Associação dos Sem Carisma #185
Guia de sobrevivência ao calor
Nosso carisma está derretido como um sorvete de milho esquecido num banco da praça. Graças à perseguição do progresso, o planeta deu uma esquentadinha que anuncia o fim dos tempos. E a gente ainda tem que trabalhar enquanto tudo isso acontece.
Para você não perder ainda mais a sua força vital nesses dias de calor infernal, aqui vão algumas dicas.
Agora trate de procrastinar o trabalho lendo esta newsletter. ;)
Dicas em geral
Pra ouvir:
Podcast Leila, disponível no Globoplay. História verídica. Mais uma das muitas injustiças que cometeram contra as mulheres. Quem narra é a atriz Leandra Leal.
Pra assistir:
Se você ainda não viu a primeira temporada de Escândalos e assassinatos na Família Murdaugh, na Netflix, saiba que a segunda acabou de entrar lá, então você tem duas temporadas pra assistir. A família é sinistra há gerações.
Pra ler:
A outra filha, de Annie Ernaux. Tudo que eu li dessa mulher eu amei, mas arrisco dizer que esse é o meu preferido dela.
Tem que acabar a autoestima do homem (hétero cis)
Autoestima é uma coisa que sempre rende assunto. Fizemos uma temporada inteira sobre a autoestima feminina lá no Ppkansada, discutimos muito como nossa visão de nós mesmas é afetada pelas pressões externas, seus padrões inalcançáveis, como é difícil atingir a iluminação do amor-próprio. Uma coisa que a gente repete, às vezes, é que gostaríamos de ter a autoestima de um homem-hétero-cis. Deve ser tão mais fácil.
Ser mulher no mercado de trabalho é aquela coisa de ser colocada lá pra baixo por qualquer homem mediano que aparece. É esse cara sem nada de especial que consegue os melhores cargos, os melhores salários. O homem-cis-hétero-médio não se preocupa se está pedindo muito dinheiro para realizar um trabalho do jeito que eu me preocupo quando alguém pede para eu precificar o que faço. Nem se sente inseguro de ser capaz de entregar o que prometeu. Ele sabe que consegue e que merece.
Esse homem pode ser tão sem sal, e ainda assim se considerar um deus grego desejado por todas, invejado por todos. A autoestima é tão grande que ele mascara suas principais falhas como grandes qualidades. Ele é tão capaz que é, de certa forma, blindado. Ninguém vai tocar nele. Ninguém vai zoar ele.
Aquele grupo de caras da universidade particular de medicina que realizou um "punhetaço" durante um jogo do time feminino é esse tipo de cara. A autoestima tá tão lá em cima que eles tiveram coragem de mostrar seus minúsculos pênis para todo mundo ver. Se deixaram filmar em toda a sua mediocridade — de atitude e de tamanho fálico —, mas na cabeça deles, estavam arrasando. Que autoestima invejável, não é?
Por isso sou a favor do fim da autoestima do homem-hétero-cis. Setembro amarelo meu cu, eu quero é zoar pau pequeno de homem escroto. Eu quero normalizar a risada de desaprovação e escracho quando notamos a falta de volume na calça do cidadão e a ausência de cabelo em seus crânios. Eu quero condicionar o pinto pequeno desse cara à sua irrelevância na Terra. Porque se não é pelo respeito básico ao ser humano, que seja pela vergonha que eles aprendam a manter o pau dentro das calças.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
o meu corpo sempre pede arrego
eu consigo listar e lembrar de forma cristalina todas as vezes em que o meu corpo simplesmente pifou e disse: “aquieta teu cy, mona!”
uma das primeiras vezes foi quando eu tinha 18 anos, depois de um daqueles jogos jurídicos (mds, que insalubridade) em que zoei pesadamente e abusei de tóxicos. não deu outra, acabou o negócio e tive uma ÚLCERA NA GENGIVA…… sério, KKKK.
depois foi com uns 22, quando meu melhor amigo foi preso, terminei um relacionamento abusivo depois de muitas idas e vindas, e também estava meio atolada no meu estágio e na faculdade. tive uma crise de pânico que me paralisou e fiquei mais de uma semana afastada na casa da minha mãe. nesse período, tive de iniciar um tratamento com medicamentos psiquiátricos e tal.
essas foram as mais dramáticas, mas eu acabei de ter uma baixa de novo, que com toda certeza foi o meu corpo dizendo mais uma vez: fia, TE AQUIETA.
peguei um frila de produção para além dos meus outros trampos (capitalismOooo, BoletoOooos, inseguranças de ser PJ… SACOMÉ), tive algumas pessoas doentes na família e eu tentei dar todo o suporte que me cabia. AND a cereja do bolo é que, mesmo assim, consegui fazer todos os rolês que podia e não podia dar para, claro, ter uma fuga da realidade que tava uma merda RSSSS. ou seja, tentei abraçar o mundo com bracinho de t-rex e me f….
bom, cá estou, com uma conjuntivite no olho esquerdo (eu nem sabia que isso ainda existia????), a garganta pegando, espirrando e com dor de cabeça.
a lição que fica é a de tentar prestar atenção no corpo e nos limites antes de pifar.
pane no CIStema, alguém me desconfigurou, kkkkk. câmbio, desligo!
