Associação dos Sem Carisma #158
Nostalgia Sem Carisma
Ah, os anos 2010… Olhando pra trás, a gente pode até sentir saudade de algumas coisas. Mas vamos falar a real: ô modinha estranha que essa década nos deu, hein?
A moda é cíclica, sabemos bem disso, e tendências vêm e vão. Mas tem umas que a gente não quer que volte jamais! Vamos relembrá-las?
Hidratação é minha salvação
Eu sei que vai dar ruim quando eu paro de passar creme nas pernas. É sério. Minha preguiça em hidratar vai subindo pelo corpo, esqueço um dia de hidratar os braços, depois acho inútil passar creme na barriga, até que eu fico mais de três dias sem hidratar nenhuma parte do corpo e fico doente, pronto. Não sei explicar, mas sei que acontece. Tô ali na minha rotina corrida de podcaster, escritora, mãe de crey, mãe de pet, sempre hidratando uma canela seca, um cotovelo áspero, um joelho opaco, numa constância de dar orgulho, eu tiro cremes da bolsa como mágicos tiram coelhos da cartola. É fascinante. Tenho cremes no carro, no escritório, na mesinha de cabeceira, até na mochila do Codré eu jogo creme. Eu tenho mania, já é até uma piada na família.
Teve uma vez que fomos pro Beach Park, e em um dos escorregadores que você desce com outras pessoas ao lado, eu era a mais rápida de todos sempre. Codré logo disse: "Isso aí são os cremes!" Se foi ou não, eu jamais saberei, mas achei muito estranho descer aquele treco 5 vezes com as crianças e mesmo tentando brecar eu era a mais veloz.
Mas como eu ia dizendo, eu sei que vai dar ruim quando paro com os meus cremes. Vou me enrolando nas mil tarefas, deito na cama tarde e exausta, sem forças pra alcançar qualquer pote. Não demora muito e minha garganta dói, meu nariz fica entupido. Não sei se é a desidratação, mas é incrível, fico três dias sem cuidar de mim e pahhh, doente. Agora eu tô naquela fase de tentar retomar minha rotina diária de cremes, mas ainda tô só na cara, assim, hoje vou dizer que hidratei o pescoço. Amanhã vou tentar o tronco e em alguns dias chego no calcanhar. Até lá, ainda sinto um fundinho de dor de cabeça.
Quero, logo aprendo
Eu sou uma pessoa de poucas obsessões, mas se tem algo que me move na vida é meu vício em autonomia. Eu sou completamente obcecada por me virar sozinha. Tem uma parte péssima disso que é a dificuldade extrema de pedir ajuda, delegar, sobrecarga. Estou me tratando. Mas fato é que me sinto muito poderosa pintando uma parede.
Essa obsessão por autonomia me fez aprender as coisas mais loucas. Lembra quando os ecopads ficaram na moda? Aqueles disquinhos de crochê pra tirar maquiagem e substituir o algodão? Quis muito aquilo, mas não queria comprar. Aprendi a fazer crochê e fiz os meus próprios. Quando adolescente, cismei de aprender tricô pra fazer um cachecol. Aprendi e, óbvio, nunca terminei o cachecol. Pintar e furar parede eu considero um hobby. Aprendi com meu pai na pré-adolescência. Enfim, a família suburbana que tem que aprender a fazer os serviços por conta. Eu ficava encantada com a facilidade que meu pai reparada, trocava, instalava, pintava coisas sem precisar contratar ou esperar ninguém.
Duas semanas antes do lockdown da pandemia, tinha me matriculado e pagado um curso de corte e costura. Por quê? Queria aprender a fazer roupa. Acho bizarro querer uma roupa e não poder simplesmente ir lá e fazer. Bom, a pandemia veio, nunca fiz o curso, mas o sonho da aula de costura segue vivíssimo. Mas, claro, pequenos reparos, costurar à mão, pregar botão sei fazer.
Essa semana me perguntaram como venci o medo de dirigir. Nunca tive medo, mas o ponto é que, nessa obsessão por autonomia, me é enlouquecedora a ideia de querer sair de casa e não poder simplesmente pegar uma chave, entrar num carro e ir. Cada segundo esperando um carro de aplicativo parece uma tortura. Eu moro perto de uma avenida longa com bairros comerciais nas duas pontas e, dependendo pra onde vou, é só uma linha reta, e aí prefiro infinitamente pegar qualquer ônibus do que esperar um carro de aplicativo. Pela simples obsessão de não depender de ninguém além do meu corpo, chegar no ponto e entrar no primeiro ônibus que aparecer.
Na pandemia, eu abri o tampo da lava e seca e fiz, eu mesma, uma manutenção no duto de secagem. Por quê? Por que não dava pra chamar um técnico por conta da quarentena? Também. Mas principalmente porque qualquer coisa que eu possa tentar fazer sozinha, eu faço. Cozinhar é lógico que eu sei. A ideia de depender de outro ser humano pra se alimentar é das coisas mais bizarras que existem. Aliás, hoje comprei insumos pra fazer hambúrguer caseiro! Sei lá, eu sempre peço no delivery, por que não?
Foi graças a essa maluquice que eu aprendi a editar vídeo e áudio, a fazer podcast sozinha. Pra que perguntar pra outras pessoas se eu posso me fuder sozinha aprendendo a fazer tudo que eu preciso?
Enfim, essa é minha pira. Ainda tem muita coisa que eu quero aprender. Além da costura, tenho uma pira de aprender a fazer pequenos móveis e ter uma horta muito cabulosa. Escrevendo esse texto, talvez eu tenha identificado um hobby. Será que meu hobby é aprender qualquer coisa que me dê sensação de autonomia? Isso pode ser considerado um hobby ou é pura obsessão por controle? Estou doida? Talvez, mas uma doida bastante independente.
