Associação dos Sem Carisma #202
Toda fofoca tem!
A gente sabe quando está prestes a ouvir uma fofoquinha daquelas. A língua portuguesa é rica em expressões que fazem parte de qualquer conversa sobre a vida alheia. Está no jeito em que chamamos o amigo para compartilhar uma história, na maneira em que introduzimos um assunto, como reagimos a ele.
E aqui estão as frases que fazem parte de toda boa (e má) fofoca. Com certeza você já disse várias delas…
Ela é um poço de dicas
Pra quem me leu semana passada aqui (sentiram um tom de cobrança?), vai lembrar que eu fiquei de assistir ao documentário do guru de seita alienígena, mas acontece que ainda não parei pra ver porque como eles falam em francês, eu fiquei com preguiça kkkkkk… MAS volto com outra indicação que é um surto. O nome do documentário é Amante, stalker e mortal, e está disponível na Netflix. Como vocês já sabem, eu sou bem medrosa, e comecei a assistir sozinha, à noite (Codré estava em gravação), ou seja, parei no minuto 11 e só voltei a assistir na manhã do dia seguinte, pois sou muito corajosa durante o dia.
É aquele tipo de doc que tem reviravoltas muito boas, a própria polícia diz que nunca tinha visto nada parecido, e a gente termina refletindo como tem gente maluca no mundo, sabe? Enfim, vale super. E agora há pouco vi o primeiro episódio de The New Look, que tá na Apple TV, e tá bem bom também. Espero que vocês arrumem tempo para assistir minhas dicas, mas como dizem os que curtem Carnaval, o ano agora começou de verdade. Vou entender se vocês demorarem semanas pra isso.
Carnaval e literatura, que coisa maravilhosa
Carnaval sempre rola aquela coisa, né? Do nada aparecem os reclamões, aquela gente que não pode ver um povo feliz, dançando, cantando, fazendo festa. Seja a turma neopentecostal, os conservadores da moral, os intelectuais que rechaçam tudo o que é popular ou a galera das finanças que acha que isso é perda de tempo (e dinheiro). Vai lá, alecrim dourado, nos conte como você é elevado culturalmente enquanto fala merda sobre o Carnaval…
Como a Isabela bem disse na edição passada, Carnaval é pura cultura e conhecimento. Além da união das comunidades, há todo um trabalho de pesquisa para contar uma história na avenida. E o que surpreendeu muita gente esse ano foi a visibilidade que as escolas de samba deram para a literatura.
Vários sambas-enredos foram inspirados em livros. A Mocidade Alegre, campeã do Carnaval de São Paulo, trouxe a Pauliceia Desvairada de Mário de Andrade e deu show ao retratar a viagem do autor pelo país em busca de diversidade nas manifestações culturais. Salgueiro se baseou em A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, verdadeiro documento sobre esse povo e apelo pela preservação da Amazônia. A Grande Rio foi de Meu destino é ser onça, de Alberto Mussa. E a Portela emocionou geral com o samba-enredo de Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, que me fez chorar copiosamente – nunca pensei que isso aconteceria vendo um desfile de Carnaval. A Viradouro, campeã do Rio, se baseou numa obra ainda mais nichada, Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII), pesquisa de Aldair Rodrigues e Moacir Maia
E o efeito não poderia ser melhor: as pessoas viram os livros sendo adaptados nos desfiles e correram para comprar. Olha o poder que o Carnaval tem, de fazer esgotar um livro de quase mil páginas, escrito por uma autora brasileira contemporânea. Isso só reforça o quão importante é abraçar todas as manifestações culturais. Mostra como uma fortalece a outra. Ainda mais nesse Brasil sem leitores, nesse país que não forma a gente para a leitura.
Eu sempre digo que ler não é significado de inteligência, e muitos leitores gostam de se colocar como superiores àqueles que não leem. Gente que prefere deixar a literatura bem longe de qualquer coisa que seja popular para se sentir especial. Gente que não faz nada pelo incentivo da leitura além de vomitar como um chato a quantidade de livros que leu e quão difíceis essas leituras foram, desprezando qualquer outro tipo de arte.
Não é essa abordagem que vai fazer as pessoas se interessarem mais pelos livros. Na verdade, só afasta. Quanto mais colocarmos os livros dentro do contexto popular, como algo que faz parte da vida – como comer e respirar, e não como um divisor entre quem "tem cultura" e quem não tem –, mais as pessoas vão olhar para a literatura com vontade de se jogar nela. E nisso aí o Carnaval de 2024 arrasou: levou para milhões de pessoas histórias que, antes, elas sequer conheciam. Isso é pura cultura.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Meu pai sempre falou uma frase do Mário Quintana que é: “Moro em mim mesmo.”
E eu levo isso meio que como máxima da vida, de que não importa o lugar, o que vale mesmo é estar bem em mim e comigo.
Mas como boa taurina com Lua em câncer e ascendente em libra, 100% venusiana, e que está há quinze dias fora de casa, acho que eles estão um pouco equivocados. Não existe nada no mundo que eu queira mais agora do que A MINHA CASINHA!!!!! E eu tô falando da casa que fica lá em São Paulo mesmo, KK.
