Associação dos Sem Carisma #144
Vai ter Copa. Ou não?
Chega a Copa do Mundo de futebol e o mundo se divide entre os que vão ver todos os jogos possíveis e aqueles que não estão nem aí. Pois nem tudo mundo tem carisma pra Copa, né? Mas mesmo tendo um carisma limitado, tem gente também que descobre que é possível ser carismático em plena festa do futebol.
Pensando na paz entre as nações e os que amam ou odeiam a Copa do Mundo, preparamos este penduricalho de porta para destacar o que o indivíduo vai encontrar ao adentrar sua porta. Usem sem moderação.
Tá tendo
Por Camila Fremder
Escrevo esse texto na quinta-feira de manhã, horas antes do primeiro jogo do Brasil desta copa. Acabei de levar Arthur na escola e durante o trajeto me senti brasileira de novo. Não, eu não tenho síndrome de gringa, eu apenas tinha apagado do meu registro pessoal o quanto posso ser brasileira. Durante esses últimos anos, tomaram a minha bandeira e junto com ela abafaram meu orgulho de ter nascido aqui, de ter crescido jogando e assistindo futebol. Mas ao ver a reação do Arthur de dentro do carro percebendo que todos na rua vestiam verde, amarelo ou azul, eu voltei a sentir através da emoção dele, o que eu sempre senti durante as copas.
É uma pena que tanta coisa esteja cagada, país homofóbico sediando, gente ruim e desconectada da realidade chamando intervenção de ET vestindo a camiseta do Brasil, mas Arthur ainda não consegue e nem precisa entender isso, e quanto mais pessoas de camisetas do Brasil ele via, mais empolgado ele ficava. "Então todo mundo hoje vai ver o jogo? Todo mundo vai torcer pro Brasil?" E eu senti tudo de novo. Expliquei pra ele como tudo é doido e difícil, como a gente fica feliz e triste, como a gente grita e chora, como a gente é intenso e muito Brasileiro. "Filho, se o Brasil fizer gol, você vai ouvir todo mundo gritar! O bairro todo, a cidade toda, o Brasil todo!". Ele entendeu tudo, eu lembrei de tudo. Devolve aqui essa bandeira, tá tendo copa cacete.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
A Copa do Mundo começou, muito aguardada para uns e para outros não faz a menor diferença. Mas no meu caso, algo muito estranho vem acontecendo…
Comecei a vestir mais camisetas de times, deixar o jogo ligado o dia inteiro e fazer comentários a cada jogada, saber os horários, times, embates, nomes de jogadores, coisas como:
“Nossa, olha a coxa desse Mbappé, papai!”
Tudo isso enquanto mordia o meu lábio inferior.
É, isso saia da minha boca. Quando não era um arrotão bem alto seguido por uma risadinha tosca (mentira que isso eu já fazia antes rsrs).
De repente, eu abri uma cerveja e comecei a coçar… É, coçar lá mesmo.
Sim, é muito esquisito. Eu me olho no espelho e não me reconheço mais. Até os trejeitos mudaram.
Depois de 4 dias de conhecer a tapioca homofóbica do Catar, eu resolvi pedir um diagnostico para todos esses sintomas, e sabe qual foi?
EU VIREI UM HETEROTOPZÃO! VAI BRASIL, C@R4lH@!!!!! VEM HEXAAAAA, P@Rr@!
Impedimento
Por Taize Odelli
É incrível como as mulheres sempre são cobradas por qualquer coisa que façam, ou não façam.
Pegue o caso da Déborah Secco: integrante de um programa daqueles humorísticos/esporte para comentar a Copa, e foi criticada pelo seu “uniforme” de sexy comentarista da SporTV e, claro, por “não entender de futebol”.
Sei lá como que o pessoal tem certeza de que Déborah Secco ODEIA futebol e não tem capacidade de falar de forma descontraída sobre assunto, que é a proposta do programa. Se usarmos a mesma lógica pras redes sociais, vish, a quantidade de opiniões no Twitter vai diminuir drasticamente.
Cobram da Déborah Secco um conhecimento acima da média para considerá-la apta a participar de um programa que envolve futebol. Conhecimento esse que geralmente não é cobrado de muitos comentaristas famosos por aí, porque aparentemente homem já nasce com doutorado no assunto.
A mulher que acompanha, sabe, joga e comenta futebol, vish, essa será eternamente testada para saber se ela sabe realmente do que esta falando. Como se tivessem que fazer um vestibular mensal para provarem que merecem estar ali. Enquanto a roupa de Déborah Secco causava furor, a Natália Lara, primeira mulher a narrar uma Copa do Mundo na mesma emissora, estava sofrendo ataques dos homens que acham que ela não sabe nada de futebol. Adivinha que roupa ela tava usando?
Não é roupa, não é como você se apresenta. O fato de sermos mulheres em um ambiente majoritariamente masculino sempre vai ser um incômodo. Se você não sabe todas as regras de futebol, você não merece estar lá vendo um jogo ou falando sobre futebol numa mesa de bar. Se você sabe, você não sabe o bastante. E esse caso todo que surgiu por causa de um look não é, claro, sobre o look. E me entristece que muita mulher entrou nessa onda de críticas tendo uma falsa impressão de que estão defendendo nossos direitos.
Pois nossos direitos nesse caso são: usar o que quisermos sem sermos julgadas e assediadas; ter participação ativa em um evento de proporção mundial, porque por mais que ela possa “não entender” do assunto, ela pode sim se divertir falando sobre — como todas nós fazemos. Nosso direito é não ter que aturar as merdas que os homens falam, nosso direito é não ter que se adequar ao que os homens pensam.
Impedimento só existe durante os 90 minutos de jogo. Não pode existir fora dele.
Para ouvir nos intervalos dos jogos
É nóia minha?
Camila chamou Anielle Franco e Fred Abdullah para falarem sobre as nóias de casal, pois elas nunca têm fim. Vem ouvir!
Ppkansada
Como é envelhecer para a mulher? Para esse papo Bertha, Isabela e Taize chamaram a Flávia Durante, fundadora da Pop Plus. Vem ouvir também!
Conselhos que você pediu
A Bela está de férias em Nova York mas o conteúdo não para! No último episódio, o tema é pais que deixam as mães na mão. Dá o play!
Tchauzinho ao som de vuvuzelas
Pois é, hoje foi só Copa. Tá tendo Copa, ainda vai ter mais Copa, e aqui a gente reservou durante o ano todo o nosso carisma para viver esse momento.
SE JOGA!
Antes de ir embora, segue a gente lá no Instagram que todo dia tem coisa para exaltar a nossa falta de carisma. Outro aviso é que tem camiseta Sem Carisma lá no site da Tangerina Moon, então aproveita. E para abrilhantar o seu lar, tem nossa linha de casa Sem Carisma lá na Cosí Home.
Beijos,
Camila, Bertha e Taize
Senti um grande alívio ao ver um aglomerado de pessoas vestindo verde e amarelo para um evento esportivo. Veio a calhar a Copa após as eleições. Quem sabe seja o resgate dos símbolos nacionais. Oremos.