Associação dos Sem Carisma #172
Quando a monogamia tira o carisma
Ser um casal monogâmico nos modos tradicionais tem um monte daquelas coisinhas que, apesar de pequenas, causam grande irritação. Ainda mais quando uma das partes do casal tem carisma e a outra não.
Como o É Nóia Minha? da semana falou sobre a monogamia (ui! Polêmico!), reunimos aqui algumas coisas que tiram o nosso carisma sendo um casal.
A loka dos signos
Passar vergonha é uma especialidade minha, por isso venho com um caso fresquinho pra vocês. Ontem fui até meu apartamento que está em obras e encontrei o Seu Elias, empreiteiro virginiano que sempre falo nos episódios do Nóia. Ao lado dele estava um funcionário que eu ainda não conhecia, e quando Seu Elias nos apresentou, além do nome, ele completou com "ah, e ele é libriano!" — pelo menos foi o que eu entendi. Só vi que estava enganada pela cara dos dois conforme eu ia falando. Eu toda animada dizendo "que legal, adoro librianos, minha mãe também é, esse lado da estética que o signo tem é muito legal, né?".
O cara quieto me olhando desconfiado, Seu Elias começa a ter um ataque de riso. "Camila, ele é liberiano, ele nasceu na Libéria." Hoje não visito a obra por vergonha. E sim, podem rir de mim, quem ama signo tem dessas…
Na próxima, quero vir homem
Os homens podem tudo. Eu morro de inveja. Numa semana em que cinco idiotas se implodem dentro de uma airfryer da Mondial — como alguém descreveu no Twitter —, e um sexto idiota recebe até parabéns por humilhar a namorada grávida publicamente, tudo que eu queria era ter nascido homem cis.
Deve ser uma sensação de poder absoluta não precisar ser responsável com rigorosamente nada ou ninguém. Beleza, você tem lá seu trabalho, é obrigado a ganhar dinheiro pra prover, mas tudo tem limites, né? Mais responsabilidade do que isso já é demais! Botar até o filho numa lata de sardinha controlada por um joystick não me parece mesmo nada demais. Nem se dar só ao trabalho de trocar de roupa pra encontrar a esposa depois de ter passado a véspera do Dia dos Namorados com a amante? Me parece algo razoável!
Juro, que inveja do vazio que faz dentro dessas cabeças. Como eu queria habitar um cérebro que não pensa, que não se preocupa, que não se importa! Deve ser de uma leveza inebriante. Uma paz de espírito poucas vezes antes vista. Imagina, não precisar se preocupar com nada ou ninguém além de você. Nos meus sonhos mais delirantes, é pra lá que meu desejo vai. Mas, ao contrário desses, a vida real trata de me acordar em segundos.
Nesses casos em particular, tenho muita inveja também desse dinheiro que compra tudo. Compra o perdão, os parabéns, a realização dos sonhos mais delirantes. Eu não acho que compra 100% da felicidade, tá? Não acho mesmo, mas chega a uns 90% com tranquilidade.
Esses 10% me pegam. E hoje, tô particularmente assombrada com a tal carta que a mãe dos filhos do Gugu escreveu pra ele e caiu na mídia. Sozinha em meus pensamentos, eu até defendi essa mona, achei que ela merecia uma fatia desse bilhão. Agora, tô indignada. Aquilo não é uma carta, é uma sessão de tortura. Uma reunião das piores coisas que você pode dizer a um homem gay. Fiquei um pena do Gugu, mesmo ele sendo um bilionário. Que fatia triste da vida, que nem o dinheiro foi capaz de comprar. Que vida miserável dessa mulher. Haja terapia pra esses filhos.
Enfim, sigo com inveja dos homens cis. Eles também morrem, também sofrem, também se arrependem (será?). Mas, diferente de muitas de nós mulheres, conseguem realizar seus sonhos, enriquecer e serem muito felizes no meio de tudo isso.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Hoje aconteceu uma parada que me deixou super reflexiva, para variar, e eu queria compartilhar com vocês, sem carismers.
É engraçado como, a partir da news, dá para saber e entender tanto sobre a gente, em que período da vida estamos, se estamos apaixonados, estressados, querendo sumir, gritar com o mundo, e essas coisas que qualquer ser humano com mais de 18 anos tem vontade, sabe? RSKK
Digo isso porque hoje eu estava conversando com umas amigas, quando de repente falei sobre estar com muitas saudades da minha terapeuta, que está de licença maternidade desde o final de fevereiro, e na sequência veio o seguinte comentário: "Nossa, é verdade! Você não fala dela na news tem maior tempão!"
Cara, e é verdade! Eu não tinha me tocado do quão importante é a terapia para mim até nesse aspecto da vida, no que eu acabo escrevendo e entregando aqui para vocês.
Quantas camadas a terapia cobre e também descobre em mim. Uau, estou toda descoBERTHA! Du Neida, desculpa.
