Censo Sem Carisma: Roubada
A Associação dos Sem Carisma tem a honra de apresentar o Censo Cem Carisma, com os dados mais importantes sobre nossa nação cansada.
Para inaugurar esta novidade da nossa associação, fizemos a vocês algumas perguntinhas sobre se meter em roubadas, que é um dos nossos grandes medos e motivo de ficarmos em casa — em casa não há roubada, em casa só há paz.
Confira os resultados do Censo Sem Carisma: Roubada, realizado entre os dias 29 e 30 de junho de 2022.
Quanto aos motivos que levam até a roubada, notamos um alto número de associados que não sabem se previnir deste fenômeno. 48% dos entrevistados são os culpados pelas próprias roubadas.
Sobre o que fica depois da roubada, notamos uma baixa quantidade de pessoas que concordo com a frase “roubada não forma caráter", mostrando que a roubada tem, sim, lá no seu fundo, uma função social.
Com os resultados mais equilibrados, a terceira pergunta dá conta que o brasileiro sem carisma não deixa sua fama de lado: ri, mas ri de nervoso. Ri chorando. Ri xingando. Apenas ri. Importante notar, porém, que a globalização vem se espalhando e, apesar de menor adesão, Fazer a Egípcia tem um número considerável de adeptos.
Até o próximo Censo Sem Carisma.
O que aconteceu com o Facebook?
Por Camila Fremder
Hoje, por algum milagre ou espasmo, o meu dedo clicou o app do Facebook. Ainda nem sei porque tenho esse aplicativo no meu celular, nunca entro. Mas, entrei. Dei de cara com um vídeo de um velhinho deitado na cama e uma enfermeira ao seu lado. Reparei na legenda: "O que você vai ver nesse vídeo é inacreditável". E tava lá, o velhinho deitado e a mulher toda de branco.
A legenda não para e enquanto você assiste uma enfermeira, apenas sendo enfermeira, e frases como "Repare agora no que vai acontecer!" aparecem o tempo todo, mas não acontece nada. Em um dado momento, a enfermeira pega um travesseiro e começa a andar na direção do velhinho na cama e meu coração dispara! Eu falo em voz alta: "Não! Não é possível! Ela não vai fazer isso! Por que eu tô vendo esse vídeo???". Mas ela não faz nada demais, apenas acomoda o braço do senhor naquele travesseiro.
Depois, um círculo verde pisca na tela mostrando produtos que estão dentro de um armário do quarto. Ela pega um deles, a legenda volta: "Veja o que vai acontecer!". E minha cabeça pensa em mil coisas bizarras: "Meu Deus, é veneno! É remédio pra dopar ele!". Mas ela só devolve o produto no armário de volta e nada demais acontece.
Começo a adiantar o vídeo, nisso eu já perdi uns 8 minutos olhando uma enfermeira e um velhinho. Corro pro final do vídeo e ela continua cuidando dele. Aparece a frase: "Ela se importa com ele". É tipo um vídeo pra mostrar como o velhinho é bem tratado, mas você passa o vídeo inteiro (que eu adiantei uns 5 minutos) achando que algo muito horrível vai acontecer com ele.
Se você, assim como eu, não passa pela timeline do Facebook faz muito tempo, continue assim, coisas muito estranhas acontecem por lá. Mas que bom que o velhinho tá bem, né?
Elas estavam lá
Por Isabela Reis
Está muito difícil ser mulher. Quer dizer, nunca foi fácil, mas na última quinzena foi especialmente impossível sobreviver sem a sensação de estar sendo sufocada por esse país. Mas, bom, eu não conheço a vida de outra forma se não existindo como uma mulher. As dores e as delícias. Nos piores e melhores momentos da minha vida, foram mulheres que estiveram comigo. É isso que eu quero e preciso lembrar.
Foram mulheres que me ensinaram a ler e escrever. É minha mãe, a minha maior referência profissional. Meus livros favoritos foram escritos por mulheres. Foi uma mulher que tirou meu filho da minha barriga e colocou ele no meu peito. Foram mulheres que me ensinaram a amamentar. É uma pediatra mulher em quem eu confio a saúde do meu filho. Foram minhas amigas que ouviram minhas lamentações nos términos de namoro, nas paixonites, nas roubadas. Foram minhas amigas que incentivaram as maiores maluquices que eu já fiz — e não me arrependo — e também com elas que eu conheci várias cidades pelo mundo. Foram elas que me incentivaram a estudar pro vestibular, a malhar, a postar o meu primeiro texto no Instagram. Foi minha avó quem veio da Bahia pro Rio e a ela eu devo meu apaixonado título de carioca. É Oxum quem cuida da minha cabeça e dos meus caminhos. São mulheres que me acompanham na redes, que me leem, que me ouvem nos podcasts, que me contratam. No dia das mães, um post da Contente.vc que viralizou, dizia: “quando eu mais precisei, quem esteve ao meu lado era outra mãe”. No meu post na data, completei: “a minha mãe”. É a mulher que eu chamo de mãe que segurou, segura e segurará comigo todas as barras que aparecerem.
