Casal Sem Carisma: o match perfeito
Já que o Nóia dessa semana tratou das nóias de casais, resolvemos iniciar essa newsletter hoje exaltando o casal sem carisma. Sim, é importante um equilíbrio no nível de carisma de um casal, por isso há muitos não carismáticos que estão com os carismáticos – que acabam absorvendo boa parte da exigência de simpatia e saco para as pessoas.
Mas vamos falar a verdade: ter um parceiro ou parceira sem carisma como você é bom, né. São várias vantagens, e aqui vão algumas delas.
Mande pro seu mozão sem carisma para celebrar esse amor. <3
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Por Camila Fremder
Te dou duas opções pra ler esse texto: Só o que está em negrito ou ele todo. Se você está cansada, leia a versão em negrito.
Abro os olhos (nariz da criança está escorrendo, pego o inalador, brigo pra que ele faça direito, saio correndo faço um pão e um leite pra ele ainda sem ter conseguido fazer o meu xixi, assoo o nariz, troco a roupa dele, saio do quarto dando ordem pra que escolha a meia e o tênis enquanto finalmente vou ao banheiro).
Faço xixi (já pondo a pasta na escova de dentes dele, começo a gritar pelo nome, ele volta sem tênis ou meia, escovo os dentes, ele reclama, sobe no banquinho pra fazer o bochecho enquanto eu me limpo, molha toda a manga da blusa, volto pro quarto dele e troco por uma seca, visto a meia e coloco o tênis).
Levo até a escola (não quer sentar na cadeirinha, eu converso, explico que precisa, ele reclama, eu vou prendendo o cinto, ele diz que precisa fazer xixi, tiro da cadeirinha, levo até o banheiro do térreo, faz xixi, mas se distrai olhando pro nada, visto a calça e desisto de lavar as mãos com medo que molhe a manga).
Volto pra casa (estou exausta, descabelada e com medo de ter cistite por ter segurado o xixi demais. Tenho 9 grupos do WhatsApp me chamando, em meia hora tenho o primeiro call.. São 8h05 da manhã).
Não vou ser mãe
Por Taize Odelli
Eu já escrevi alguma vez aqui nesta newsletter sobre esse assunto, mas já que faz tempo e que um monte de gente nova chegou aqui, vou falar sobre isso de novo. Não vou ser mãe. Não quero, não vou, não tenho vontade, não é meu sonho, meu desejo nem nada disso. Sei disso desde criança.
Mas não, não sou desse movimento child free. Crianças são fofas, me deixam meio envergonhada, mas acho-as divertidas e bonitinhas e é engraçadinho passar um tempo com elas. Eu só sinto que não tenho emocional para aguentar ser mãe. Pela pressão social, pelas mudanças no corpo e na cabeça, pelas violências que muitas mulheres grávidas sofrem ao fazer o parto. Não é pra mim MESMO.
Tem, também, a questão filosófica da coisa. Colocarei mais uma vida nesse mundo que já está cagado para a maioria das pessoas? Que tipo de país essa criança vai encontrar? Com quais pessoas ela irá se envolver? Será que a educarei para ser uma pessoa boa ou ela será má? Fornecerei um ambiente de crescimento que a deixará mentalmente sã ou ela será tão perturbada quanto eu? Sei lá, já acho que viver é um fardo, não quero impor isso a mais ninguém.
E aí chego na questão política. Sim, minha escolha de não ser mãe também é política. Porque nessa porra de sociedade, o que se espera de uma mulher é que ela dê muitos filhos. Muitos futuros trabalhadores e consumidores. Quanto mais gente, mais crescimento! (Aaaaahmmm, acho que não.) Na segunda-feira, a gente acordou com a notícia de uma juíza de Santa Catarina negando o aborto a uma menina de 11 anos que engravidou após um estupro. Mãe e filha procuraram o hospital para realizar o procedimento LEGAL em casos como o dela (num hospital universitário federal, ou seja: o dinheiro do nosso impostinho foi pra pagar gente que negou um atendimento que é direito da gente). Os médicos se recusaram a fazer. Entraram na justiça para conseguir o que já é de direito delas, e ouviram um "você aguenta mais um pouquinho"?
Eu fiquei puta. Eu fiquei com uma raiva que eu nem sabia que existia — e olha que eu fico com raiva constantemente. Minha vontade era pisar na cara dessa juíza desgraçada que acha mais de boas uma menina de 11 ser mãe do que a ideia de abortar um feto que essa criança sequer pensou em ter. Porque ela foi forçada. Porque ela é uma CRIANÇA.
E eu tenho lugar de fala, viu? Como catarinense pensante, não são poucas as pessoas lá que pensam igual a essa juizazinha aí. Essa negação da humanidade, esse atraso em sua mais esplêndida representação. E sabendo que muitas pessoas de lá são assim, sei também que nada vai acontecer com essa criminosa. Porque crimes, nessa história, foram cometidos pelo estuprador, pelos médicos que se recusaram a fazer um procedimento previsto em lei, e pela juíza e promotora que derrubaram mais um tijolo de esperança na humanidade de um muro já em ruínas. E se algo acontecer, essa escrota de pedigree ainda sai ganhando, sendo afastada com salário integral (atualização: pouco antes do caso vir à tona, ela foi PROMOVIDA e partiu para Brusque, que é, aliás, bem na região onde cresci. Ela vai ser bem acolhida lá.).
