Programação de Carnaval
Sexta-feira pré-Carnaval, a gente não vê a hora de desligar o compiuter da firma, se jogar no sofá e passar 4 dias sem pensar em trabalho. ALEGRIA!
E como muitos dessa associação não são lá muito chegados a estar num lugar cheio de gente suada com pouca roupa (nada contra), preparamos aqui o line-up do que vai rolar no nosso Carnaval sem carisma.
Vem que aceitamos todo mundo!
Griselda
Trago dica de série, se é que você ainda não assistiu! Eu amooo a Sofia Vergara, mas nesse papel ela tá especial. Ela faz uma narcotraficante perigosíssima chamada Griselda Blando, que existiu e foi temida por ninguém menos que Pablo Escobar. A série mostra a vida dela no auge do tráfico e retrata o machismo da época não apenas em relação à Griselda, mas também dentro da polícia.
São seis episódios muito bem roteirizados, disponíveis na Netflix. Como hoje tô de folga da função mãe, vou assistir um de seita que a Marina Smith indicou que tem até alienígena, depois volto pra contar!
O maior espetáculo de resistência da Terra
As escolas de samba são algumas das instituições mais importes do país. Eu lamento muito quem acha que é só festa. É muito mais. O Carnaval de Escolas de Samba é uma invencionice genuinamente carioca. Se você não sabe a história, eu te conto…
Lá no início no século XIX, existia uma espécie de festejo carnavalesco chamado “entrudo”, parecia um bloco de Carnaval. Foi trazido pelos portugueses, mas apropriado pela população, inclusive pela população negra escravizada. Era o caos, tinha guerra de ovo, gente que jogava xixi, as pessoas bebiam muito, saía briga e a polícia começou a reprimir esses eventos.
No mesmo momento, existiam os ranchos, que surgiram no Nordeste. Era uma festa um pouco mais organizada e elitizada que acontecia basicamente no Natal, com temática natalina e dentro de ranchos, sítios mesmo. Tinha banda, porta-estandarte e mestre-sala. Com o tempo, os ranchos começaram a desfilar, já em formato de cortejo, mais perto da data do Carnaval e a apresentar um tema, um enredo.
Os blocos de Carnaval surgem como um meio termo entre os entrudos, os ranchos e os bailes da grande sociedade, que eram os bailes fechados, de máscaras. E de onde vem o formato de desfile em cortejo? Do cortejo religioso, seja dos católicos ou os cortejos de candomblé que aconteciam ao som do ijexá, um ritmo iorubá.
A primeira escola de samba da história foi a “Deixa falar”, criada em 1928, no Estácio, bairro da região central do Rio de Janeiro. Os fundadores tinham um bloco, mas eles começaram a perceber que o ritmo das marchinhas atrapalhava o cortejo, que marchinha era um ritmo pra dançar no lugar, e não pra andar. Começaram a mexer no andamento das marchinhas e surgiu esse formato de samba mais acelerado, que funcionava melhor para o cortejo.
Para o poder público, interessava incentivar as Escolas de Samba porque organizava o Carnaval e continha os entrudos, que causavam o caos. Então, passaram a ter apoio informal e, poucos anos depois, investimento formal do Governo.
Escola de samba é das maiores sofisticações culturais do Brasil. Herdou porta-bandeira, mestre-sala, enredo e cortejo dos ranchos. As máscaras do carnaval de Veneza, os carros alegóricos do carnaval de Nice, na França.
Tudo isso profundamente entrelaçado com a cultura negra e das religiões de matriz africana. O fundamento rítmico do samba é de origem banto, grupo etnolinguístico que se concentra na região onde hoje é o Congo e Angola. As rodas de samba aconteciam na casa das tias baianas que eram iniciadas no candomblé, a maioria ialorixás (mães de santo). No início, a maior parte das baterias eram formadas por ogãs, que são os homens que tocam os ataques nos terreiros.
