Associação dos Sem Carisma #176
Cartão de Visitas Sem Carisma
Já tem "visita" no nome, então já é uma coisa que naturalmente tira nosso carisma, né? Mas a vida profissional exige, muitas vezes, aquele networking, aquela troca de cartões e contatos com pessoas que você nem queria ter conhecido.
Pensando em vocês, membros desta associação, preparamos esse Cartão de Visitas Sem Carisma para você preencher com seus dados e passar o recado pro colega. Imprima e utilize — com moderação, quanto menos gente tiver o seu contato, melhor.
Camila Takes NY
Nossa fundadora está viajando — pois é! De novo! Vem se mostrando muito rolezeira, ela. Então hoje não tem texto de Camila na news.
Mas fiquem com ela na Time Square.
Espaço
Apartamento de 16 metros quadrados, mulher vivendo no banheiro do trabalho, mais uma construção antiga sendo derrubada para que um novo empreendimento moderno e arrojado seja lançado — com o mínimo de espaço possível e o máximo de preço. Ah, São Paulo. Isso você só encontra aqui. (Mentira, deve ter em outros lugares também.)
Quando me mudei pra cá, morei em uma espécie de "kitnet com quarto" na Liberdade, devia ter uns 25m ou algo assim. Cozinha e sala eram a mesma coisa, o quarto tinha um tamanho bem justo e o banheiro pequeno tava ótimo. Não era o ideal, mas era um bom achado para uma recém-chegada. Sem vista e sem privacidade, já que eu conseguia ouvir todos os vizinhos.
Lembro com saudade até desse apezinho, quando era só eu e o Horácio (o gato), mas logo quis mais espaço. Por sorte, os próximos apartamentos em que morei aqui eram de tamanho considerável (70, 80 metros quadrados), todos eles em prédios mais antigos, porque se tem uma coisa que aprendi em SP é que prédio novo (como o primeiro em que morei) é sinônimo de parede fina e espaços apertados. O apartamento até pode ter uma metragem boa, mas o layout é tão esdrúxulo que faz tudo parecer pequeno.
O foda é que essa é a tendência imobiliária do momento: empilhar a população em altas torres com o máximo de ocupação possível. E o máximo de ocupação é entulhar a galera em quartos minúsculos, como se a gente não precisasse de espaço. E vendem isso como o futuro da humanidade, geral viver dentro de uma cápsula, e tentam convencer a gente de que isso é bom (por estar "bem-localizado", por ter alguma coisa que faça com que você saia o mínimo de casa). A gente não é muito de sair de casa, mas assim: não tem como viver em um lugar de 20 metros quadrados e ser feliz. Não sem conseguir se movimentar direito dentro da sua própria casa.
Voltar para o interior é lembrar o quão caótica é essa ideia de quererem apertar a galera em um espaço minúsculo. Me dá uma saudade de ter um jardim, uma varanda maior, um espaço aberto. Ainda sonho que um dia terei minha casinha no mato, e ela provavelmente será maior do que qualquer novo apartamento que esteja sendo construído em São Paulo (e bem mais barata). Mas ter isso aqui, agora, tá virando realmente um luxo. Dá até medo ter que sair de onde moro agora e não conseguir achar nenhum lugar decente que não custe um rim e tenha um espaço digno.
A gente precisa de espaço pra se movimentar, pra descansar, pra guardar as nossas coisas e mantê-las perto da gente. E pelo jeito, aqui nessa grande cidade, até isso querem tirar da gente com todo esse negócio de tower-minimalist-modern-co-living-sp-view, em que você terá uma vida miserável morando dentro de uma caixa da Amazon.
Pé na terra
Eu ia escrever sobre outra coisa até ler o texto da Taize aqui em cima e decidi falar DELA: Cleide Lifestyle. Talvez você não conheça a Cleide, eu mesma conheci ela semana passada e já me encantei profundamente. Cleide e o marido são agricultores de Teófilo Otoni, Minas Gerais. Eles são pais de Gustavo, de 10 anos, e Geovana, de três. Cleide tem mais de 600 mil inscritos no seu canal do YouTube Cleide Lifestyle, onde ela compartilha sua rotina na roça: plantar, colher, cozinhar. Para uma millennial da metrópole como eu, é hipnotizante.
Durante minha infância, minha avó tinha uma casa com quintal enorme e naqueles canteiros a gente plantou de tudo: cenoura, feijão, capim limão, boldo, mamão, arruda. Sem grandes técnicas, só o feeling e muito tempo entre avó e neta nos finais de semana. Eu entrava nos canteiros e passava o dia todo plantando, replantando. Minha avó se mudou, a vida adulta chegou e eu perdi a mão para plantas. Na verdade, demorei pra entender: eu detesto plantar em vaso. Faz sujeira, tem que limpar depois, a rega precisa ser milimétrica, a luz nos apartamentos é um sofrível, a adubação é calculada. Que burocracia infernal é tentar manter uma planta viva dentro de um prédio. O que eu gostava mesmo era entrar inteira no meio da terra.
