Associação dos Sem Carisma #160
Desculpas para sair antes do parabéns
4 anos do É Nóia Minha! Sim, estamos comemorando esse aniversário maravilhoso, mas daquele jeito que a gente gosta: cada um na sua casa, no seu quadrado.
Sabemos que nem todo aniversário é assim, e a cada convite a nossa vontade é chegar, dar parabéns, e sair antes da hora do bolo. Então aqui vão algumas desculpas para você praticar essa partida antecipada, porque o importante não é a duração da sua presença, mas sim o fato de que você compareceu.
Sofrendo com 0,99%
Eu andava me sentindo muito cansada, cansada nível tomar banho e deitar 3 minutos, pôr a roupa e deitar 3 minutos, andar até a cozinha e sentar no banquinho. Um cansada além do cansada de ser mãe, podcaster, escritora, companheira do Codré, criadora de conteúdo, mãe de 6 pets, madrasta da Luisa… Uma exaustão colossal de chorar no fim da noite de tão cansada. Não tava normal. Não que seja normal o tanto de coisa que nós mulheres fazemos, mas tava assim, desesperador. Resolvi consultar minha médica e fazer exames.
Descobri que estou completamente sem testosterona, quer dizer, não completamente, mas 0,99%, sendo que o normal é a partir de 26%. Que tal? Aquele alívio de ter a certeza que eu não estava mesmo no meu normal. Estou repondo com um gel, ainda não é menopausa, nem pré, mas quanto mais falo sobre isso, mais eu encontro mulheres DE TODAS AS IDADES passando por isso também. Hoje fez uma semana que estou me tratando e já me sinto melhor <3. Por isso venho aqui dar uma de mãe preocupada, seus exames hormonais estão em dia?
Sinal
Que eu sou macumbeira, não é segredo pra ninguém. Bom, se você não sabia, me reapresento. Sou do Candomblé há 13 anos. Cresci numa família com muitas tradições da Umbanda, ainda que já afastados dos terreiros quando eu era criança. Todos os meus ritos familiares passam pela religiosidade afrobrasileira e eu tenho não só muito orgulho disso, mas uma alegria tremenda. É muito bom ter sua história forjada pelo invisível, o encantamento.
Resolvi escrever sobre isso porque, entre os perrengues da vida e uma sensação de estar perdida sem saber qual decisão tomar, hoje pedi em voz alta aos meus orixás: “me dá um sinal, me manda qualquer sinal que me faça entender que estamos no caminho certo”. Saí de casa e puft, se fosse uma bigorna caindo do céu, me esmagava. Um encontro totalmente improvável com duas pessoas queridas na rua que, nem sabem, mas foram o sinal que eu pedi.
Eu podia dizer que foi por acaso, mas eu sou macumbeira demais pra acreditar em coincidência. Tão macumbeira que não tenho mais delay, foi uma compreensão tão imediata de que aquele era o sinal que eu pedi que comecei a chorar no meio da reunião para qual eu tava indo. Paguei mico? Sim. Mas eu sou mãe e a gente tem carta branca pra simplesmente chorar do nada sem precisar dar grandes explicações.
Eu acredito muito em intuição, sinais. Não acredito em acaso e nem coincidência. Eu vejo resposta em tudo que acontece e tudo que não acontece. Tenho uma profunda conexão com a minha espiritualidade.
Semana passada, dia 21, foi Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Postei no Instagram e repito aqui. Eu sou feliz demais em ser do Candomblé. Foi e é a melhor decisão da minha vida. Tudo na minha vida é orixá, todos os dias, em todas as decisões, caminhos, dúvidas, erros e acertos.
Longe de mim fazer proselitismo religioso, isso não faz nem parte do repertório afroreligioso. Mas eu acho, sim, que ter uma religiosidade, espiritualidade, conexão, ainda que fora de uma religião organizada, seja muito importante. Eu sei que tem muita gente perdida nesse sentido, decepcionados, desviados, descrentes, mas sentindo um buraco na alma a ser preenchido. Se você estava esperando algum sinal, acho que ele chegou.
O mundo é um moinho mesmo
Estava eu de boas na internet quando me deparo com o pessoal compartilhando esse react aqui do GoonyGoogles à música "O mundo é um moinho", do Cartola. Fui ver só o trecho dele ouvindo a música e assim, do jeito que bateu nele, bateu em mim.