Em todos os momentos da minha vida, havia uma outra mulher vivendo, dividindo, celebrando, sofrendo, chorando, brindando, resistindo comigo.
Nunca foi fácil. Não será. Mas que bom que temos umas às outras.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
Choro ergométrico.
Na semana passada eu fiquei em frangalhos de paixão, como vocês sabem, e coincidentemente eu tinha alguns exames de coração para fazer na quarta-feira pela manhã, um dia depois de ter tomado um choque de realidade na área do amor.
Mas calma, calma, esses exames são só um check up anual, porque tenho um histórico familiar de cardíacos e infartados, tenho pânico, ansiedade, AND sou fumante, para complementar o combo legal.
Ok, voltando ao exame.
Acordei cedinho, coloquei a minha roupinha de academia para fazer o teste ergométrico, o eletrocardiograma e colocar um holter.
Para quem não sabe, o teste ergométrico é um exame em que você coloca vários eletrodos no seu tórax e corre em uma esteira até o máximo de esforço que você conseguir, tudo isso enquanto medem a sua pressão a cada vez em que a velocidade da esteira aumenta.
Agora, imagine você, depois de uma madrugada difícil para quem ama, tomar um pé na bunda e ter que fazer isso no outro dia de manhã.
Fui fazer o meu teste, de máscara e óculos escuros para esconder os olhos inchados de sono e de tanto chorar. A cada pessoa que eu tinha que falar naquele hospital, eu chorava.
Era incontrolável. E eu, para melhorar, tenho muita vergonha de chorar em público, mas era mais forte que eu.
Sabe quando a gente só fala no automático aquele: Oi, tudo bem?
Se alguém me dirigisse a palavra com uma dessas, era choro de soluçar.
Entrei na sala para o exame depois de ter ido diversas vezes ao banheiro assoar o nariz, e a moça já viu o meu look e falou “querida, esse seu top não funciona”.
Tinha colocado uma roupa de academia de gostosa para ver se algo prestava pelo menos, mas não rolou. Tive que fazer uma gambiarra no meu top e quase esmagar ele nos meus peitos e pronto.
Era hora de correr.
Minha gente…
Era catarro e lágrima escorrendo na cara, abafando na máscara, a visão turva das gotas que estavam por cair.
Eu quase caí da esteira, estava tudo desengonçado, e eu tinha certeza que a qualquer segundo no exame sairia um atestado de: LUA EM CÂNCER, ÚLTIMA ROMÂNTICA, SEU PROBLEMA É AMAR DEMAIS.
Por fim, durante o exame eu só estava com a pressão um pouco mais alta e consegui vencer o exame, passando por essa humilhação horrível.
Depois fiquei me perguntando se eu não deveria refazê-los, afinal, estava sofrendo do coração.
Por hora, só aguardo os resultados.
Como ando sobrevivendo a 2022
Por Taize Odelli
A semana passada parece que foi uma das mais horríveis para as mulheres no Brasil – e no mundo, né? Bateu o medo, a raiva, o ódio, a desesperança, tudo. Mas a gente não pode pensar que outra semana assim não vai acontecer. Estamos vivendo semanas assim desde 2019. Desde que aquele cara lá entrou na presidência. A partir daí, nosso limite de indignação é testado a cada dia.
Como sobreviver a isso? Às vezes acho que vou implodir de ódio. Que vou perder meu réu-primário de tanto desejo de violência que me acomete.
Eu sei que o que eu vou falar a seguir é uma coisa muito branca-classe-média, muito privilegiada, e que a maioria das pessoas não têm acesso ao que eu tenho. Mas posso tentar, né?
