Associação dos Sem Carisma #119
Unfollows que unem
Amizades surgem nas coisas em comum que temos um com o outro. Gostar das mesmas bandas, dos mesmos filmes, dos mesmos livros… Ou então NÃO gostar das mesmas coisas. Pois aqui, nesta associação, o ranço mútuo une, e une muito.
Aqui vai um checklist de coisas que todo mundo gosta, menos nós, só pra gente se sentir mais juntinho como grupo. <3
O amor pelo mesmo ódio
Por Camila Fremder
Eu amo muito gravar o Roleta do Unfollow, episódio recorrente que acontece no meu podcast É Nóia Minha?, onde as pessoas correm risco revelando algo que todo mundo ama, menos elas. É um episódio muito especial porque quando a gente encontra alguém que compartilha do nosso bode, praticamente nos sentimos abraçados. Odiar igual é um grande avanço para uma nova amizade acontecer.
Por isso, vira e mexe eu lembro do meu primeiro namoro. Eu tinha 14 anos, ele 15, e nós dois gostávamos de Nirvana. Pronto, aquilo era o suficiente. Ficamos juntos por 8 meses, o tempo de aparecer uma nova banda que não agradava os dois. Aí eu entendi que ser jovem seria aquela eterna (que aos 40 anos já entendi que não tem nada de eterna) busca pelo em comum. Agora, envelhecer é mais complexo, o filtro tá no limite, naquilo que não suportamos, que evitamos, que somos totalmente contra. Achar alguém com o mesmo ódio é uma prova de amor.
Por onde for, quero ir contigo
Por Isabela Reis
No último final de semana, levei meu filho ao seu primeiro festival de música. No dia que completou um ano e cinco meses, a comemoração foi ao som de Marina Sena, Majur, Gilberto Gil, Kamasi Washington. Tem vida melhor? Se tiver, Martin desconhece. As fotos da festa ficaram ótimas™ e tem dias que fico vendo e revendo o albinho que postei no meu Instagram. É um misto de alegria de lembrar como ele adorou assistir os shows e muito, MUITO orgulho dos pais que eu e Raphael nos tornamos.
É claro que nosso tempo sem filho é necessário, desejado e, ufa, de vez em quando conseguimos realizar. Dito isto, como também é maravilhoso poder levar meu filho pra conhecer o mundo, pra se encantar pelo que me encanta, para experimentar todas as sensações que o mundo reserva, para, no mesmo dia, explorar todos os cinco sentidos: ouvir músicas que ele ama ao vivo, pisar na grama, comer dadinho de tapioca pela primeira vez (e amar), sentir o cheiro de todas as comidas dos food trucks presentes e ver muita gente diferente, dançando, em movimento, rindo, se divertindo. Não há nada no mundo que me faça mais feliz do que trazer meu filho pro meu mundo.
Junto com o convite pra você se permitir levar seu filho pra todos os rolês (e incentivar que outras famílias levem também!), deixo aqui algumas dicas:
Certifique-se antes de que crianças podem entrar no evento. Dependendo da cidade ou horário, algumas medidas do Conselho Tutelar podem restringir o público infantil.
Em caso de bebês, leve um sling, canguru ou mochila evolutiva. Nós levamos carrinho, mas com tanta gente circulando, não foi a melhor ideia.
Sempre leve canga ou toalha para forrar o chão ou grama e sentar para descansar.
Não tenha vergonha ou receio de levar marmita, lanches, frutas ou o que mais a criança comer. Dica: não é o momento de apresentar alimentos novos ou coisas que façam muita sujeira. Escolha alimentos que a criança já ame e que não tenha molhos, caldas e afins.
Se possível, vá em grupo. Essa é a hora de convidar os amigos e família para o rolê. São mais olhos para cuidar e mais braços para dar colo — e os pais ainda ganham uns minutinhos de sossego.
Peça ajuda e se oferecerem, aceite! Você não precisa pegar uma fila imensa se tem prioridade, não precisa carregar carrinho em escada sozinha. A internet engana. Na vida real as pessoas são mais solícitas do que imaginamos.
Reserve o dia seguinte para descansar. É fato, sair com criança é missão, cansa 2000x mais. Evite lotar a agenda de compromissos no dia seguinte.
