Associação dos Sem Carisma #209
O que Mercúrio traz de volta Vs. O que ele deveria trazer
Chegou abril, e com ele veio também aquele nosso velho amigo que ajuda a gente a pôr a culpa nos astros e não na gente mesmo: o Mercúrio Retrógrado!
Quem tá por dentro da astrologia sabe que quando Mercúrio tá andando pra trás, é melhor não fazer nada de importante. Não compre eletrônicos, não assine contratos, não faça nada até ele tomar tento e voltar a andar pra frente. E é aquela coisa, né? Esse Mercúrio fanfarrão sempre traz um probleminha pra gente resolver. Mas sabe o que a gente queria que ele trouxesse mesmo? ALEGRIA! Então fica aqui nosso pedido para que o nosso planeta vizinho traga coisas melhores nesse período.
Falando sério
Eu amo gravar o Nóia, sério mesmo. Sempre saio muito feliz de cada gravação, e no meio de tantos episódios, mais de 300, dá pra dizer que na grande maioria das vezes a gente usou do humor pra comunicar. Nesses 5 anos, eu ri pra caramba e recebi vários relatos de vocês dizendo que caíram na risada no meio da academia, dentro do metrô e até no trabalho, e como isso me deixa feliz. Mas desde que lancei o quadro "Não Desconversa", um outro sentimento vem me invadindo, o de orgulho. Nunca pensei que me sentiria confortável também falando coisas tão importantes e sérias. E vocês continuam me acompanhando, agora me mandando relatos de choro emocionado em muitos outros locais públicos. E como isso me emociona também.
Ontem lançamos mais um, dessa vez sobre capacitismo, sugestão de um dos convidados. Meu orgulho se estende a vocês, que divulgam e compartilham muito sempre <3. Orgulho de ter criado essa comunidade de pessoas legais e generosas comigo. Orgulho de fazer novos amigos a cada gravação. Muito obrigada, gente, e compartilhem mais e mais porque o episódio ficou emocionante, Giovanni e Carol foram maravilhosos <3.
Realista ou amarga?
Como capricorniana, taí uma dúvida difícil de resolver. Astrologia à parte, eu sempre fui séria, meio ranzinza e ácida, apesar de ter um humor apurado (eu acho, rs). Mas vira e mexe, fico em dúvida se eu só estou sendo realista de uma situação bizarra ou se é só amargura da minha parte.
Confesso, não ando romantizando demais a vida. Aliás, já reclamei disso também. Acho uma estupidez isso de romantizar lavar uma louça, passar um pano no chão. Pelo amor de Deus. Eu sou dessas que amo minha vida, raramente reclamo da minha rotina. Sem idealizações, apenas satisfeita (e realista). Os últimos meses foram difíceis, e vocês que leram o texto de 15 dias atrás, sabem. Depois disso, ainda teve filho doente e mais de uma semana longe da escola e, quando achei que estaria botando a cabeça fora do tsunami, marido com dengue. Tá difícil não exalar amargor ultimamente.
Desde que tomei umas chamadas de pessoas próximas há anos de que eu só reclamava, passei a engolir e sempre questionar se era chato mesmo ou se a chata sou eu. Faço isso com uma frequência absurda. Tenho achado tudo meio chato, meio absurdo e eu mais insuportável ainda. Do BBB que perdeu a graça a essa moda de esposa troféu. Tenho achado tudo um porre. Será que é a vida adulta? Às vezes fica tudo meio cinza mesmo?
Desculpa o baixo astral, sem carismers. Não está sendo fácil, mas tá melhorando. Enquanto isso, muita autocrítica das minhas chatices, segurando minha marimba pra não envenenar ninguém, engolindo a língua de chicote e torcendo pra essa maré passar.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Recentemente, tive algumas experiências com o meu pai em que parecia que os nossos papéis haviam se invertido.
Quando eu era pequena a gente viajava muito juntos, e como ele havia sido piloto, ao chegar no aeroporto ele já começava a me explicar tudo, todo o funcionamento daquele lugar gigantesco. Ao sentar na poltrona do avião, a cada barulhinho de maquinaria que ia surgindo, o meu pai ia narrando o que o piloto estava fazendo e tudo o que ia acontecer durante aquele período. Ele me passava muita segurança, e acho que é por isso que eu gosto tanto de viajar de avião.
É muito maluco, porque na minha cabeça eu nasci com o meu pai sendo um pai-avô, ele tinha 49 quando vim pra esse mundão. Mas por mais que eu sempre soubesse disso, por mais que os anos estivessem passando e passando, eu nunca o enxerguei como uma pessoa mais velha, sabe?
Ultimamente eu comecei a ver. Comecei a ver o corpo que não consegue acompanhar a cabeça, algumas memórias e músculos falharem, e não é porque você quer, é só o tempo agindo sobre você.
Me dei conta disso quando pegamos um voo em dezembro do ano passado para visitar o meu irmão. Tive que guiar o meu pai a cada passo dentro do aeroporto até entrar no avião. Parecia que ele não ia conseguir sozinho, sem minhas instruções…
Aí eu me dei conta de que o tempo tinha passado, e está passando, anunciando e deixando os seus sinais.
