Associação dos Sem Carisma #219
Quando o namoro suga o carisma x Quando ele devolve o carisma
E aí, sem carismers, como foi o Dia dos Namorados de vocês?
A gente sabe que essa é uma data que geralmente cansa a nossa beleza, tanto dos solteires quanto dos namorades. Mas não queremos deixar esse dia tão importante (criado pelo João Dória Pai, risos) passar em branco.
Quem namora sabe que tem momentos em que o relacionamento suga o carisma, mas também tem aquelas coisas gostosinhas que regeneram a nossa paixão.
Vamos de dicas?
Olha só, trago logo duas dicas, porque tem gente que reclama quando não assina a plataforma da minha recomendação. Então hoje tenho uma dica da Netflix e outra do Prime Vídeo.
Netflix: Como roubar um banco. História real, bem daquele jeito que a gente gosta. O documentário começa mostrando a vida de um cara que tem uma casa na árvore toda astral, que é até meio gato e tals, mas a coisa vai virando um surto muito rapidamente. Vale a pena, me prendeu total.
Prime Vídeo: Fargo, nova temporada. A primeira temporada é boa demais, se você ainda não assistiu. Já a segunda eu não curti muito, mas isso não importa, porque elas não têm ligação, você pode assistir em qualquer ordem ou pular alguma. É muito boa, hoje assisto o último episódio. Conta a história de uma mulher que foge do seu primeiro marido e ele a encontra depois de 11 anos. Crimes surreais acontecem, e uma observação extra para a trilha sonora!
É isso, beijossss
Não ao PL 1904/24!
Em 22 de outubro de 2015, eu escrevi o seguinte texto no Facebook. Na época, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, tentava aprovar o PL 5069 que dificultava o acesso ao aborto legal em casos de estupro.
“Quero dizer que: eu tô bem triste.
Há alguns meses, recebemos o resultado do exame de DNA mitocondrial da minha mãe, feito pra investigar a nossa origem. A família que pensávamos ter começado em Cachoeira, na Bahia, na verdade, teve início na tribo Balanta, há pelo menos dois mil anos, e hoje ocupa o território da Guiné-Bissau.
Há mais ou menos três semanas tatuei ‘balanta’ na pele. O significado da palavra é ‘aquele que resiste’, por isso, escolhi o tornozelo, bem perto do pé, como uma afirmação de ‘daqui não saio, daqui ninguém me tira’.
Sendo o DNA mitocondrial, pra eternizá-lo só passando de mãe pra filha, geração por geração. Então, pra eu eternizar o DNA balanta de dois mil anos que corre em mim, eu preciso ter uma filha mulher. E pra minha filha mulher eternizar nosso DNA, ela precisará ter uma filha mulher.
E, bom, as coisas nunca estiveram boas para as mulheres.
A gente mal pode transar.
A gente não pode abortar.
A gente não pode usar a roupa que quiser.
A gente não pode sair na rua em paz.
Mas vocês se superaram. Uma menina de 12 anos não pode aparecer na televisão sem que surja uma horda de pedófilo pra sexualizá-la.
Vocês querem nos proibir de tomar a pílula do dia seguinte.
Vocês querem dificultar nosso atendimento pós-estupro.
E aí eu, com minhas preocupações precoces (mas nem tanto, já que tenho uma irmã de três anos sendo jogava nessa selva), fico pensando como se bota uma filha no mundo nessas condições?
O que mais vocês querem tirar da gente?
Isso não é só crença e religião, é ódio.
Até onde vocês vão chegar com essa raiva?
Não pensem que isso é culpa só do Eduardo Cunha. É culpa sua também.
Toda vez que seu amigo chama uma mulher de puta porque ELA FAZ SEXO e você não o reprime, a culpa é sua.
Toda vez que você dá um direito ao seu filho homem e não dá à sua filha mulher, a culpa é sua.
Toda vez que você bota a culpa na mulher que foi estuprada porque ela estava na rua de noite, a culpa é sua.
Toda vez que você chama uma mulher de piriguete porque ela usa roupa curta, a culpa é sua.
Toda vez que você impõe sua ideologia ou crença no corpo de uma mulher, a culpa é sua.
Toda vez que você fecha os olhos pra uma criança sendo abusada e pra uma mulher sendo agredida, a culpa é sua.
Toda vez que você não deixa sua filha brincar de carrinho porque é ‘coisa de menino’, a culpa é sua.
Toda vez que você dá uma cantada em uma mulher na rua sem ela ter demonstrado nenhum interesse, a culpa é sua.
Toda vez que você compartilha revenge porn, a culpa é sua.
Toda vez que você se aproveita da lotação do transporte pra roçar em uma mulher, a culpa é sua.