Abraçar meus bichos sempre que possível
Nada mais reconfortante do que o cheiro da cabecinha de um gato ou o bafinho do cão.Me perder em vídeos do YouTube
Desde acidentes aéreos a como as pessoas namoravam na era vitoriana, eu fico horas navegando pelo algoritmo do YouTube adquirindo conhecimento (in)útil. É uma das minhas maneiras de suspender a realidade.F1 (o esporte)
Sim, eu me entretenho com esporte de milionário, porque é outra grande suspensão da realidade. A semana ganha um glow quando tem corrida. Nos domingos, durante duas horas, minha vida é tomada pela torcida e pelos xingamentos ao Max Verstappen.F1 (cê sabe, não comentarei mais nada sobre isso)
Leitura, né
Pô, não posso esquecer meus livros, minhas histórias que fazem eu desconectar do presente, porque o presente tá foda, e fingir que vivo uma outra vida em um outro lugar é o que tenho ao meu dispor, já que não sou herdeira.Pantanal
Já dediquei um texto inteiro à novela aqui, é um alento diário porque, tirando Tenório, é como se fosse um Brasil sem Bolsonaro.Sentar no parque
Tenho o grande privilégio (e sorte, pois pago um aluguel abaixo do usual para a região) de morar na frente de um parque. Todos os dias, vou lá com o cão, solto ele no cachorródromo, brinco com outros cachorros, ganho lambeijos, e depois sento um momentinho na grama com ele do meu lado e aprecio a calma de um lugar arborizado.Escrever
Nunca achei que teria tanto assunto para escrever, e fazer essa newsletter me mostrou que tenho sim, e que colocar minhas vulnerabilidades e alegrias aqui fazem com que eu pense melhor, entenda melhor, me livre do que está me incomodando jogando para o mundo até que esse incômodo se dissipe. Outro privilégio é poder escrever e ser lida por vocês. <3
Rir de coisas idiotas
O Twitter é um dor lugares mais tóxicos da atualidade, mas se você souber usar direitinho, vai encontrar alegria lá. E as melhores piadas, as mais idiotas, os diálogos mais memoráveis. Rir faz a gente esquecer um pouquinho que tudo está uma merda.
Estar perto de quem eu gosto
Mesmo que de longe, falar e desabafar, ter alguém para abraçar, para te consolar, para te ajudar a enxergar as coisas, para xingar juntos o governo e o conservadorismo… Isso é tudo.
Note e anote
Dicaize
Minha dica hoje é deveras cultural: amanhã começa a Bienal do Livro de São Paulo, e vai ter bastante autor, editora e livrarias por lá até o dia 10 de julho, no Expo Center Norte. E eu estarei lá no dia 8! Olha só. Não como convidada, né, porque ainda não tenho esse cacife, mas eu vou mediar uma mesa com a maravilhosa da Krishna e a Rafaella Brites. E o nome da mesa é tudo: "Síndrome da Impostora e outras crises existenciais". Rs.
Então aproveitem essa dica, e vão lá no dia 8 às 13h no Salão de Ideias me ver ficar nervosa tentando conduzir uma conversa. :)
Pa-pe-pi-podcast
É Nóia Minha?
Uma batalha de roubadas foi o tema dessa semana, com Camila e Veronica Oliveira avaliando as roubadas da audiência. Dá o play!
Calcinha Larga
Mari Camardelli, do Somos Madrastas, foi a convidada da semana para falar sobre o preconceito contra o termo “madrasta". Ouve!
Ppkansada
Se no Nóia teve roubada, no PPK teve tombo. E como é a vida depois dele, se é que há vida. E com Drik Barbosa como convidada chiquérrima.
Até mais
Você viu, né? Em breve o nosso escritório, o The Firma, vai ficar pronto e aí, gente, vocês só aguardem. Aguardem porque vai chover conteúdo nessa associação. E a gente não vê a hora. Olhaí, um pingo de esperança ainda existe!
Então fiquem bem neste fim de semana, cuidem-se, lavem atrás da orelha e beijos,
Camila, Bertha, Isabela e Taize
Tenho q confessar que eu tenho entrado muito no facebook. E o motivo e simples: entrei pra um grupo chamado “qual o nome do filme?” Em que as pessoas pedem ajuda de um filme q viram uma parte ou inteiro e nao lembram o nome e querem ver de novo. To viciada em ver um rapaz (administrador do grupo) falar o dia e a hora q o filme passou na tv. Ele demora menos de 12h. Ate hj nao vi ele falhar. Tem filme q ele desmente a memoria da pessoa q pediu ajuda. E impressionante.
Bertha é um exemplo a ser seguido, cumpriu as obrigações mesmo na bad. Achei mto adulto. ❤️