Saudades de abrir a porta e ver o Carlos balançando o rabinho, sentir o cheirinho dela, lavar uma roupinha e estender no varal que boto em cima do puff da sala, que é onde bate mais Sol e porque não cabe tudo na área de serviço.
Saudades de sentar no meu sofazinho todo esburacado e deitar na minha caminha véia.
Sei da poesia e da beleza de que lugares físicos, o que é material, não deve sobressair ao corpo, e sim que moramos em nós mesmos. Mas neste momento, desculpa, pai e Mário Quintana, eu quero é voltar para o apê 33A.
Eu quero uma vida de loira platinada
Swarovski
Depois de muito tempo gastando com besteiras baratas, como ingressos de balada e deliveries não muito saudáveis, finalmente me superei e comprei algo realmente caro – inclusive, escrevo esse texto ao som de “Expensive”, da Erika Jayne, pois a energia é essa. Eu sei que existem incontáveis textos em que relato sobre minha leve dificuldade em economizar dinheiro, mas acho que, dessa vez, meu status de gastador compulsivo passou a ser elevado para o nível premium. Calma! Foi por uma boa e única causa: um colar.
A tour Swarovski começou em uma bela tarde de quinta-feira, enquanto me arrumava para um brunch e percebi que meu humilde colar dourado estava simplesmente inutilizável. Ele foi um presente de aniversário de quando completei 18 anos, mas não parecia nem um pouco com o dia em que chegou ao meu pescoço. Agora ele parecia mais com a corrente de uma âncora que passou uma eternidade debaixo do mar. Não me leve a mal, tiveram vezes em que realmente tentei salvá-lo esfregando pasta de dente para clareá-lo, mas tenho muita preguiça de cuidar das minhas coisas, acredito que elas deveriam durar o mesmo tempo de vida que eu sem qualquer tipo de manutenção. É ingênuo da minha parte pensar que a vida funciona dessa maneira, mas ainda carrego essa esperança. Então, sair de casa com um look ótimo, cabelo ótimo e pele entregando brilho não combinaria nada com um colar sofrido como o meu. Ao ter esse pensamento, decidi que estava na hora de elevar o nível e comprar um colar Swarovski.
Eu já tinha ouvido sobre a marca, é claro, mas nunca prestei muita atenção, até porque pulseiras e colares, caso não terminem totalmente sem vida e destruídos no meu corpo, são itens muito fáceis de perder, então nunca dei muita bola. Mas a chegada de um ser chamado Thai de Melo Bufrem na minha vida me fez olhar para essas belezuras de uma maneira diferente e me fez perceber que a pequena sementinha da moda já estava sendo plantada na minha cabeça há algum um tempo. “Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”, sabe? Não ando muito com ela, mas quero andar e preciso estar à altura. E foi aí que me vi sendo tratado como um rei que parcelou apenas em duas vezes um colar na Swarovski para usar num brunch. Na primeira vez que tentei passar meu cartão, ele não passou. QUE VERGONHA. Mas, após alguns reajustes no meu limite, enquanto suava na frente da vendedora, tudo prosseguiu como o imaginado e saí daquela loja com a alma leve, já que deixei metade dela lá dentro durante o pagamento.
Agora o que me pegou nesse acontecimento, além da euforia de comprar algo tão caro e maravilhoso, digno da minha fantasia de loiro platinado e da música que estou ouvindo no momento, foi a reação dos mais próximos à notícia de que havia comprado meu Swarovski. Enquanto minha mãe me fazia prometer de mãos juntas que emprestaria o colar para ela, a reação dos meus amigos foi um tanto diferente do que eu imaginava. Foi uma mistura de leve pavor e preocupação por mim, e eu entendo o choque perfeitamente, até porque são eles que dormem na minha casa e acabam passando fome por ter apenas meio vidro de molho pesto dentro da geladeira. Vou deixar a reação anexada aqui embaixo e o questionamento que levarei para minha terapia na semana que vem: Será que é luxo ou compulsão? Como libriano, prefiro acreditar que comprar colares está prestes a se tornar uma compulsão luxuosa.
Para ouvir lavando uma louça
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
Essa semana foi repleta de fofocas, então nada melhor do que pensar sobre isso ouvindo o É Nóia Minha?, que chamou Yas Fiorelo e Deh Bastos para falar sobre os limites da fofoca.
Lá no Ppkansada, Taize, Isabela e Bertha atualizam a audiência sobre suas choradas por cima e por baixo. Vem ouvir!
E lá vamos nós pro resto do ano…
Pronto, terminou o Carnaval, e agora teremos muitos meses pela frente para desgastar o nosso carisma. Aproveitaram bem o feriado? Festejaram? Descansaram? Que bom, fico feliz por vocês.
Agora dá licença que a gente vai se preparar para o fim de semana.
Beijos mil,
Camila, Bertha, Taize e Claudio
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Thayze!! Obrigada por contar essa história sobre os livros e o carnaval!!
Eu adoro cada compartilhar de vocês! Aliás fico ansiosa esperando para ler.