Toda vez que você desqualifica uma mulher porque ela não é magra, não é depilada, não usa maquiagem, não segue algum tipo de padrão de beleza, a culpa é sua.
E se todos nós assumíssemos e encarássemos essa culpa, o Eduardo Cunha não estaria brincando de marionete com os direitos das mulheres.
Eu tô bem triste.”
Passaram-se quase dez anos e eu continuo bem triste. Eu era só uma estudante de jornalismo de 19 anos, mergulhada de cabeça nas pautas de gênero e no feminismo. Coube tudo nesses dez anos. Um golpe disfarçado de impeachment, um golpista no poder, a ascensão da extrema-direita fundamentalista, um mandado inteiro de um genocida. Uma pandemia, Trump eleito, duas guerras começaram, a ascensão e queda da extrema-direita também nos países vizinhos da América Latina, o Brexit. Eu terminei a faculdade, entrei e sai de empresas, comecei outra carreira, tive um filho, sai de casa, casei.
E a violação de direitos das mulheres no Brasil continua no mesmíssimo lugar. Dez anos. O inimigo agora é outro e parece o mesmo. PL 1904/2024 que equipara o aborto acima de 22 semanas a homicídio, mesmo nos casos legais previstos na Constituição.
É o fim dos tempos. Mais um dia em que o mundo acaba e o céu cai na nossa cabeça. Pra quem nasceu mulher nesse inferno de projeto de teocracia cristã, todo dia é fim do mundo.
Do fundo do meu coração, eu não acho que esse projeto vai passar. Como em 2015 aquele também não passou. Eu acho que será somente mais um golpe na nossa cabeça, mais um gosto amargo, um baque na saúde mental, dias de terrorismo psicológico, gatilhos de violências passadas, embrulho no estômago, mais um trauma pra gente colecionar.
A gente aguenta. O que me angustia é como a gente não avança. Dez anos no mesmo lugar. Dez anos em que a gente deveria ter pelo menos descriminalizado o aborto. Nos meus maiores sonhos, legalizado para todas que simplesmente quiserem. Com segurança, acompanhamento, educação sexual, planejamento familiar. O pacote completo do verdadeiro direito de escolha. A gente não só não avançou, como regrediu na bestialização do debate, na interferência religiosa, na doutrinação cristã, no silenciamento das políticas de educação sexual. É mais um dia de fim do mundo.
O que me consola? Continuamos aqui. Unidas, nos posicionando, gritando, discordando. Não passou e não vai passar. Continuamos indignadas, com raiva, atentas. A indignação move o mundo, ou, pelo menos, impede um pouco que ele ande pra trás. Outros virão, continuaremos aqui. Avançando pouco, não aceitando nenhum passo atrás. Como nos ensinou Ailton Krenak, empurrando o céu e adiando o fim do mundo.
Mais coisas de influs que irritam
Depois que nossa presidenta Camila viralizou com sua reação aos influs que fazem suspense para onde vão viajar — ou suspense com novidades que "não podem falar ainda, mas fiquem ligadinhos amanhã" —, fiquei pensando em mais coisas que a gente vive vendo pelas redes que causam certa aflição. Até mandei umas semanas atrás uma dessas reclamações no grupo da Associação, porque precisava compartilhar esse ranço e eles me entendem.
Uma dessas coisas que me irritam é o tal do unboxing. Ok, pode ser legal, mas me dá raiva o tanto que as pessoas ficam fazendo esse suspense com uma caixa de papelão, com caras e bocas de surpresa e ansiedade como se já não soubessem o que tem dentro da caixa — a própria pessoa comprou o rolê, não é nem um recebidinho, sabe? Parece uma atuação exagerada para passar a ideia de que a vida do cidadão é cheia de surpresas e presentinhos que dão sentido à sua vida, quando a caixa contém apenas um sapato feio.
Isso puxa também meu ranço pelo setor "marcas de luxo". Acho legal, acho conceito, não vou dizer que dessa água nunca beberei, mas além do preço estratosférico que garante que apenas uma parte da população tenha acesso à esse negócio, porque exclusividade é tudo, a reação dessas influs com esses unboxing de compradinhos e recebidinhos faz parecer que ter uma bolsa Prada se equipara à emoção de ter um filho — ou adotar um pet novo, pra quem não é da maternidade. É só um pedaço de couro com uma fivela de metal representando uma marca, calma lá.
O pior é que esse tipo de conteúdo não entrega nem uma fala bacana, uma sacadinha legal, porque geralmente as pessoas reagem a isso com onomatopéias e gemidos que não dizem nada, só representam uma surpresa fingida. Me dá uma preguiça absurda. Cada vez mais tô silenciando gente que envereda pra esse lado da coisa.