Não, não vou ser mãe. Me recusar a engravidar é a minha maneira pessoal de protestar contra isso tudo, de me rebelar contra o controle sobre o meu corpo. Não vou não vou não vou.
Ps.: Eu não consegui encaixar nesse texto, mas viram Pantanal semana passada? O jeito que todo mundo ficou tentando convencer a Juma, que nunca quis ter filhos, a dar um Marruazinho para a família de Zé Leôncio? Puta que pariu, viu.
Ps2.: A gravidez da menina foi interrompida depois de recomendação do MPF. Ainda bem.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
É muito engraçado como em algumas relações a gente parece estar dentro da mesma casa, mas com pontos de vista completamente diferentes.
Eu tô aqui, vendo a rua da frente, e você pode estar ali, no quarto, vendo o prédio de trás, mesmo estando dentro do mesmo lugar, do mesmo ponto de partida.
Quando a gente se relaciona também pode acabar sendo assim, estamos juntos, mas cada um pode estar tendo uma perspectiva completamente diferente do que está acontecendo ali, do que o outro está vendo.
E é isso que me assusta, me dá um medo danado. Ainda mais em se tratando de mim, uma pessoa que gosta de ter controle de tudo, inclusive das suas próprias emoções, e, às vezes, até certo ponto, do outro.
O que é humanamente impossível, inviável e não faz o menor sentido, afinal o outro, está em um universo completamente a parte do seu. Isso é o meu lado racional falando.
Mas e quando a gente se envolve em um relacionamento e cada um está tendo uma visão diferente?
Aí dói, machuca, dilacera cada pedacinho, é!
E no fim, cabe a nós, a você — e, aqui no caso, eu — ir lá, sozinha, com toda a minha perspectiva — que é diferente do outro — recolher cada caquinho que sobrou do que se quebrou, colar e talvez fazer igual aos japoneses, que colam uma peça quebrada e colocam ouro por cima, sabe?
Por sinal, acho que é bem isso.
A gente acaba tirando de uma relação quebrada o que é nosso, junta, coloca ouro e segue, sozinho, construindo a nossa casquinha, a deixando mais forte e poderosa, assim como o ouro.
Por mais bonita que seja essa metáfora, ainda não consigo aceitá-la e absorvê-la. E é cansativo pensar em se recompor, reinventar e ainda sair mais forte de tudo isso.
Ainda dói e está quebrado, mas logo mais eu tenho certeza que volto com ouro por cima.
Dicaaaaaaaa
Dicaize
Terminei Ruptura (ou Severence, para os anglófonos) na última terça e baaaaah. Que série hein. E QUE FINAL DE TEMPORADA EU QUERO MATAR O CRIADOR POR ME DEIXAR NESSE ESTADO.
Para quem não pegou essa dica antes, Ruptura é sobre um grupo de pessoas que fizeram um procedimento no cérebro que faz com que elas não se lembrem de nada do que fazem no trabalho quando estão fora dele – e, consequentemente, não se lembram também da vida fora do trabalho quando estão nele. Parece uma ideia maravilhosa, mas aí a série vai mostrando como tudo isso é macabro. Fora as questões filosóficas existenciais que surgem. Boa demaaaaais, apenas vejam.
Ah, deixa eu dar outra dica?
É o podcast A mulher da casa abandonada, do Chico Felitti, que está apenas maravilhoso. Ele conta a história de uma mulher que vive num casarão decrépito em plena Higienópolis, e descobre que ela é uma fugitiva lá dos EUA — por ter escravizado sua empregada que foi com ela e o marido para lá.
Já está no terceiro episódio, toda quarta-feira sai um novo, e olha, é daquelas coisas que você anseia por ouvir mais.
Pois venha de podcast
É Nóia Minha?
Falando em Chico Felitti, ele e seu cônjuge, Renan, participaram do episódio sobre nóias de casal. Vem ouvir!
Calcinha Larga
Beijar alguém é opção? Vem ouvir o papo com a atriz Alice Wegmann com nossas calcinhers.
Ppkansada
Como tá a vida, tá organizada? Se não, vem ouvir o papo com a Rebeca Rosa, especialista em organização, com nossas ppkers desorganizadas.
Beijos Invernais
O inverno é tão sem carisma que ele chegou e está calor. Quer dizer, calorzinho.
E metade do ano passou, né menina? Que coisa… Já aconteceram tantas coisas que é como se estivéssemos chegando no fim do ano — poderia ser, né.
Para encerrar esta news, só queremos te lembrar que nosso caderninho Sem Carisma está bombando, e se você ainda não comprou o seu, está perdendo. Vem aqui no site da Marisco saber mais!
Beijos invernais,
Camila, Taize e Bertha
Compartilho muito do pensamento da Taize. Cada dia vejo mais m**** no mundo e fico aliviada por ter decidido não ter filhos. Ainda acredito na mudança, mas penso que não viverei para testemunhá-la.