Nos últimos meses passei por algumas situações bem difíceis, que não cabem agora, e eu senti tanto a falta daquela uma horinha por semana no consultório da minha terapeuta, mas tanto!
Isso que já são mais de 17 anos sendo adepta, e passando por diversas psicólogas (diversas = três), eu sigo sentindo falta desse encontro semanal. Fico pensando até sobre o conceito de alta na terapia, e de como para mim ele nunca existiu ou vai existir. Não sei se por necessidade ou vontade, os dois talvez.
Nesse tempo todo de análise acabei descobrindo diversos recursos dentro deste cabeção para desenrolar a vida e as suas situações mais complexas (inclusive, escrever é um desses recursos), mas sinto a sua falta, mesmo, muito.
Sinto a sua falta e não vejo a hora de voltar para você, terapia.
Essa podia ser facilmente uma carta de amor, e eu acho que no fim acabou sendo.
Não tenha dó de bilionário
Se você não está vivendo no mundo da Lua como os personagens da semana, você sabe do submarino de bilionários que desapareceu durante uma expedição ao Titanic. Porque é sempre uma boa ideia fazer um turismo a quase 4 mil metros de profundidade. Eu, sinceramente, se tivesse a grana que esses caras têm, faria um rolê desses, mas é porque sou doida e curiosa. Mas eu pelo menos seria INTELIGENTE de fazer isso com segurança, porque esses caras foram tão burros que pagaram milhões para entrar numa lata velha controlada por joystick da Logitech. Com a tecnologia que temos, com o James Cameron vivo depois de tantas visitas ao naufrágio, eles poderiam ter pagado por coisa melhor.
Agora, não vou mentir: essa história me entreteve muito. Tudo o que envolve ela é tão absurdo que não tem como não rir. O submarino feito com peças usadas, a "alta tecnologia" dele, com apenas um botão para subir. A comunicação feita por mensagem de texto. O filho de um dos bilionários indo ver show do Blink-182 e deixando claro que ele está solteiro, enquanto o pai está ou morto ou prestes a morrer. É um mundo tão incompreensível que a única coisa que podemos sentir observando de longe tudo isso é achar graça. É pensar "caralho, como podem ser tão burros?".
São tantos memes maravilhosos, tantas atualizações que deixam a história cada vez mais aleatória, e eu estou aqui me esbaldando com o resto da internet. Mas aí chega a galera do "nossa, que horrível vocês fazendo piada com a vida das pessoas". A galera que chamamos de defensor de bilionário, que está sempre aí, à espreita, esperando a oportunidade de defender rico. Claro que uma vida é uma vida, e não é legal fazer troça com a tragédia alheia. Mas volte a ler o primeiro parágrafo: bilionários, motivo ridículo, tecnologia pior ainda, local perigoso. Os caras pediram pra dar merda.
E outra: quem tem dó de bilionário? Nesse sistema em que vivemos, a gente sabe que se esses caras concentram tanto dinheiro assim, é porque exploraram milhares de pessoas para conquistar esse dinheiro. Se o bilionário em questão já nasceu bilionário, os pais, avós, bisavós provavelmente exploraram alguém. Não é uma questão de justiça ou distribuição igualitária de renda não. Grandes concentrações de dinheiro vêm da exploração do trabalho alheio. O cara tá bilionário, o funcionário tá todo fodido tentando sobreviver.
Se você, como eu, está tirando sarro da cara dos bilionários, não se culpe não. É uma situação tão fora da realidade, como eles todos são, que é mais do que comum que nossa reação seja rir. E merecemos dar umas boas risadas. Ainda mais de quem não tem pena da gente. A única coisa que me incomoda é que os bilionários provavelmente serão premiados com um Darwin Award esse ano. Até isso eles tiram da gente.
O que ouvir caso estejas em situação de submarino
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
No É Nóia Minha?, Camila recebeu Vitor diCastro e Hana Khalil para responder a polêmica questão: a monogamia é cafona? A resposta é não, mas vai ouvir!
No Ppkansada, Taize, Isabela e Bertha conversaram com a Kéren Paiva sobre nossa autoestima quando o assunto é nossa pele. Vem escutar!
No Conselhos que você pediu, Bela deu aquela letra para você que não consegue priorizar as coisas. Escuta!
E no Santa Reclamação de Cada Dia, a Taize reclamou de ghosting em pleno 2023, uma questão que achava que tínhamos superado.
Se cuida, viu?
Terminamos aqui mais uma Associação dos Sem Carisma! Lembrando que se você quer receber o JORNEWS, a versão impressa dessa newsletter que lançaremos lá pro finalzinho do ano, é só vir aqui nesse link e deixar seu endereço. Em breve as inscrições acabam, e quem pegar, pegou.
É isso, até semana que vem, beijos e se cuide, tá?
Camila, Isabela, Bertha e Taize
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