Planeje a saída. Se o evento for com muita gente, a hora de ir embora é sempre caótica. Não dá pra ficar na fila imensa do Uber com criança exausta. Tem estacionamento perto? Dá pra ir de carro? Rola marcar com um motorista parceiro?
RELAXE. Sim, será um dia de sair da rotina. Dormir mais tarde, comer fora de hora, experimentar um lanche na rua, pular soneca ou dormir no colo. Talvez a noite de sono depois de tanto estímulo seja caótica. Mas eu juro que vale a pena. Sair da rotina faz parte, se permitir viver outras coisas também é importante! É somente um dia no meio de centenas que vocês cumpriram tudo à risca.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
Se apaixonar emburrece?
Fazia muito tempo em que eu não me apaixonava. Desde 2017, sei lá.
Assim, tirando as minhas paixonites que aconteciam a cada dois crushes, onde eu só tomava no cool, levava ghosting, não era correspondida e vivia tudo na minha mente, sozinha, kk.
Tô falando de se apaixonar e ser recíproco mesmo, e olha… Êta, que coisa boa!
Falei igual aqueles senhores do interior que ficam sentados na rua vendo a vida passar, e é exatamente assim que eu me sinto, como esses senhores.
Tranquila, tranquila, e feliz da vida, só acenando para quem passa. O que é bom, mas às vezes um pouco preocupante.
Eu tinha esquecido que, quando a gente se apaixona, fica mais difícil fazer certas coisas, tipo pensar. KKKKKKK
É, pensar! Pensar em qualquer outra coisa que não neste sentimento delicioso que faz a gente suspirar fundo sempre que lembra.
Tá vendo? Eu já esqueci o que eu ia falar, porque suspirei aqui. RISOS
Mas enfim, fiquei pensando sobre a paixão e em como os artistas que compuseram as melhores canções de amor, na maioria das vezes, as escreveram quando levaram um pé na bunda, ou foram traídos, ou qualquer desgraça relacionada.
E eu sei o por quê!
Porque escrever e produzir conteúdos quando se está apaixonado é muito difícil, entende?
O seu mundo fica de fato mais colorido e belo, e é muito difícil algo te estressar, deixar pra baixo ou afetar. Afinal, você está protegido, embebedado, burro, vivendo dentro da bolha da paixão.
E eu confesso que é uma delícia estar vivendo dentro dessa bolha, mas não consigo filosofar nada mais além disso.
Agora vou voltar a suspirar… Ahhhhhhhh!
Sou doida sim, e daí?
Por Taize Odelli
Li Kim Jiyoung, nascida em 1982, de Cho Nam-Joo, para o meu clube de leitura — se chama Clubize, e se você não conhece, vem dar um bizu aqui. Esse livro apresenta personagens que ainda tentam se desprender do que o patriarcado exige delas: que sejam esposas, mães, cuidadoras, que façam sozinhas tudo o que envolve a casa e os filhos. A história começa quando Kim Jiyoung passa a responder ao marido com outras vozes, vozes de todas as mulheres que estiveram presas a esses papéis. Ou seja: ela ficou louca.
Mas o que é ser louca? Bem, na visão masculina — e, claro, patriarcal — a mulher não precisa de muito para ser taxada de louca. Basta não fazer o que eles querem. Basta dar uma resposta atravessada. Basta chamar a atenção para os comportamentos lixo que a gente tem que aturar. A ex-louca é aquela que não baixou a cabeça para o namorado ou o marido. É aquela que puxou briga, meteu o dedo na cara e apontou os problemas. Isso na concepção ampla da frase "minha ex é doida" (às vezes, tem umas doidices mesmo, mas vocês sabem a que tipo de pessoa me refiro). Ao ouvir uma dessas, você já sabe: ela não é doida coisa nenhuma. O cara é que é um saquinho de estrume.
Conversando com as meninas que estiveram no encontrinho para discutir o livro, pensei que ser louca é sobreviver. Nós precisamos, sim, ser loucas, já que eles insistem em dizer que somos. Não podemos ter medo de sermos taxadas de loucas, porque é isso o que eles querem: que tenhamos medo, e medo leva à obediência. Eu não sei vocês, mas eu não quero obedecer homem algum.
