Associação dos Sem Carisma #175
Formulário de requerimento de nova amizade
Uma tarefa difícil de cumprir na vida adulta é fazer amigos, ainda mais para nós, os desprovidos de carisma. Como saber se essa amizade corresponderá às nossas expectativas – que já são baixas? Vai que o novo amigo seja super extrovertido?
Seus problemas acabaram! A Associação dos Sem Carisma apresenta este formulário de requerimento para novas amizades. Mande para o seu prospecto e seja vitorioso nesse processo seletivo!
Dia de dica
Como falamos sobre amizade no último episódio do Nóia, acho que essa indicação de documentário tem tudo a ver. Wham!, já viram? Era o grupo que o George Michael fazia parte no início da carreira, junto com o seu melhor amigo Andrew Ridgeley, e eu arrisco a dizer que nunca vi uma amizade tão legal quanto a deles (estaria eu mandando uma indireta para os meu amigos? Fica o mistério…).
Mais do que curtir musicas muito legais, você acompanha as várias fases que a banda passou e como eles conseguiram manter a admiração e respeito um pelo outro. Deu um quentinho no coração!
Casar não vai resolver os seus problemas
Tem uma vertente de conteúdos voltados para mulheres nas redes sociais que vem me irritando com frequência. Não sei se são coisas que se encaixam na categoria MULHER MICHELLY – aquela que vive de correr atrás de macho e ficar inventando rivalidade com outras mulheres –, mas tá aí, do ladinho.
Então quero propor aqui a análise da seguinte frase que apareceu na minha timeline: "só namoro pra casar, se eu tiver que superar mais alguém eu me interno".
Li isso e me perguntei: essa pessoa conhece o casamento? Ou ela acha que tudo se resolve depois que você sobe no altar? E que não vai precisar superar nada depois de uma eventual separação – ainda mais difícil de fazer se você está casada?
Eu fico de cara que em pleno 2023 a gente ainda está se iludindo com esse tipo de pensamento. Estamos há anos reclamando de homens héteros cisgênero e suas atitudes nos relacionamentos, a falta de cuidado, de responsabilidade. Mas assim, olha bem para o que vocês estão procurando.
Não faz mais sentido na minha vida essa coisa de passar por etapas para ter a sensação de que um relacionamento teve sucesso, como se fosse um joguinho de tabuleiro ou vídeo game. Começa com o date, passa para a ficada, vai para o namoro, vai para o noivado (se você for super tradicional) e termina no casamento. Parabéns, você ganhou!!! Se fosse assim, até eu casaria.
Me irrita de verdade as pessoas ainda acharem que isso é o mais importante num relacionamento, como se o casamento não tivesse inúmeros problemas. Eu sei que muitos desses posts são feitos como uma piada inofensiva para engajar, mas o engajamento é tão alto, são tantos "nossa, euzinha", que eu fico "Mona, você é maluca? De verdade, mona". Como você vai ter um relacionamento saudável se já chega no cara com essa necessidade de passar por todas as fases do jogo, achando que isso vai te fazer feliz e resolver todos os seus problemas sentimentais? Mulher, acorda.
Além da irritação, vem uma certa pena também, sabe? Porque esse tipo de coisa parece manter o famoso status quo de relacionamentos que, em grande parte, não beneficia as mulheres. O mercado nos vende a noção de que o casamento (e depois os filhos) são o ápice da existência humana, e a gente acredita e sonha em fazer 3 festas diferentes porque agora essa é a moda. E eu sempre lembro de Silvia Federicci dizendo que, ao se casar, o homem conquista muito mais benefícios do que as mulheres. Eles ganham a dona de casa, a amante, a cozinheira, a faxineira, a psicóloga. As mulheres ganham um bebê adulto para cuidar.
Claro, há casamentos lindos, longevos, realmente admiráveis, mas vamos ser sinceros: provavelmente essa galera não casou forçada pela fantasia social do matrimônio. E essa galera sabe, também, que casamento não é uma festa e é recheado de problemas a serem contornados. É como Bela Reis sempre diz: amor não é o bastante, viver a dois exige trabalho diário. Uma escolha diária.
Meu recadinho final é: fia, se você vai deixar de se relacionar com pessoas bacanas só porque elas não querem se casar com você, quem está perdendo é a sua pessoa, e não ele. Quem tá deixando de viver é você, porque só vale a pena estar com alguém se isso for terminar em casamento. E as chances de você se frustrar, se casar, são muito grandes. O casamento também vai te iludir.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Essa semana eu entrevistei a mentora, jornalista e maravilhosa Bru Fioreti para o Jornews Sem Carisma (vem aí, hein), e a minha cabeça quase explodiu de tanta identificação com tudo o que conversamos.
O nosso papo principal, digamos assim, foi sobre burnout, mas acabou que fomos falando sobre diversas outras paradas e camadas que englobam a saúde mental — vida, relacionamentos, expectativas, pré-concepções que fazemos sobre nós mesmos.
Chegamos à conclusão quase que metalinguística desse texto de que nada, nem ninguém, é uma coisa só, um fator isolado, tá tudo interligado.