O tempo é uma viagem…
Tem que ter IA mesmo?
A minha memória diz que eu já reclamei da Inteligência Artificial aqui — na real, eu reclamo tanto de IA diariamente que perco o registro de onde fiz isso, se foi aqui, em algum podcast, no Twitter ou na minha newsletter, sei lá. O negócio é que sempre volta essa reclamação, porque continuam tentando empurrar essa ferramenta goela abaixo.
Essa semana surgiu a notícia de que uma loja sem atendentes ou totens que a Amazon abriu tempos atrás, que seria toda gerenciada por IA, na verdade não tinha nada de tecnologia. A tal "inteligência artificial" eram, na verdade, cerca de 1000 trabalhadores indianos que passavam os dias observando os clientes da tal loja colocando as compras nos seus carrinhos através das inúmeras câmeras do local, um trabalho ingrato e muito mal pago. Você acha mesmo que Jeff Bezos quer pagar um salário decente pra galera da Índia? Quer não. O negócio dele é baixar o máximo de custos que der, por isso terceiriza esse serviço em países em desenvolvimento, pois mão de obra é mais barata — e por isso ele é bilionário.
Hoje abri meu e-mail e, numa das newsletters que acompanho, tinha a nota de que diversos artistas estão fazendo um manifesto contra o uso de suas músicas no treinamento das IAs. Afinal, nenhum artista está sendo pago para ter suas melodias, letras e vozes usadas nessas ferramentas. O mesmo protesto vem de outros membros da classe artística, como pintores, ilustradores, atores e escritores. Ninguém está recebendo nada por ter seu trabalho utilizado para criar conteúdo automatizado.
“Ai, mas a arte". Ué, um artista, como qualquer outra pessoa, tem conta a pagar e tem que receber pelo seu trabalho. E nem todas essas ferramentas de inteligência artificial são gratuitas. Você pode brincar num app qualquer pra fazer sua ilustração de uma família imaginária com um bebê esquisitíssimo gerado por essa "inteligência", mas saiba que isso está sendo feito com base na obra de alguém que sequer foi consultado se libera ou não o seu trabalho pra treinar a ferramenta. Tempos atrás passou um tweet na minha timeline que dizia mais ou menos o seguinte: essas empresas que desenvolvem as IAs não têm como resolver o problema do pagamento dos direitos autorais porque isso inviabilizaria a ferramenta. Pois então, se isso não é possível, não deveria haver a IA, né? Problema resolvido, nenhum trabalho roubado, segue a vida.
Dentro dessas empresas, aliás, há muita gente que vê essa tecnologia mais como uma ameaça do que como uma bênção. Não faltam histórias de gente prejudicada por imagens geradas por IA (lembra do caso de adolescentes que tiveram seus rostos colocados em imagens com nudez por seus coleguinhas?), gente que deixa de pagar um profissional que sabe o que está fazendo para "diminuir custos" do seu trabalho (já dei bronca num amigo meu que usa IA pra tradução, custa chamar um tradutor se seu trabalho depende disso, caralho?). Enfim, não consigo mais olhar pra essa tecnologia com otimismo. A gente sabe que, nesse capitalismo lindo, empresas que adotam IA fazem isso pra mandar funcionários embora ou deixar de contratar um profissional de verdade.
Nem toda tecnologia vem para o nosso bem. Claro, tudo depende de quem usa e como usa, mas se essas empresas não são capazes de fazer o trabalho direito, não são capazes de pagar pelo que estão usando (ou, melhor, roubando), elas nem deveriam existir. Mas né, como tudo nesse mundão, os desenvolvedores de IA estão nem aí pra gente, porque a ideia é mesmo substituir o ser humano por algo que não reclame de salário ruim e de trabalho escroto. Não se engane achando que isso veio para facilitar a nossa vida, porque trouxe uma série de problemas que o mundo todo não tá sabendo resolver.
No final, a IA tá se mostrando isso: não tem nada de inteligência, não tem nada de "artificial", são apenas um grupo de pessoas mal pagas pelo bem do lucro das empresas. Disso a gente não precisa.
Pod e deve dar o play
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
Como dito lá no texto da Camila, o É Nóia Minha? dessa semana foi um papo muito importante sobre capacitismo com o ator e poeta Giovanni Venturini e a influencer, CEO e fundadora do Grupo Talento Incluir, a autora Carolina Ignarra. Ouve aí!
E os namoradinhos? continua rendendo muita briga familiar, fofoca e risadas pra quem ouve. Prestigiem!
E no Conselhos que você pediu, Isabela falou sobre a síndrome do bom menino. Escuta aí!
Tchauzinho aê
Encerra-se aqui mais uma edição da Associação dos Sem Carisma, a newsletter com os mais variados temas e motivos para te dar carisma — ou não, porque a gente fica meio deprê às vezes, né?
Ou nem deprê, é só a energia de pressão baixa mesmo, que não deixa a gente esboçar um sorriso. Se você está se sentindo assim, aproveite o momento e justifique sua falta de alegria com “é que Mercúrio tá retrógrado". Pronto, desculpado!
Beijos a vocês, se cuidem
Camila, Bertha, Isabela e Taize
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