Eu quero uma vida de loira platinada
Armazenamento cheio
O dia de hoje acabou sendo concentrado em um sentimento muito grande de raiva do meu celular, mais especificamente do armazenamento minúsculo dessa máquina, que consegue ser mais apertado do que a minha bexiga após três goles de água com gás dentro de um carro em uma viagem de quinhentos quilômetros sem um posto à vista.
Esse fenômeno conhecido como “Armazenamento Cheio” aparece e reaparece de três em três meses na minha vida, e me impede de fazer tudo o que mais adoro: tirar fotos, gravar performances de divas pop, mandar áudios fofocando e abrir áudios de fofoca. Para toda vez que sou impedido de realizar meus passatempos prediletos, há um grande empenho em limpar o armazenamento e deixá-lo livre por completo, já que, para seguir com minha vida normalmente, serei obrigado a raciocinar a ordem de importância de todos os aplicativos existentes e fazer uma faxina mega demorada na galeria. Então, para me livrar desse esforço, acabo sempre procrastinando e fazendo tudo pela metade ao excluir apenas três fotos + um aplicativo velho que costumava me lembrar de tomar água, mas que já está sem notificação há meses. Essa limpeza de centavos, quando realizada, acaba possibilitando um alívio imediato, mas não é nada duradouro, já que minha galeria continua entupindo o disco sem dó nem piedade.
Sobre essa questão da galeria cheia, andei refletindo sobre a carga mental gigantesca que é utilizada ao limpar uma por completo, sem contar que esse é um job infinito. Enquanto excluo fotos desnecessárias, por acaso, acabo me deparando com uma foto ao lado da minha amiga de infância em um verão de 2015, o que me deixa extremamente nostálgico e me faz parar tudo e entrar em uma ligação que dura 4 horas com mais três amigas para relembrar esses tempos, resultando no esquecimento do fato que minha galeria continua um lixão transbordante, o que me faz voltar ao mesmo círculo vicioso no dia seguinte. Limpar uma galeria pode ser mais difícil do que a segunda fase do ENEM.
Outro ponto que faz a limpeza de fotos ser tão cansativa é a bagagem emocional que toda foto carrega. Por mais que nem todas ali dentro tenham uma grande importância, todas são uma recordação dos sentimentos presentes enquanto eu as registrava. Já parou para pensar sobre isso? É instantâneo se reconectar com o momento em que tirei foto de um lugar bacana, mas que, apesar da aparência maravilhosa, estava se sentindo um caco. Pesei o clima. Mas confesso que um momento doloroso demais para mim é me deparar com fotos em que a minha raiz estava retocada. Eu era um loiro platinado com a cabeça queimada, porém satisfeito, o que me fez adiar o crescimento do meu cabelo natural por meses. Entrar na galeria é perigoso, a nostalgia pode mudar seu comportamento em um piscar de olhos.
Portanto, para melhorar as condições internas do meu pobre iPhone que completou um ano de vida, porém já capenga, comecei a dedicar um momento semanal para evitar que minha galeria transbordasse e eu me colocasse nessa posição de sofrimento de limpar o disco tudo de novo. Mas admito que todas as vezes que iniciei uma ligação por conta uma foto antiga da galeria, no fundo agradeci por essa obrigação ter me reconectado com pessoas que me fizeram muito feliz em um passado não muito distante, cuja falta daqueles momentos existia e eu nem sabia.
Ouça com atenção — ou não
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
No É Nóia Minha? dessa semana, Camila recebeu nossa Isabela Reis e Rafaela Azevedo para falar sobre os aprendizados com os relacionamentos ruins. Dá o play!
No Ppkansada, Bela Bertha e Taize falaram sobre os perrengues e alegrias de morar sozinha. Ouve aí!
No Conselhos que você pediu, a Bela falou sobre quando todas as tentativas de ajudar alguém são frustradas. Escuta!
E pra finalizar, a Taize falou sobre os embates entre gerações lá no Santa Reclamação de Cada Dia.
Tchau, e beba água
Nesses tempos de colapso climático global, queremos encerrar essa newsletter dando um recado muito importante: beba água. Compre sua garrafinha de Sheila da contabilidade (um beijo pro Thiago Theodoro e Duda Dello Russo!), deixe sempre do seu lado e não esqueça de se hidratar. Tá quente, tá seco, tá insalubre. Mas temos que sobreviver, não é?
Beijos, se cuidem
Camila, Bertha, Taize e Claudio
Lembretes de encerramento:
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E vem aqui conhecer o livro Quibe, a formiga corajosa.
"[...] a nostalgia pode mudar seu comportamento em um piscar de olhos".
Bateu muito aqui essa frase... Nostálgica ao extremo!
A autoestima masculina precisa ser estudada. É imensa a quantidade de imbecis que se acham.