada mordida que dava num bolinho Kidlat, lembrava da casa que meu pai morava quando comprava toda semana pra mim. Até a canjica da minha falecida avó eu inventei de fazer. E veja: eu me alimento muito bem! Não gosto de lanchar, meu negócio é pratão de comida. Mas essas tranqueiras específicas ficam em um lugar no meu coração que não é do alimento, é do afeto. Ou seja, pior ainda, né? É somente emocional. Mas assim eram os anos 1990 e 2000.
Eu lembro da atmosfera de carinho e cuidado das infinitas vezes que minha avó me encheu de couve-flor pela boca e cada florzinha tinha um nome diferente. De todos os pratões de arroz, feijão e omelete que meu pai já fez pra mim tarde da noite. Tanto quanto lembro de cada bisnaguinha com requeijão e leite com Nescau que ele levava na cama pra eu tomar de café da manhã. Eu dou pulos por dentro quando vejo meu filho se acabando de comer uma manga. E fico viajando ao pensar quais memórias com as comidas menos saudáveis — mas recheadas de história — ele vai construir. Quero ser mãe Bela Gil mas essa semana fiquei imaginando ele comendo um brigadeiro daqui uns anos. Fico me achando hipócrita, controversa. Mas a vida não é mesmo linear.
Ps: por favor, conta pra mim, pra gente, quais comidas — saudáveis ou não — que levam sua memória lá loooonge na infância!
É foda ser otária
Por Taize Odelli
Eu sei, tá todo mundo falando sobre O golpista do Tinder. Gravamos essa semana um episódio pro PPKANSADA falando, inclusive, sobre golpe e mencionando o filme. Se você ainda não viu, trata-se de um cara que aplicava golpes em dezenas de mulheres se fingindo de bilionário, mas no final acabava arrancando todo o dinheiro delas. Ele vivia no luxo só com esse tipo de golpe. E não é que as mulheres que caiam nessa cilada eram burras. Porque ele fazia tudo bem direitinho, tinha álibis e maneiras de "confirmar" que tudo o que ele dizia era real.
Essa semana também, comecei a ler Inventando Anna, de Rachel DeLoache Williams. Este é sobre Anna Delvey, uma jovem russa que enganou toda Nova York se fazendo passar por herdeira milionária. O livro, inclusive, foi escrito por uma das pessoas enganadas por Anna, sua melhor amiga na época. (Aliás, hoje estreia na Netflix uma série com o mesmo título, baseado nesse livro e escrita pela Shonda Rhimes.)
Primeira coisa sobre os golpistas: eles são carismáticos. Você cai facinho no papinho deles porque o carisma vai te contagiando. É aquela coisa: você está rindo, e de repente já tá comprando tudo o que a pessoa diz.
Segunda coisa sobre os golpistas: essa é uma "profissão" bem lucrativa. O golpista existe porque o otário existe, e há muito mais otários no mundo do que gente ligeira. Eu, por exemplo, sou uma otária, e já caí em golpe na rua por ser uma – o cara usou da minha culpa branca, e ainda penso às vezes que tudo bem ele ter me aplicado o golpe, ele mereceu essa vitória porque ele é uma minoria ameaçada diariamente. Olha que grande otária.
Vendo essas histórias, lembrei de um ensaio de Jia Tolentino em Falso espelho. No texto "A história de uma geração em sete golpes", ela fala sobre vários golpes recentes que sofremos individualmente ou como sociedade. Tipo o cara do Fyre Festival – que eu me divirto toda vez que lembro dessa história –, Sophia Amoruso e sua energia "girl boss", Zuckerberg e as redes sociais e até a eleição de Donald Trump. A questão toda do texto é que o golpe tá na moda. Ganha quem dá o melhor golpe nos outros. Como ela diz, "o golpe está no DNA dos Estados Unidos [e digo aqui também no do Brasil], que foram fundados sobre a ideia de que é bom, importante e até mesmo nobre reconhecer uma oportunidade de lucro e tirar dela tudo o que se puder tirar". Ouch.