Quando a gente diz que Carnaval é uma festa política, é porque ela surge de embates sociais e raciais, entre ricos e pobres, brancos e negros, escravocratas e escravizados, Estado e religião. Mas o Carnaval de Escolas de Samba é uma festa criada por pessoas negras e pobres e existe até hoje por conta dessas mesmas pessoas. Ainda que, atualmente, sob o domínio do Estado e dos patronos da escola, muitos deles contraventores — mas aí é papo pra série Vale o escrito. Assistam!
Antes de virar moda salvar Iemanjá no dois de fevereiro, eram as escolas de samba que estavam lá resistindo todo Carnaval com seus enredos afro-religiosos reverenciando os orixás. As religiões de matriz africanas não foram aniquiladas, mesmo com tanta perseguição, também porque o Carnaval nunca dissociou da sua origem nos terreiros.
Eu sou Beija-Flor de Nilópolis desde que me entendo por gente. Minha primeira vez assistindo a um desfile na Sapucaí foi aos dois anos de idade. São 26 anos de Sambódromo, 14 anos de Candomblé. As duas festas que se cruzam no meu peito. Eu tenho tanta fé nos orixás quanto eu tenho na potência das Escolas de Samba e dos sambistas, de cada um que vive um barracão e cada componente da comunidade que faz a festa acontecer.
Como diria Beto Sem Braço, um dos maiores compositores e sambistas da história, “o que espanta a miséria é festa”. A gente não festeja porque a vida vai bem, a gente festeja exatamente porque a vida é difícil pra cacete. E apesar de tudo, todo ano, mais de 80 escolas de samba (só no Rio de Janeiro!) botam seus desfiles na rua. Com ou sem patrocínio, ganhando ou perdendo, mas nunca desistindo de desfilar essa história que é tão nossa.
Eu sempre penso: “Se eu morrer, o que é mais importante meu filho já aprendeu”. Eu não vou morrer tão cedo, mas é um alívio ver o amor que o Martin tem com o Carnaval das escolas de samba. É esse encantamento infantil que lá na frente vai ensinar sobre os ritos, a cidade, a geografia, a história, a fé. E aí ele estará bem encaminhado. Bom Carnaval!
Pare a tecnologia, por favor
Na semana passada a Apple lançou oficialmente seu óculos de realidade virtual e aumentada, e choveram vídeos da galera usando esse trambolho em público. Já comentei em algum lugar que esse é o tipo de produto que me dá um embrulho no estômago, que eu vejo e penso que é o fim da raça humana como a conhecemos. Porque, sinceramente, quem acha uma boa ideia você estar conectado a todo momento, sendo um verdadeiro Inspetor Bugiganga que tem múltiplas funções? Basicamente, virei uma velha que reclama das novidades. Logo eu, que sempre fui tão fã da tecnologia e da internet.
Mas acho que chegamos na hora de dar uma pisadinha no freio, sabe? A internet já me fez muito bem, me deu diversas oportunidades que, sem ela, eu nem teria chance. Então é estranho que logo eu esteja tão relutante a esses novos gadgets, uma pessoa que se fez dentro desse universo. Só que, justamente por estar afundada na conectividade até o pescoço, vejo o quão mal isso está me fazendo.
É o negócio de não conseguir desligar do que está acontecendo online, é a tradição que internalizamos de estar sempre disponível, sendo produtivos, engajando. E agora você pode fazer isso enquanto lava uma louça, anda na rua, no metrô, sem sequer pegar o celular na mão, porque ele tá na sua retina, dividindo espaço com o mundo real. Pode ser legal na ficção científica, mas agora que está aqui, me assusta. Já viramos um amontoado de dados, agora a galera vai se tornar zumbi na rua usando esse troço. A pessoa isolada com seus óclinhos não importa onde esteja.
Se minha versão adolescente de 14 anos fosse ler o que estou escrevendo aos 34, eu me acharia uma chata que tem medo do avanço. Porque lá tudo era potencial, mas depois de tantos anos convivendo com isso, não enxergo mais as novidades como uma promessa de melhora de vida, mas sim como uma piora. O que ganhamos com isso? Não basta a tela da TV, do computador e do celular na nossa cara toda hora? Agora tem que meter a tela nos olhos, virar ciborgue? Sei lá, eu acho isso absurdo.
