Associação dos Sem Carisma #203
Pressões da vida que sugam nosso carisma
Ser um indivíduo implica ter obrigações. E a vida nos faz aquela pressão para seguirmos "na linha", né? Nem sempre a gente queria estar trabalhando, mas a sociedade nos obriga, por exemplo.
Aqui vão algumas pressões da vida que a gente não aguenta mais.
Um cara brilhante
Eu amo brilho! Desde pequena que eu escolho a purpurina (que hoje em dia é glitter) como o meu acabamento preferido e, mesmo depois dos 40, eu ainda preciso me segurar pra não optar pelo esmalte, capinha do celular, chaveiro de casa, capa de agenda, tudo brilhante. Logo que o Instagram virou moda, a gente ficava doido com aqueles filtros de brilhinho, lembram? Blusa de paetê, então, acho uma das coisas mais preciosas que existem!
Só que ultimamente um brilho tem ofuscado minha vida, ou melhor, minhas noites. O brilho da tela do celular do Codré, no máximo da sua potência, na hora de dormir. Eu não sou do tipo que curte reclamar de coisas assim, vocês sabem disso e, poxa, ele é um cara tão legal, companheiro, carinhoso... Mas quando estou de lado, deitada para dormir, atrás de mim, junto a ele, eu tenho a impressão de que funciona também um ginásio poliesportivo, e que a qualquer momento as meninas do vôlei podem entrar no meu quarto para uma partida.
Não vou comentar nada com ele, pensei até em usar uma máscara de dormir, mas seria reclamar de uma maneira muito silenciosa, e a minha necessidade em ser agradável se sente incomodada com isso também. Escrever esse texto desabafo para vocês já é corajoso demais da minha parte, quem sabe ele acaba lendo, e sem comentar nada comigo, dá uma diminuída na intensidade. Um cara tão brilhante quanto ele não precisa disso tudo, sabe? (Aquela que dá uma puxada de saco no fim do texto.) Te amo, Codré.
A vida privada ainda existe?
Eu não canso de me espantar com as novas fronteiras da exposição. No episódio do PPKansada dessa sexta, falamos bastante sobre esse assunto a partir da nova trend de expor crianças ao constrangimento público (aqueles vídeos do xingamento no banheiro). Um papo maravilhoso com a Carol Rocha (Tchulim), que é alguém que sempre levantou muito essa bola, especialmente em relação ao filho. Vale a pena ouvir.
Eu sempre falo que tenho pânico de gente chorando nos stories. É um limite da exposição que eu não atravesso. Mas agora, quero usar esse espaço pra refletir. Será que esse marcador do choro é tão importante pra todo mundo? Eu detesto chorar na frente das pessoas e esse papo já foi devidamente desvendado nos meus 15 anos de terapia. Será que, pra mim, o choro pega mais? Será que quem chora publicamente com a maior facilidade não sente esse peso de exposição que eu percebo?
Por que me angustia tanto ver as pessoas compartilhando as maiores intimidades? Contando problemas conjugais, vulnerabilidades tão secretas para uma horda de seguidores que sequer conhece? Fico pensando se sou careta demais, sem o chip do desapego emocional que as pessoas parecem ter com suas questões, se atualmente essa fronteira entre público e privado sequer existe. Será que isso fala mais das minhas travas do que do excesso de exposição dos outros?
Não, eu não pretendo me expor mais do que já faço. Se o diagnóstico é de que eu sou uma antiquada, travada, reprimida, tá tudo certo por mim e continuarei sendo. Mas não posso deixar de olhar também pra mim na tentativa de entender por que caralhos isso me incomoda tanto. Quem ouve o Conselhos que você pediu sabe. Eu sempre faço um malabarismo ou a advogada do diabo pra provocar quem me escreve. “Ah, bacana, essa pessoa realmente é o cão. Mas por que isso te afeta? Onde isso te aciona?” E cá estou eu fazendo o mesmo por mim.
O que eu tenho a ver, meu deus, se o povo põe quase os fundilhos das calcinhas na internet? Por que isso me incomoda tanto? Por que me traz tanto horror e vergonha alheia ler as tretas de famílias de gente que deveria estar resolvendo seus problemas offline ao invés de prestar contas pra desconhecidos?