Gostosa sofre
Olha, eu sei que ser gostosa é, sim, uma maravilha. Não é tanto o ser, mas o se sentir gostosa, sabe? Quando a autoestima está lá no alto, poucas coisas me abalam. Só que às vezes o fato de ser gostosa me derruba. E foi o que aconteceu.
Não tô reclamando de ser gostosa, muito longe disso. Quero continuar sendo, fui três vezes na academia essa semana, bora que bora. O que me deixou meio baqueada mesmo foi aquele medo de parecer que eu sou apenas isso.
Eu estou num daqueles momentos em que eu quero cuidar mais de mim e do meu corpo. E de usar esse corpo também enquanto as juntas ainda estão boas – seja pro esporte, seja pra suruba. Estou tendo uma vida sexual ótima e descobrindo coisas novas que eu e meu corpinho gostamos. Gosto da biscoitagem e até monetizei ela. E isso fez um bem danado pra minha autoestima.
Então qual é a questão aqui? A questão é que bateu a nóia de que as pessoas (leia-se "homens com quem saio") só lembram de mim quando o assunto é chamar pra transar ou pedir foto. Como se eu tivesse apenas esse papel na vida da pessoa e não fosse elegível para fazer coisas triviais como, sei lá, ir no show do Skank. Começou a me doer o fato de mandar mensagem, puxar assunto e ser ignorada para, horas depois, o cidadão aparecer dizendo "ai, tava foda hoje, desculpa", e no segundo seguinte pedir foto minha para ver se "anima".
Desabafando no site da saúde mental (Twitter), uma amiga também revelou que muitas pessoas a enxergam como uma coisa só e que a excluem de todas as outras formas de convívio social. E é muito isso. Eu gosto de ficar em casa? Sim, mas também gosto de ser chamada pra sair pra comer, pra viajar, pra beber, pra ir visitar a tia-avó de alguém e tomar um café com bolo. Eu gosto de transar? Sim, mas também gosto de ir na Leroy Merlin comprar coisas pra casa, de ir num karaokê, de jogar boliche no shopping…
A gente pode parecer ser uma coisa, e muitas vezes somos essa coisa mesmo e gostamos de sê-la. Mas enxergar só isso é diminuir a nossa existência a algo que não corresponde à realidade. As coisas não têm um lado só. Samuel Rosa diria, até, que tudo tem três lados. Aqui tem o lado gostosa que gosta de uma safadeza, o lado quieta que gosta de ficar em casa, o lado torcedora que acompanha diversos eventos esportivos…
Enfim, agora eu tô melhor. Porque uma coisa que tô aprendendo também é falar assim que algo me incomoda e esclarecer o que é e o que não é. Mas fica aqui o registro de que as gostosas às vezes sofrem, viu? Chame sua gostosa local para fazer qualquer outra coisa que não seja só transar.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Angela Ro Ro
Faz algum tempo que eu fui “reapresentada”, digamos assim, à música da Angela Ro Ro “Amor, meu grande amor”.
Na hora em que escutei, senti imediatamente a melodia, a letra e a frequência da música invadirem o meu corpo todo.
E especialmente em um trecho, tudo o que me atravessou, transbordou.
Tem uma hora em que ela fala assim:
“Amor, meu grande amor, só dure o tempo que mereça…”
Desabei.
Como é difícil dar o tempo que as coisas merecem. A gente quer muitas vezes resgatar, tentar de novo, se aproximar, mudar. Quando, quanto e qual é o tempo merecido?
Tem como botar ponto final nas histórias, sei que tem, e também sei da importância disso. Mas por muitas vezes entro em negação, volto atrás, tenho medo de perder e de aceitar que aquela história teve o tempo dela, que ela mereceu.
E não é porque acabou, ficou para trás, que tem que perder o seu valor e a sua beleza.
Só deixar durar o tempo que as coisas merecem virou o meu novo mantra. Não que eu esteja conseguindo fazer isso ,não. Mas pelo menos estou mentalizando ao som de Angela Ro Ro.
Escute com carinho
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
Camila e Thiago Pasqualotto, criador do maravilhoso Morri de sunga branca, fizeram uma viagem ao passado para relembrar o melhor e o pior dos anos 2010. Ouve aí!
VAI TER MAIS CAMILA SIM, pois nossa presidenta foi a convidada da semana no Ppkansada. Vai lá conferir com quem a gente casaria, quem beijaria e quem mataria.
Gordofobia ou preocupação? Esse é o causo da semana lá no Conselhos que você pediu.
E para encerrar, mais uma reclamação sobre a internet e seus usuários no Santa Reclamação de Cada Dia.
Até mais, nação
Vamos encerrar essa edição com uma mensagem motivacional? Só queremos deixar essa aqui da grande filósofa e apresentadora Ana Maria Braga:
Um beijo a todas, todos e todes,
Camila, Isabela, Bertha e Taize
Lembretes de encerramento:
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O bolero foi o maior erro da humanidade, ainda não acredito que tive coragem de usar aquilo.
Eu adoro todas vcs, mas Bella... nós somos muito idênticas... gosto de fazer tudo, pinto paredes e comprei uma maquina de costura, e inclusive na "brutalidade", e esses dias seus stories indignada com quem reclamou do angu de grilo, mas deu vontade de dizer... calma mulher e ao mesmo tempo é isso ai... e ao mesmo tempo desculpa eu falei que era avocado ahahahaha. Mas sabe o que tem feito eu melhorar?! fiz um curso de comunicação não violenta. Já ouviu falar? Beijosssssssssss nocês!