Nem a ala bichinhos da internet escapa. Sou ávida consumidora desse conteúdo (se você acompanha o perfil da Associação, sabe que toda terça tem um compilado de bichinhos fofos, sou eu que faço, hehe), e sempre aparece aqueles vídeos de cachorros ou gatos fazendo alguma coisa engraçadinha com aquela voz chata do TikTok dizendo "vejam o que meu cachorro Sebastião fez". Ok, fofo, mas eu sei que esse cão não se chama Sebastião, que esse vídeo não foi gravado no Brasil, que provavelmente quem fez esse conteúdo tá em algum canto da Turquia sem ter ideia do que é um "cachorro caramelo”. A gente sabe que a cópia prolifera na internet, mas não é por isso que vou achar ok essa prática. Acho burro.
Aliás, já que citei a tal "voz do TikTok": isso é uma praga. Toda hora tem um vídeo com essa vozinha robótica chata e monótona. Ninguém sabe falar? Você não pode usar sua própria voz? Tá precisando de uma pastilha pra garganta pra se recuperar?
Pronto, desabafei minhas irritações. Me sinto mais leve? Não, porque hoje acordei puta (pelo motivo do texto da Isabela, óbvio), então raiva é o que eu tenho pra entregar.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
o círculo, o ciclo da vida
~IT'S THE CIRCLE OF LIFE, O REI LEÃO, TORANDO AO FUNDO~
cheguei em são paulo em 2012 sem conhecer uma unidade de pessoa, kk. mentira, eu tinha a minha irmã, a mãe dela e meus primos. mas, de resto, pessoas do meio da comunicação, ou que eu iria morar, trabalhar e estudar, ninguém. nobody. nada. zerinho.
muita gente muda de cidade, de estado, às vezes de país nessas condições, né
olhando para trás, para frente e pro agora, eu penso que tive muita sorte em todos esses encontros e caminhos que a vida foi me levando. podia ter dado MUITO ERRADO, mas disso a gente nunca vai saber.
óbvio que tiveram seus momentos de tensões… teve a mina que morava com a gente numa república e fazia espacate pelada na sala, comia brigadeiro de colher e guardava suja no armário, KKKKK. Tiveram pessoas que, assim que eu resolvi sair do trabalho por me tratarem mal, disseram: “poxa, agora que a gente tava começando a gostar de você, você vai embora?". ou os que já me fizeram chorar no meio da estrada de ilhabela com uma van quebrada às 23h30, kk.
mas isso fica tão pequeno, tão nadica, quando penso no tanto de gente incrível que eu encontrei, conheci e estão comigo até hoje.
essas pessoas me fazem lembrar de quem eu fui, de onde eu vim, pra onde eu vou, quem eu sou, pra onde quero ir e quem eu quero ser, sou, fui. tô mucho doidja no tempo verbal. kk
nesta semana saiu o meu podcast, que conta a história de ouvintes sobre sexo, amor, saúde, liberdade sexual e autoestima. e isso só aconteceu por todos esses encontros maravilhosos no meio do caminho durante a vida.
e é fruto de toda essa gente maravilhosa que passou e ficou em minha vida.
ouçam amor ao pé do ouvido, todas às quartas, na sua plataforma de áudio preferida. <3
Pod pôr o fone e ouvir
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
Essa semana tivemos mais um episódio do Não Desconversa dentro do É Nóia Minha?, e dessa vez o papo foi sobre transgeneralidade e não-binariedade com a Miss International Queen Brazil 2024 Jessy Lira e com Gui Lopes Teixeira, designer e Relações Públicas. Aliás, esse episódio também tem um pedido especial: bora ajudar a Casa 1? Você pode entrar neste link para fazer sua doação recorrente para a Casa 1, que acolhe jovens LGBTQIAPN+ aqui em São Paulo. Agora, dá o play!
Cidades pequenas sempre rendem boas fofocas de família, então vem ouvir mais uma história daquelas no E os namoradinhos? que saiu essa semana.
Você acha que desistir é sinônimo de fracasso? Se sim, vem ouvir esse episódio de Conselhos que você pediu.
E não esquece de ouvir Amor ao pé do ouvido, hein? Parabéns pra Bertha pelo novo podcast!
Agora ficamos por aqui
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E obrigada por mais uma semana aqui com a gente. Beijos,
Camila, Bertha, Isabela e Taize
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E vem aqui conhecer o livro Quibe, a formiga corajosa.
Isabela, seu texto conversou tanto comigo!
Tem sido dias de puro medo e terror. Esse assunto me angustia, crises de choro, revoltas internas, desespero e ódio desses políticos que tentam barbarizar ainda mais as nossas vidas.
É o horror!