Associação dos Sem Carisma #134
Atestado de Falta de Carisma
Sonhamos com o dia em que será socialmente — e profissionalmente — aceitado o Atestado da Falta de Carisma. Para aquele dia em que falta energia vital até para pentear o cabelo, em que sua paciência com os colegas já está chegando no limite, ou então apenas para sumir porque, às vezes, sumir é necessário.
Para dar início a essa campanha, montamos o nosso Atestado de Falta Sem Carisma para você preencher e, quem sabe, algum chefe seu aceitar. Rs.
Sorteios da vida
Por Camila Fremder
O grupo de mães começa a bombar e você olha as 27 notificações e já fica com medo de clicar. Pode ser aniversário de alguma criança, o que tudo bem, porque não vou negar que amo comer salgadinho e brigadeiro no meio da semana, mas também pode ser o temido e horroroso surto de virose. Como estamos na newsletter da Associação dos Sem Carisma, não é sobre salgadinho e brigadeiro que eu vim contar, não é mesmo? Pois é, era o surto de virose.
Esse surto é uma grande loteria, pode ser que seu filho pegue ou não, como pode ser que se manifeste em vômito e caganeira, ou em febre e nariz escorrendo. Arthur foi contemplado com o combo 2. Foram 4 dias de febre alta, e depois de gastar dinheiro no pediatra que confirmou o que já havia sido dito no grupo de mães (é virose), ele finalmente ficou bom e voltou pra escola. Estou exausta por conciliar trabalho e criança doente, mas acaba de chegar um email da escola: "tivemos um caso de conjuntivite no grupo". A sorte está lançada, volto com novas infos em breve, mas tô trabalhando na mente a lei do carma. Poxa, eu vivi uma virose faz nem dois dias, não seria justo eu ganhar esse vale conjuntivite.
A palavra é prata, o silêncio é ouro
Por Isabela Reis
Mercúrio ficou retrógrado no último domingo, e deste então parece que abriram a tampa. Toda treta do mundo que estava reprimida explodiu. Começou na segunda com Anitta chegando pra recolher seus louros. Ludmilla não deitou para o colunista inominável. A rapper N.I.N.A foi alvo de críticas bizonhas no Twitter. Flora Mattos resolveu comprar briga pública com Tasha e Tracie. Cada vez que eu atualizava a timeline, uma nova hecatombe. Até o mundo hétero boleiro foi estremecido com Luva de Pedreiro no meio de uma fake news.
Observando o caos, decretei na quarta-feira: “não falo mais nada até Mercúrio voltar a andar pra frente. Tô fora de treta!”. Mas é aquilo…. Maomé pode até não ir à montanha, mas a desgraça da montanha arruma um jeito de ir até Maomé.
Fui convidada pra cabine de The Woman King — filme incrível protagonizado por Viola Davis (cabine é como chamam a sessão fechada para jornalistas e afins antes do lançamento). Animadamente, fui com Raphael, meu marido, na manhã desta quinta. Criança na creche, folga dos pais, filminho 10:30h da manhã. Tudo lindo! Chegamos, entramos e, ao sentar, meu gigante marido de um metro e noventa e quatro centímetros de altura esbarrou na cadeira da frente. Normal de cinema. Não? Pelo visto, não. O cidadão virou já três tons acima, “você não vai passar o filme todo chutando minha cadeira não, né??? Já chutou duas vezes!!!”. Juro. Foi tão gratuito que nós achamos ser algum conhecido fazendo piada. Até perguntei “oi?” e o cara repetiu, ainda mais exaltado.
Meu marido, que é a pessoa que mais foge de treta que eu conheço — eu sou a barraqueira da relação —, resolveu comprar a briga de tão bizarra que foi a abordagem agressiva do cara. Bom, o resto é história de barraco e bate-boca com o filme já rolando e “shiii” da audiência. Eu fiquei tão chocada que perdi as palavras. Fiquei muda! Nem consegui rebater. Sabe aquela pessoa que tá num dia de merda e despeja tudo no primeiro que cruzar o olhar com ela? Era esse cara. Situação totalmente desproporcional. Algum frustrado desequilibrado. Enfim. Assistimos o filme, que é mesmo maravilhoso! Estreia no dia 22 de setembro, com direito a Viola Davis no Brasil para o lançamento. Um luxo absoluto!