Ela falou sobre viver o luto de uma versão antiga dela, e de como isso é difícil, da gente desapegar de algo que já passou, né?
E também desapegar da ideia de que a gente não é o que esperava ser, o que a gente concebeu ali na nossa mente em outro momento da nossa vida.
Ainda mais quando a gente foi criado ouvindo dos nossos pais, familiares em geral, aquele papo de "você é alguém especial".
Sabe esse papo? RS.
Não tem um amigo meu (millennials preferencialmente) que não tenha ouvido isso na vida.
E eu não tô falando isso em um tom de culpar os nossos pais e familiares não, é só um fato que foi analisado pelo IBGEBEBETA, rs, e faz sentido aqui.
E não só aqui, mas também para comigo, que sempre fui muito apegada ao passado, e a uma certeza do que eu seria ou não na minha vida.
Conversamos sobre isso na segunda-feira, e parte do texto você vai ler no Jornews em breve, e enquanto isso eu sigo pensando e reverberando essa conversa aqui.
Beijos pensantes, desapegados e cheinho de coisa na cabeça,
Bertha.
Eu quero uma vida de loira platinada
Briga de amigo
Nos últimos dias, minhas relações de amizade andaram passando por aquele fenômeno nada agradável e muito cansativo conhecido como briga, treta, guerra, ou qualquer outra expressão que caracterize um momento pior do que enxergar o vermelho de uma espinha que está prestes a crescer quando se olha no espelho.
Isso porque brigar com aquelas pessoas que você compartilha a maior parte das suas ideias e sentimentos é capaz de criar um vazio muito único — e pior do que qualquer vazio de geladeira após um final de semana de muita fome, digo com convicção —, porque parece que brigamos com uma parte de nós mesmos (Freud?) e faltasse algo que não pudesse ser substituído por coisas que nos afastam da realidade, como televisão, música e, até mesmo, longas limpezas na casa. Inclusive, essas longas limpezas são falsamente eficazes, já que permitem a criação de cenários de discussão entre você e a pessoa com quem está brigando.
Já parou pra pensar sobre isso? Quantas vezes você não passou um rodo enquanto discutia imaginariamente com outra pessoa, ou enquanto lavava a louça, ou enquanto dobrava uma coberta? No meu caso, minhas encenações acontecem, principalmente, enquanto lavo louça. Crio um cenário — que é meu preferido — onde exponho todos os meus fatos e argumentos dentro de um tribunal — um tanto injusto, já que é coordenado por mim — e acabo escolhendo o que é válido entre meu ponto de vista e o ponto de vista que eu imagino ser o do outro ser humano com quem estou brigando. Na maioria das vezes, por fim, ninguém ganha, pois sou libriano. No entanto, é no meu tribunal imaginário que consigo expor todas as minhas ideias e, talvez, enxergar um pouco o lado do outro enquanto lavo uns copos, dando utilidade aos meus momentos paranóicos.
Eu sei que o que acontece no mundo real tem muito menos glamour do que na minha imaginação, e não é nada próximo do Legalmente Loira versão Claudio Thorne que aparece na minha cabeça. Por isso, evito com todas as minhas forças ter um “debate” presencial, pois tenho noção de que minha dicção será nocauteada pelo meu nervosismo e nada ficará tão próximo da discussão que imaginei lavando meus copos. Agora, se realmente for necessário ir para o cara-a-cara, é essencial que exista um sofá para me encostar e um copo da água bem cheio para beber aos poucos e pausar a discussão para usar o banheiro, que também é um elemento essencial no cenário de uma discussão, pois é naqueles 30 segundos de pausa que consigo reorganizar minhas ideias e refletir com mais clareza sobre as coisas que quero dizer.
Dentre os conflitos de paranóias vs. realidade e opiniões vs. opiniões, o mais importante no meio de uma briga entre amigos é que exista, de fato, o momento para brigar. Tenho muito orgulho de dizer que minhas amizades atuais são as melhores da minha vida, justamente porque me sinto válido o suficiente para soltar as estribeiras quando for necessário. O que me torna vulnerável o suficiente para entender que, às vezes, porém quase nunca, rs, o erro também é meu.
Ouça podcasts, gostoso demais
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
Amizade foi o tema do É Nóia Minha? dessa semana, com participação de Gabie Fernandes e Luanda Vieira. Vem ouvir!
No Ppkansada, rolou um papo com a atriz Ana Hikari sobre arte, autoestima e se reconectar com as origens. Escuta aí!
Nossa conselheira Isabela Reis fala sobre independência e autonomia no Conselhos que você pediu, então ouve ela lá.
Se você é um bom médico, não ouça esse episódio. Se você for um mau médico, a Taize reclamou de você.
Um bom fim de semana a todos
Gente, vocês estão sentindo que o tempo tá passando rápido demais? Loucura, né… Já é sexta-feira de novo, já teremos um fim de semana de paz e tranquilidade — se tudo der certo. Logo logo o próximo feriado estará batendo à nossa porta.
Até lá, seguimos por aqui tentando entregar carisma em forma de texto. Esperamos ter conseguido.
Fiquem bem, tá? Beijos,
Camila, Bertha, Claudio e Taize
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