Eu, particularmente, tenho mixed feelings com isso. Fico com inveja da esperteza e cara de pau da pessoa, queria ser assim mais malandra, pois o golpe compensa. Veja só o golpista do Tinder: ele continua aí. Mas também fico puta por alguém ter perdido algo ou ter sido humilhado por uma dessas pessoas. Porque eu sei que estaria na pele delas. Eu queria ser golpista, mas eu sou boazinha demais. Otária demais.
E o que não é a vida hoje do que um grande golpe? O golpe de que ser adulto é bom demais (nunca caí nesse), o golpe de que você precisa ter X coisa para ser feliz, para pertencer a um grupo ou para, sei lá, pagar de descolado. O golpe de trabalhar para enriquecer o patrão. O golpe de entrar num relacionamento porque é isso o que as pessoas normais fazem. Quantas pessoas não lucraram na pandemia encontrando essas brechas?
Porra, é foda ser trouxa. Mas não consigo ser diferente.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
É impressionante como coisas completamente pequenas vindo de pessoas aleatórias podem estragar o nosso dia por completo.
Quase que ironicamente, nessa semana falei no podcast Bom Dia, Obvious! sobre fracasso, e sinto que os últimos dias foram de puro suco de fracasso na minha vida, e aí quando a gente tá nesse mood parece que qualquer coisica pode arruinar totalmente o dia e o nosso humor.
O alívio cômico pode ser bom nessas situações, como disse no podcast, eu uso do meu fracasso e dos meus causos para entreter os amigues e meus afilhades também, mas tem dias em que nem rir é possível.
E por ser do jeito que sou, se não estou rindo, fazendo piada, parece que não sou eu. Mas no fim sou eu sim, só que de um outro lado que eu não me permito ser por medo de ser chata com os outros. O que é uma idiotice tremenda.
Lembro de que quando eu era menor, alguém me ensinou que eu não poderia descontar os meus dias ruins ou frustrações nas pessoas, o que eu concordo em partes hoje em dia. Concordo em partes porque a partir do momento em que a gente esconde o que sente, está automaticamente fazendo mal somente a si mesmo e não colocando os seus limites para o outro.
Hoje eu me chateei super com um comentário de um colega no trabalho, e automaticamente fechei a cara, eu já estava tendo uma semana merda, e a partir do momento em que eu ''fechei o tempo'' (amo essa expressão), automaticamente todo mundo ficou me perguntando se estava tudo bem e o que eu tinha, sem respeitar o meu espaço e o meu silêncio.
Fiquei me culpando por estar em silêncio e de cara fechada, até que eu vim aqui escrever e percebi que estava tudo bem, que é importante a gente se manifestar de alguma forma.
É o famoso e totalmente cliche “é sobre e tá tudo bem”, porque é sobre estar na merda e se sentindo meio merda, e tá tudo bem, a gente pode se sentir assim que depois vai passar.
Mais dicas
Dicaize
Queria deixar outro perfil do Instagram que amo para vocês. É o Funkeiros Cult, que reúne o melhor do funk e o melhor da literatura. Quem faz o perfil é o Dayrel Teixeira, que arrasa com seu Juliet também no YouTube.
Pô, só vai.
Belatips
Falando em bolinho Kidlat… A quem interessar possa, eu passei a comprar essa iguaria na Shopee! Não vejo mais vendendo em mercado há anos, mas por lá compro logo a caixona com 15 unidades, kkkkk. Recomendo!
Podcasts
Você é consumista? No É Nóia Minha? teve Chico Felitti e Joanna Moura para falar sobre isso. Ouve lá!
No Calcinha Larga recebemos Laura Vicente para falar sobre a importância de ser cara-de-pau. Dá o play!
E no PPKANSADA teve Valentina Bulc para falar sobre insatisfação na vida da mulher junto com a Bertha, Bela e Taize. Vai lá ouvir também!
Ciao
Não vai faltar entretenimento pra você nesse fim de semana com todas essas dicas que a gente entregou hoje, hein?
Pois é, essa é a nossa maneira de fazer você ficar em casa para evitar gastar dinheiro na rua ou ser alvo de algum golpe. Porque como diz Casimiro, todo dia um malandro e um otário saem de casa.
Fiquemos espertos.
Beijos,
A Gente.
Eu estou em Angola e a minha bolha gosta muito da vossa newsletter ❤️
Adoro as newsletters 😍😍! Vocês são maras!!!