Fora que todo o discurso das big techs é de que seus produtos foram feitos para melhorar nossas vidas. Facilitar as coisas. E realmente, facilitam. Mas ignoram que também são fonte de comportamentos e coisas que vão nos levando pra um lugar cada vez menos social e mais isolado. E somos seres humanos, gente, por mais que nos falte carisma, a vida em sociedade é fundamental. Agora imagina você, marcando um almocinho com os amigos e um deles tá lá, mostrando seu óculos super tecnológicos, vendo coisas que os outros não estão vendo, não prestando atenção no que você fala porque ele tá rolando uma timeline com os dedos no ar. É um negócio ridículo, não?
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
A mensageira
The drama of a family.
No começo desse ano, avisei o meu pai que viria ao Rio de Janeiro passar algumas semanas trabalhando, e logo ele se empolgou e disse: “ótimo, eu tenho uma missão para você!".
Aí já pensei: LÁ VEM BOSTA, kkkkkk.
Perguntei o que era, e ele disse para eu entregar uma carta para um dos meus oitenta irmãos, o que mora aqui no Rio e é pai dos meus sobrinhos mais velhos.
Fiquei PASSADA e curiosíssima, achei que finalmente meu pai faria uma carta de redenção pedindo desculpas ao meu irmão e se retratando dos anos que eles ficaram sem se falar por pura birra e idiotice do meu pai.
Será que finalmente, com quase 80 anos, ele está revendo as suas atitudes?
Eis que ele veio até a minha casa em São Paulo e saca da bolsa a tal carta. Eram três folhas de papel, sem nem tirar aquelas rebarbas do caderno, grampeadas e com uma letra que eu custei a conseguir entender.
Ele me disse: LEIA, veja o que acha.
Na hora o meu estômago gelou! Será que o cara mais coração de gelo finalmente tinha recebido uma luz divina?
Comecei a ler, e a duras penas entendi que era ele contando sobre a relação dele com Laguna (onde ele nasceu), e dizendo que ele e meu irmão mais velho não eram bons com mulheres, KK (??????), e chamando o meu irmão de O GUARDIÃO.
Acho que cada um tem o seu jeito de dizer o que deve ter passado anos se remoendo e tentando falar o que sente, esse foi o dele.
Era tudo muito metalinguístico e cheio de floreios para não chegar ao ponto? Era.
Mas foi o jeito que ele conseguiu.
Fico feliz porque, de certa forma, vejo que sempre é tempo da gente tentar fazer diferente.
Estou indo agora entregar a carta pro meu irmão!
Pod ouvir agora
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
É Nóia Minha? dessa semana está carnavalesco, pois recebeu Guta Virtuoso e Viviane Miranda para comentar histórias de Carnaval da audiência. Vem ouvir!
Vai cair nos blocos e festas de Carnaval? Então antes de sair de casa, dê o play no Ppkansada de hoje, que recebeu o Uno Vulpo para falar sobre redução de danos na muvuca. Bora se cuidar!
E no Conselhos que você pediu, Isabela te faz refletir sobre a solidão a dois. Escuta aí!
Bora, feriado!
Sendo festeiro ou não, somos brasileiras, e como boas nativas deste país, amamos o Carnaval. Mesmo que seja vendo ele de longe, pela televisão. Como não amar um feriadinho de quatro dias?
Então oh: quem é de festa, aproveite com cuidado e consciência. Quem é de descanso, fique na paz e aproveite bem, que depois vai ter muito feriado caindo no fim de semana — para a nossa tristeza.
Beijos dessas foliãs,
Camila, Bertha, Isabela e Taize
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Queria comentar especialmente para falar pra Bela que curti tanto o texto dela que vou até levar para trabalhar com meus alunos de ensino médio da rede estadual
amei essa news! cada texto me serviu em um ponto diferente hahaha e, especialmente o texto da bela, me emocionou. nunca fui do Carnaval mas não por não gostar, mas por não aprender mesmo (família crente, desfile é coisa do diabo etc). nesse ano estou tentando aprender e, talvez, apreciar coisas da nossa cultura que não me foi passado. vou ter que colocar o Carnaval depois disso ✅️