Por isso eu quero dizer aqui para todas vocês que ser louca é bom demais. Ser louca é impor os limites em uma relação que sempre começa desbalanceada. O homem ainda "vale mais" do que uma mulher — o homem branco, cis, hétero, sempre é bom lembrar. A mulher louca se coloca contra tudo o que esse homem acredita, levanta barreiras para não ser constantemente atingida pelo machismo estrutural. Ser louca com a família, com o trabalho, com futuros parceiros. Ser louca é se proteger.
Se formos resgatar o pensamento do século XIX que jogava mulheres em hospícios por terem orgasmos, ser louca é sentir, gozar, ter desejos próprios, se virar sozinha, se satisfazer sozinha, sem precisar de um homem para se sentir plena e completa. Quantas mulheres não foram taxadas de loucas por causa de seus desejos e impulsos… E do jeito que a coisa anda, não estamos muito longe de um retrocesso que pode nos jogar novamente para dentro desse hospício. Só que essa loucura que temos é libertadora, não é e nunca foi um problema pra gente. Só é um problema para eles, os homens. E plmdds, quem se importa com homem?
Ah, eu vou ser louca sempre. Eu vou me fazer de doida sempre que necessário. Eu vou espernear e berrar toda vez que eu sentir que algo não está certo. Sem medo de ser taxada de doida, louca, histérica. Porque se é isso o que os homens acham da gente, aaaaah mas é isso mesmo o que eu vou ser.
E vamos de dicas…
Dicamila
Pois é, resolvi me juntar nas dicas da semana porque assisti uma série muito boa. The Offer, da Paramout+, conta a história de como aconteceu o filme O Poderoso Chefão. Repassa o começo de vários atores legais, mostra como a máfia reagiu na época, enfim, muito boa, inclusive o figurino. Ainda tá rolando aquele esquema de sair um episódio por semana, mas já tem uns 6 no ar, pode maratonar.
Dicaize
Já devo ter recomendado essa série de vídeos aqui há muito tempo, mas voltei a assistir alguns episódios e quero resgatar essa dica: Puppet History, quadro bem bacana do canal Watcher.
É uma mistura de game show com aula de história com teatro de bonecos feito pelo Shane Madej, aquele mesmo que era do Buzzfeed Unsolved. Encarnando o Professor, ele conta causos incríveis da história mundial e ainda mete as melhores perguntas no meio da "aula" para seus "alunos" responderem: Ryan Bergara, seu grande parceiro de YouTube e sempre perdedor da taça de jujubas, e algum outro convidado. É engraçado, é divertido, as músicas que encerram cada episódio são maravilhosas e grudentas. Enfim, me mato de rir e ainda aumenta meu repertório de histórias absurdas para soltar no meio de uma conversa qualquer.
Belatips
Se você é uma brasileira com acesso à internet que ainda não ouviu o episódio do Mano a Mano, podcast do Mano Brown, com participação de Sueli Carneiro, você está absolutamente errada! Mas tudo na vida tem conserto, termine essa newsletter e vai ouvir AGORA! Que aula de Sueli, uma das maiores intelectuais desse país! Direta, sarcástica, dando esporro no Mano Brown (sim!!). Ela fez TUDO nesse episódio. Perfeita e impecável.
Vai podcastzinho?
É Nóia Minha?
Pois é, mais uma Roleta do Unfollow entregue com sucesso para a gente compartilhar nossos ódios. Só ouve.
Calcinha Larga
O episódio dessa semana foi com o nosso trio maravilha: Camila, Helen e Tati. Sim, só elas mesmo. Vai lá ouvir essa conversa tudo!
Ppkansada
Tá chegando o dia dos namorados e bate a dúvida: iiiih, o que fazer com aquele lance? Lelê Martins ajuda as ppkers a discutir esse assunto. Ouve aí!
Indiscutível
Pois ele foi finalmente discutido! O penúltimo episódio da primeira temporada tem Camila e Déia discutindo o indiscutível durante uma hora. Dá o play!
Em breve nos reencontraremos
Neste mesmo canal (seu e-mail), neste mesmo dia (sexta-feira), neste mesmo horário (a partir das 7h30), e com esse time sem carisma que não vê a hora de contar as novidades que estão vindo.
SIM, ESTE É MAIS UM VEM AÍ!
Aguardem, tá maravilhoso.
Beijos, se cuidem, tá?
Camila, Bertha, Isabela e Taize