Será que eu tô realmente fora da nova “trend” generalizada de exposição irrestrita e sou chata e antiquada? Ou tá todo mundo completamente sem noção da realidade e das consequências dessa falta de filtro? Sigo pensando. Qualquer novidade, eu aviso.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Eu tenho um pesadelo constante em que eu estou no terceiro colegial e não passo de ano. Daí, logo quando acordo, demoro alguns segundos pra associar que já sou uma mona formada, não só no colégio como também na faculdade, e de quase 30 anos, Q. Dá um leve bugzinho.
Pelo menos uma vez por mês esse pesadelo costuma rolar, e hoje finalmente falei sobre ele na terapia. E ele acabou surgindo com uma associação mega inesperada, do nada só saiu da minha boca. Não era o tema principal da tetê (terapia).
Botando pra fora com a minha psicóloga e no contexto atual, me dei conta de que a minha síndrome de impostora é tão grande que eu costumo achar que até tudo o que já conquistei na vida, que já está de certa forma consolidado, pode colidir a qualquer segundo e ser uma grande farsa. Que até o fato de eu ter me formado no colegial (depois de muita recuperação e rec de verão kk, não foi fácil) é uma grande mentira e ia todo mundo descobrir. Pô, foi mó difícil, mas rolou.
Mas daí, na sessão, também saquei uma coisa, que assim como quando acordo desnorteada do pesadelo e demoro um pouco pra entender onde estou e quem eu sou, saquei que eu já tenho mais bagagem, já tenho mais certeza de mim, e de que não vou deixar a peteca cair nem para aquela garotinha, nem pra essa mulher aqui, como sempre fiz.
E aceitei também que as coisas podem sim vir a colidir, a dar errado, mas o que eu construí aqui dentro nada nesse mundo é capaz de me tirar.
Será que agora, depois dessa afirmação BELÍSSIMA KK, o pesadelo passa?
Mesmo se ele não passar, assim quando acordar, já não vou me permitir sentir mais medo dele.
Fadas vs. Lobas
Ok, essa semana teve o advento Fernanda voltando do paredão no BBB. O Twitter foi à loucura, finalmente nosso clamor foi ouvido e o Brasil permitiu que uma personagem controversa continuasse na casa. Eu, sinceramente, sou 100% Fernanda na minha vida íntima. Meu jeito primário de me comunicar é por meio de palavras chulas e baixas. No texto eu sei ser mais "civilizada", algo que a literatura me ensinou. Mas ainda me encanta aquele que sabe usar de um vasto vocabulário de xingamentos para se expressar. Acho poético.
Aqui é preciso dizer algo importante: o jeito "chulo" de falar não tem nada a ver com cometer crimes e atos contra os direitos humanos. Tem quem odeie as expressões, tem quem ame, é da preferência de cada um. Chamar alguém de rampeira não significa que eu vá esfaquear a pessoa. Não tô ameaçando a existência dela, só expressando meu descontentamento em ter que estar lidando com uma pessoa insuportável.
Porque quem não gostou do resultado do último paredão fala como se a Fernanda fosse uma grande criminosa por não tratar as pessoas com "educação". E ora ora, estamos entre semcarismers aqui, e a gente sabe muito bem que, de tanto sermos bem "educadas" com as pessoas, acabamos sendo feitas de palhaça.
Vou fazer um pequeno desvio aqui para falar de ficção. Desde a mais tenra idade somos apresentados ao mundo dos contos de fadas, com princesas e príncipes, monstros e bruxas, o bem e o mal. Histórias que foram criadas para botar as crianças nos eixos. Meter medo para que se comportem bem. Passar as lições morais daquela sociedade. Botar ordem. Eu fui uma criança alimentada por contos de fadas e, principalmente, por novelas da Globo, e conforme me tornei uma adolescente descontente com a minha existência, passei a torcer muito mais para os vilões do que para os mocinhos das novelas.
Não eram raros os vilões da Globo que faziam tanto sucesso quanto os protagonistas. Certos "mocinhos" tomavam tanto no cu que se tornavam chatos, até burros, e eu não conseguia ter empatia por essas personagens. As vilãs, principalmente, me interessavam demais, porque elas iam contra tudo o que se esperava de uma mulher.