Isso tudo pra dizer que: meçam suas palavras. Mercúrio deve tá de cabeça pra baixo, além de retrógrado. Deus me livre! Evitem falar demais, pensem duas vezes antes de postar qualquer coisa ou emitir opniões. O trânsito astrológico só acaba dia dois de outubro. Sim, bem no dia das eleições. Até lá, calada vence!
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
Como a nossa sorte pode virar, mudar, e acabar, tudo isso, em apenas uma hora.
Estava vivendo a minha quarta-feira normalmente, um dia de trabalho comum. Mesmo sendo um dia feio e nublado em São Paulo, o dia acabaria feliz, pois há mais ou menos uma semana eu tinha ganhado um super jantar com drinks para essa noite, em um restaurante que estava louca para conhecer fazia muito tempo.
Voltei de uma gravação para filmar uma publicidade em casa, com a animação girando lá no alto para a hora do jantar. Sempre pensando em comida sim, pois taurina.
O meu amigo, que ia comigo, tinha acabado de me mandar uma mensagem dizendo que não tinha nem almoçado, tamanha era a expectativa.
Eu estava tão animada e feliz com as portas se abrindo pra vida, para as comidas, que do nada fiquei com o rabinho coçando para ir no Coala Festival, um festival que vai rolar em São Paulo no final de semana. Festival esse que havia me cotado para alguns trabalhos, mas acabou não rolando e eu tinha desanimado.
Mas eu estava num dia massa, vai que eu pedisse no Instagram pra ir no Festival e alguém me ouvisse, me atendesse?
Arrisquei.
O dia foi passando quando, de repente, tudo começa a dar errado.
Recebo uma mensagem, quase no final do dia, dizendo que o restaurante não abriria naquele dia para o jantar.
Meu mundo caiu, Maísa on my mind.
Mas ok, eu poderia escolher outro restaurante das opções que eles tinham me mandado. Menos mal.
Segui gravando as minhas coisinhas, precisei gravar de novo, e regravar é sempre um pouco estressante, já comecei a ficar NEUVOSAN.
E às 18h da tarde recebo uma mensagem me dizendo que o jantar miou, a casa caiu, o restaurante não respondia.
Minhas bochechas começaram a ficar vermelhas de ódio, os olhos encheram de lágrimas, o estômago roncando.
Liguei triste para o amigo, lamentamos.
Quando, DE REPENTE (mais uma vez, é), recebo uma ligação da portaria.
Chegou uma caixa para você.
Meu Deus, uma caixa? Seria mais uma ecobag para a minha coleção ou algo que mudaria o meu roteiro do final de semana?
E sim, dentro da caixa tinha um convite para o festival que eu queria ir.
Fiquei feliz de novo — pulei, gritei e, claro, postei no Insta para agradecer e pá.
Uma hora se passou, fui viver a minha vida, ligar para os amigos feliz. Quando eu abro meu Instagram, vou para as minhas DM's e lá encontro diversos alertas de: APAGUE ESSE STORIES AGORA, VOCÊ POSTOU O QR CODE DO SEU INGRESSO, VÃO ROUBAR. KKKK
Já tinha passado uma hora, tempo suficiente para alguém ter roubado o meu ingresso.
Fiquei triste de novo, como pude ser tão burra?
A gente fica burra quando fica feliz, né?
Pois é.
É incrível como em apenas um dia a gente pode viver 50 emoções dentro de um mesmo corpo, ou a nossa sorte pode mudar umas três vezes, como nada é certo mesmo, kk. Ou você só foi burra mesmo e se lascou, kk.
Bom, agora o resultado dessa sorte aí eu só vou saber na sexta-feira, no dia do evento, e tudo pode mudar, MAIS UMA VEZ.