Vou confessar que não conhecia essa música, ou pelo menos não lembrava dela. Não ouço assim tantas brasilidades. Claro que sei, pelo menos, quem foi o Cartola e devo até saber de cor alguma música dele sem saber que é dele. Mas enfim, assim como o GoonyGoogles, foi a primeira vez que escutei. E comecei a dar uma choradinha de leve na hora em que ouvi essas estrofes:
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Presta atenção, querida
De cada amor, tu herdarás só o cinismo
Quando notares, estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
Não é forte? Não é uma pedrada no coração ouvir numa melodia triste e bonita que o mundo vai triturar seus sonhos? Que do amor só vai restar o cinismo? Que a gente vai ser atropelada por um Scania 770 V8 quando menos espera?
Eu não gosto muito de exaltar as gerações passadas, mas uma coisa que eles entenderam muito bem é que a vida é pesada e passa por cima de você. Entenderam a ponto de achar que a vida era só isso, pois vejo muito derrotismo nos mais velhos da minha família. Eu cresci na geração que pôde brincar, fantasiar, sonhar, planejar o futuro. Que teve acesso a todas as mídias possíveis que me mostraram a vastidão do mundo e da vivência humana. Se eu sou curiosa hoje e quero conhecer tudo e chegar longe, foi porque sempre alimentei esses desejos dentro de mim.
E essa proteção do mundo pode fazer a gente esquecer que a vida não é a fantasia que criamos na nossa cabeça. Principalmente para a parcela privilegiada da população, e me incluo nela. Não adquirimos essa sabedoria porque, talvez, ainda estejamos presos numa adolescência confortável. E o baque da realidade, quando chega, desestabiliza mais do que deveria. Porque porra, eu tenho 33 anos de idade e ainda sinto como se tivesse uns 17, pelo menos, por pensar que eu mereço tudo.
Eu fico dividida entre a esperança e o pessimismo. Porque pra mim, não faz sentido estar aqui se eu não tiver esperança de que as coisas que eu desejo aconteçam. Mas não dá para fechar os olhos para o fato de que não é porque a gente quer que tudo vai se moldar à nossa vontade. O mundo vai triturar os sonhos. O amor que te preenchia ontem pode te deixar destruída amanhã. E a culpa pode ser toda nossa, porque ignoramos a realidade quando não deveríamos. E esse é um abismo que cavamos com nossos próprios pés.
Enfim, triste né? Mas é isso aí. O mundo é cruel. Mas é bonito. É triste e é belo. É generoso e é um filho da puta. É, como o GoonyGoogles falou reagindo ao vídeo, indiferente ao que você sonha e vai continuar girando como um moinho triturando tudo.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Depois do meu Fugere Urbeml, não digo que voltei aí aos meus 100%, mas com toda certeza já estou um pouquinho mais perto dali.
É incrível como existem pessoas que têm um cheirinho, uma sensação de ser como uma casa pra gente, sabe?
Aquela segurança e alívio que parece muito com quando estamos viajando, longe de casa um tempão, e de repente a gente volta para aquele conforto e na mesma hora sente um relaxamento imenso.
Ali você pode tirar os sapatos, abrir o botão da calça e se jogar num sofá sem se preocupar com nada mais do que tá rolando lá fora.
Ficar perto das pessoas que a gente ama, e ama assim de graça, recarrega qualquer bateria.
Conserta coração quebrado, faz a gente rir do nada e até esquecer por que estava com vontade de chorar.
Esse textin é para exaltar essas pessoas que são nossa casa.
Obrigada por existirem 💞
PodOuvirOCast
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Aliás, votem aqui no É nóia minha? para ele ser um dos 10 finalistas da categoria Podcast no Prêmio Ibest!
Comemorando os 4 anos de nóias compartilhadas, Camila recebe Rodrigo Rosner e o tão pedido André Faccioli (vulgo Codré) para reagir às nóias da audiência.
Bertha, Bela e Taize conversaram com a Vitoria Fiore, a Not That Cliche, sobre viver fora do Brasil lá no Ppkansada.
No Santa Reclamação de Cada Dia, a Taize relembrou as tretas de março na internet.
Até logo e obrigada!
Não podemos nos despedir sem mandar aquele muito obrigada aos nóiers, aos sem carismers, aos camilers todos por estarem aqui há tanto tempo com a gente. Obrigada mesmo. <3
Esperamos que tenham gostado dessa edição, comentem, viu?
Beijos,
Camila, Bertha, Isabela e Taize
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Como sempre, mais uma ótima newsletter pra começar bem a sexta. Tenho uma pequena sugestão, voltem com o nome da autora embaixo do título de cada texto, pelo amor de deus!! haha percebi que tirarem tem algumas semanas e desde entao eu leio o texto tentando adivinhar quem escreveu :(((
O texto da Taizze bateu forte aqui. Sigo entre esperança e pessimismo , entre aceitar e me resignar 💙
E o da Bella…uma inspiração. Ou, quem sabe , um sinal 🙃