Porque é aquela coisa: mulher ama, mulher cuida, mulher perdoa… Não, porra, eu quero é ver vingança, quero ver mulher sendo inteligente e tramando treta. Entende onde estou querendo chegar? É esperado que uma mulher seja uma fada sensata em todas as suas interações humanas, e para mim, essa personagem é a mais fraca que pode existir. Porque ela representa a mulher servil que está ali para ajudar a todos, sempre polida, sempre prestativa, sempre educada, sempre pronta pra ser regatada pelo príncipe. A gente sabe qual categoria de pessoas gosta de mulheres assim, né? Então não me interessa numa ficção, não me interessa no BBB ou em qualquer outro lugar, esse discurso de mulher boazinha, porque me passa uma imagem de perfeição que não existe, que é artificial. Fadas não são reais. Já as lobas…
Como mulher (branca, o que me dá MUITOS PRIVILÉGIOS, é bom ressaltar), eu gosto daquelas pessoas que expressam raiva, fraquezas, mesquinhez, porque todos nós vivemos essas coisas. Todo mundo xinga quando tá sozinho ou com alguém que te deixa tão confortável a ponto de você falar qualquer barbaridade (novamente: SEM FERIR OS DIREITOS HUMANOS) só pra desafogar a mente. Então assim: numa eventual guerra entre fadas e lobas, vocês já sabem de qual lado eu estaria.
Falando em LOBAS, quero deixar aqui a indicação de uma série maravilhosa e recheadas de lobas que é a quarta temporada de True Detective. O último episódio foi ao ar no domingo passado e assim, entregou TUDO! Nessa temporada tem duas protagonistas, uma delegada e uma policial de uma cidadezinha do Alaska que entrou naquele período de escuridão total. E aí rola um crime doido, e elas se juntam pra descobrir o que rolou. Tem uma pegada sobrenatural, tem cenas belíssimas, a Jodie Foster e a Kali Reis estão PER-FEI-TAS. E assim, se você tem o espírito loba (risos), o final será muito satisfatório.
Tem podcast novo!
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
Alô, fãs de Camila Fremder e Pedro Pacífico! Estreou na última quarta o novo podcast dessa dupla finíssima, E os namoradinhos?, feito especialmente para falar de tretas de família. Vem dar o play no primeiro episódio:
No É Nóia Minha? dessa semana, Camila recebeu a atriz e pesquisadora Fernanda Nobre e a ginecologista Natália Ramos, que é especialista em Reprodução Humana e líder médica da femtech Oya Care, para falar sobre a pressão para se ter filhos. Vem ouvir esse papo!
No Ppkansada, nossas queridas chamaram a Carol Rocha, também conhecida como Tchulim, para papear sobre os limites da exposição na internet. Dá o play!
E no Conselhos que você pediu, Isabela dá conselhos para quem tem aquela amiga que não larga o celular.
Pois fiquem bem
Chegamos na última sexta-feira de fevereiro. Passou rápido, né? Realmente, é depois do Carnaval que… Ok, chega, as águas de março já estão encerrando o verão (pelo menos aqui em São Paulo, onde boa parte dessa newsletter reside).
Mas e vocês, estão bem? Conversem aqui nos comentários com a gente, me conta como tá indo a vida. Entra lá no grupo do Telegram pra saber como enviar sua história para o novo podcast, E os namoradinhos?. Fortalece aí a produção de conteúdo local.
E fiquem bem, tá? Beijos,
Camila, Bertha, Isabela e Taize.
Lembretes de encerramento:
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Conheça a coleção Sem Carisma na Tangerina Moon.
Nossos caderninhos e adesivos Sem Carisma na Marisco.
E nossos ítens para o lar Sem Carisma na Cosí Home.
E vem aqui conhecer o livro Quibe, a formiga corajosa.
sobre o fadas vs lobas, é aquele ditado: ninguém aguenta mais só histórias de mulher sofrendo. queremos mais mulheres assim, mulheres empinando moto, mulheres dando tiro etc
Sobre as Lobas! Precisamos de mais Motomamis do que Helenas (do manoel carlos).
E como você coloca nas entrelinhas, queremos pessoas reais com sentimentos reais.
Um bom livro: Felizes os Felizes (Yasmina Reza)