Tudo jogado para o universo, conto com você!
Minha vida cabe em duas horas de mudança
Por Taize Odelli
Estava relendo Manual da faxineira, livro de contos da Lucia Berlin que eu amo imensamente, e no conto "Luto" uma frase me pegou demais.
"Se você morresse… eu poderia me livrar de todos os seus pertences em duas horas, no máximo."
A narradora é uma faxineira que trabalha, principalmente limpando, as casas de pessoas recém-falecidas. Porque né, quando a gente morre, tudo o que temos e construímos fica para trás – diferentemente do que pensavam os egípcios antigos. A gente não tem pirâmides para comportar todas as nossas riquezas e bens junto com nosso túmulo (kkk que riquezas?). Os cemitérios mal têm espaço para os próprios corpos. Então, depois da morte, alguém será encarregado de limpar, empacotar, doar, reclamar tudo o que você deixou pra trás. Seja a sua família ou um serviço de faxina especializado.
Na mudança para o apartamento que estou prestes a deixar eu fiz isso. Dona Leila, a proprietária, tinha morrido meses antes. Todas as coisas dela estavam no apartamento: os móveis, os CDs e fitas K7, os copos e taças, as mesas e cadeiras e todos os eletrodomésticos. Roupas não tinha mais, mas encontrei no armário dela documentos e lembranças. Para a minha mudança entrar, a dela tinha que sair. E junto com a irmã dela e uma amiga, eu ajudei a esvaziar a vida de uma pessoa do lugar onde ela viveu.
Por isso essa frase da Lucia Berlin me pegou tanto. Em uma hora, tudo o que era dela estava dentro de um carreto. Tudo o que ela acumulou durante os 30 anos em que morou lá. A gente batalha tanto, corre tanto, sofre tanto para juntar o que precisamos para viver, né. Leva tanto tempo para conseguir uma casa do jeito que a gente sonha, como falamos em um episódio do Ppkansada algumas semanas atrás. Para, no final, tudo ser encaixotado e levado em menos de duas horas.
Agora, fazendo uma nova mudança, vai ser igual. Em duas horas, minhas coisas estarão embaladas dentro de caixas espremidas em um carreto. Principalmente os livros que venho guardando desde 2004. Toda uma história transportada em poucas horas de um lugar para o outro. História que, daqui há muitos anos, espero, vai ser encaixotada pela última vez.
É, gente: a vida é longa, mas o que deixamos no fim some num piscar de olhos. E fica só a lembrança, se houver alguém para lembrar de você.
Dá o play
É Nóia Minha?
E aí, trabalhar em casa ou morar no trabalho? Os psicanalistas Lucas Liedke e André Alves falaram sobre a nossa relação com o trabalho. Escuta!
Calcinha Larga
Essa semana teve Jana Rosa falando sobre quando o autocuidado vira uma obrigação. Aprecie este episódio!
Ppkansada
O papo do episódio de hoje é sobre o fantasma da infertilidade e seus estigmas na vida das mulheres. Ouve aí!
Conselhos Que Você Pediu
Como lidar com amizades tóxicas? Vem ouvir os conselhos da Isabela!
Santa Reclamação de Cada Dia
Um apelo da Taize: que tudo se resolva no primeiro turno.
Até mais ver
Gente, vocês já se tocaram de que o final do ano está quase aí? Esses dias vimos até chapéu de Papai-Noel na rua… Esperamos que essa reta final de 2022 não derrube a gente do jeito que essa semana derrubou. Aliás, fica uma nóia: até quantos tombos aguentamos tomar?
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Beijos,
Camila, Bertha, Isabela e Taize
O texto da Taize me fez refletir e entender o porquê ainda n esvaziei o apartamento do meu pai em 2 anos. Ele faleceu em 2020 e desde então reluto pra empacotar tudo, sinto que será como uma segunda despedida que estou adiando...
O texto da Taize me deixou pensativa! 🥲