E aí foi onde Cleide me pegou na curva. Seus vídeos passam de um milhão de vizualizações, eu sou só mais uma completamente encantada com a variedade e quantidade de alimentos que eles plantam e comem. Fico impressionada com a organização, o planejamento envolvido no plantar hoje algo que você quer comer dali a três meses. Outro dia vi a Cleide fazendo um biscoito polvilho. Você acha que ela comprou o polvilho no mercado como os meros mortais tipo eu e você? Jamais! Ela colheu a mandioca, descascou, bateu com água, deixou decantar, pôs no sol pra secar e uma semana depois ficou pronto o polvilho doce. Uma semana de preparo para fazer um biscoito polvilho. Poderia ser mais: ela disse que se fosse o polvilho azedo eram 40 dias num processo de fermentação.
Metade de mim fica nervosa e pensa “meu deus, era só comprar um pacote no mercado!!”, e a outra metade sente muita inveja da vida que corre nesse outro tempo. Por que não esperar o tempo do polvilho? Por que a minha vontade não pode aguardar o tempo da natureza? Será que as pessoas que vivem nessa velocidade de vida tem essas vontades tão urgentes que fazem a gente pedir um delivery de algo totalmente dispensável à meia-noite? Eu desconfio que essa agonia só exista pra quem precisa apagar incêndio o dia todo. Se tudo é urgente, tudo é urgente, né? Do trabalho à vontade de comer um docinho.
Eu fiquei fascinada pela Cleide porque ela me mostra um tipo de vida que não existe ao meu redor. Lenta, saudável, conectada só o suficiente, simples, pé na terra. Sei que posso estar idealizando demais. Estou ciente e quero continuar. Não é a Cleide em si, coitada. É a minha memória de infância. É minha crença de que todo mundo deveria saber plantar alguma coisa de comer, que todo mundo deveria ter um pedaço de mato e de terra pra botar o pé no chão. A certeza de que não existe vida digna se há desconexão com a natureza.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Com quantos cafezinhos se faz uma gastrite? KKKK
Que eu sou toda fodida do estômago e da badiguinha (barriguinha) no geral, eu já sei faz muito tempo.
Tipo, desde o momento em que eu nasci eu só mamei leite de soja, tudo em nome da proteção desse furico que since day one não aceitava leite animal.
Eu já me conheço, sei o que faz bem e o que faz mal, e olha que eu já moro nesse corpo há quase 30 anos, hein. Porra, é tempo!
Mas por que mesmo assim, sabendo exatamente tudo o que me faz mal, eu insisto em seguir cometendo as mesmas atrocidades?
Será que é um tipo de desafio pessoal, NO LIMITE DO BEBETÃO?
Tem gastrite, mas vai lá e toma café de estômago vazio…
Tá superando o ex, mas vai lá stalkear o perfil dele pra sofrer mais um pouquinho…
É intolerante à lactose, mas vai lá comer uma Pizzona 4 Queijos…
Tá fodida de grana, mas compra só mais uma brusinha…
Bom, diz a minha psicóloga que ter um problema/uma questão e pelo menos ter consciência dele já é meio caminho andado, então acho que já estou 50% bem, na metade do caminho.
Mas, enquanto isso, vou tomar só mais um cafezinho para refletir…
Para você escutar lavando a louça
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
Teve Batalha de Nóias com Raquel Real e Mari Krüger lá no É Nóia Minha! Ouve só.
As meninas do Ppkansada conversaram com a escritora Lua Menezes sobre literatura safada e muito mais. Escuta!
Será se você é invejosa? Pois bora ouvir o Conselhos que você pediu!
E no Santa Reclamação de Cada Dia, uma explicação para certos influencers sobre como se faz um livro e os custos que isso envolve. Ouve aí!
Aproveite seu fim de semana
É, gente, esse é o ciclo interminável da vida: já estamos prontos para adentrar, mais uma vez, o fim de semana. Aqueles dois dias de descanso da vida, de zero obrigação de sair de casa. Aproveitem, viu? Pela Camila, que está batendo perna na viagem e provavelmente já está cansada. Força, Camila!
E nós ficamos por aqui. Beijos,
Taize, Bela e Bertha
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essa casadinha do texto de taize com o de bela <3 obrigada, meninas!
"essa agonia só exista pra quem precisa apagar incêndio o dia todo."
Que frase, Bela! É exatamente isso o que sinto!