Você é um medalhista sem carisma?
É ritmo de Olimpíadas, e mesmo se você não é lá muito fã de esporte, confesse: você está possuída pelo espírito olímpico. Não é como se tivesse muita coisa legal rolando no mundo pra gente abstrair um pouco…
Nós estamos 100% entregues às Olimpíadas, até porque é um ótimo motivo para ignorar as pessoas. "Desculpa, estava acompanhando a prova de tiro ao arco". São 46 modalidades/desculpas para gastar o tempo vendo TV.
E aí queremos saber: nas Olimpíadas Sem Carisma, você é um medalhista de ouro, prata ou bronze?
Faça o teste!
O ano em que disse não
Por Isabela Reis
Shonda Rhimes escreveu o livro O ano em que disse sim. Quem leu, ama. É sobre o momento em que a produtora executiva de Scandal e How to get away with murder resolveu colocar a introspecção de lado e se abrir às oportunidades. O último ano eu disse muitos “nãos”. Definitivamente, nunca neguei tanto. Foi extremamente simbólico ver Simone Biles dizendo “não”. Eu não vou competir, eu preciso preservar minha saúde mental ou vou prejudicar minha saúde física. Foi inteligente, estratégica e extremamente corajosa.
A jornalista Lola Ferreira me fez pensar muito com um breve tweet sobre o assunto: “Vamos demorar um pouco para entender a importância do ‘não’ de Biles ao ouro. Deslocar o que é o ‘topo’, entender que nada paga sua própria existência, saber que milhões de pessoas esperando não são suficientes para você deixar de ser sua prioridade.”
A pandemia nos obrigou a dar muitos “nãos”. Aos encontros, saídas, planos. Difícil foi dizer sim. O “não” mais difícil que eu dei foi decidir com meu pai — que mora em outro estado — que ele não viria ao Rio ver o primeiro neto nascer. Depois, que ele não viria para o mesversário de um mês. Nem de dois meses. Ou três, quatro, cinco, seis meses. A gente precisou aprender que “nada paga sua própria existência” e que o risco de morrer não era uma opção. Que a vida é muito longa, que ainda teríamos uma vida inteira para nos encontrar e para isso, ele precisaria estar vivo. Parece extremista, mas é só a verdade de viver uma pandemia. A gente estendeu o “não”, decidiu que viver era a prioridade.
Até que exatamente sete meses e nossas vacinas depois, meu pai conheceu meu filho. Se eu sou sem carisma, é porque meu pai poderia ser o presidente da nossa Associação. Martin é tão simpático quanto temperamental. Toda vez que ele acorda mal humorado, eu lembro de mim, lembro do meu pai. E tenho certeza de que cada “não” vale a pena.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
Essa última semana com as Olimpíadas parece que rolou um alívio para us brasileires, né?
E mesmo assim, com esse respiro, em que saímos um pouco desse que parecia um confinamento de notícias e fatos merdas — que seguem por aí e não podemos esquecer, claro — rolaram pautas super pertinentes e que merecem ser destacadas.
Atletas não bináries competindo, Rebeca Andrade sendo a primeira ginasta brasileira a ganhar uma medalha na ginástica — uma mulher preta de origem humilde —, Paulinho da seleção de futebol masculina simulando a flecha de Oxóssi ao comemorar um gol, a saúde mental de Simone Biles, entre tantas outras coisas importantes que aconteceram.
Dentro desse cosmo, o que me saltou aos olhos (e acho que de muites também) foi a discussão sobre saúde mental.
Fiquei pensando em quão complexo deve ser competir dentro de uma pandemia global, onde já tá todo mundo fodido da cabeça, e ainda sujeitos a todos os riscos de COVID, no quanto isso deve te afetar os atletas e equipes que ali estão. E o que parecia óbvio aconteceu, a maior promessa da ginástica olímpica escolheu se respeitar não competindo em prol da sua saúde mental.
Mas a partir do momento em que isso acontece, onde enxergamos Simone Biles dizendo não e se respeitando desta forma, um novo universo se abre para falarmos da importância da saúde mental em nossas vidas, mais uma vez.
Isso de certa forma nos traz empatia e humanidade. Eu, por exemplo, que claramente nunca fui uma atleta olímpica, pude me enxergar ali. E acredito que muita gente também.
Quantas vezes a gente já não passou dos nossos limites, ou não quis desistir por medo de desapontar, pelo medo da frustração e julgamento. E digo isso fazendo uma comparação ao nosso dia a dia mesmo, das nossas realidades e corres.
Acabei lembrando de quando tive a minha última crise de pânico, onde eu tive que me afastar do trabalho, da faculdade e todo universo que me permeia por um tempo a fim de cuidar da minha saúde mental.
Fiquei um tempo sem conseguir sair de casa, comer, dormir, parar de chorar e tinha a plena certeza de que eu poderia morrer a qualquer segundo, não que isso ainda não possa acontecer, mas vocês entenderam, né? RISOS kkk
Ah, e eu não estava prestes a participar de uma olimpíada, nem nada do tipo, só estava vivendo a minha vida na sua maior ordinariedade possível, rskk, com as questões que para mim, dentro do meu espectro, talvez poderiam se equiparar a uma situação de pressão como a da Simone, ou não também. Cada um cada um, já dizia a minha Vó.
Uma coisa foi muito clara depois que eu me cuidei, procurei ajuda e recuperei, foi a de que eu não respeitei os meus próprios limites e não fui capaz de olhar para mim por um bom tempo.
Eu já não estava bem fazia meses, um ano quase, e não quis encarar, até que não deu mais para fingir.
Fui criada em uma geração que não falava sobre cuidados com a saúde da nossa cabecinha, e que quando falava era sempre em um tom de julgamento ou deboche. Por muitos anos escondi e não falava sobre ter crise de pânico e ansiedade, eu precisei literalmente "pifar" para conseguir me abrir e enxergar que não estava sozinha nessa.
Quantas vezes eu já não tive crises em uma situação em público e fingi estar tudo bem pelo medo do julgamento. Não consigo nem contabilizar.
Eu olho para trás e fico imaginando se quando eu era adolescente tivesse uma Simone Biles prezando por si com a dimensão de uma Olimpíada, acho que as coisas teriam sido diferentes e um pouco mais tranquilas para mim.
Mas o que passou já foi.
O que sei é que, daqui para a frente, muita gente vai se identificar e ver que está tudo bem parar ou desistir em prol de você e da sua saúde mental.
Leituras olímpicas
Por Taize Odelli
Eu já não sei o que será da minha vida depois que acabarem as Olimpíadas. Elas estão sendo meu alimento dia e noite. Elas são uma das poucas coisas que vem me trazendo alegria de viver. Eu amo um evento esportivo mundial, é isso.
Mas ao invés de falar de esporte aqui hoje, quero indicar leituras. Sim, olha que coisa. A literatura tem bastante coisa ligada ao esporte, e vou indicar alguns livros aqui. :)
Segundos fora, de Martín Kohan
O boxe é um dos esportes mais tradicionais das Olimpíadas, mas não é um dos que mais me atraem. Mas esse livro do argentino Martín Kohan é maravilhoso demais. Ele se passa em dois momentos diferentes, entre 1923 e os tempos atuais, e entre Buenos Aires e Nova York. Enquanto uma orquestra sinfônica se apresenta na capital argentina, uma luta de boxe entre Jack Dempsey e o argentino Luis Ángel Firpo acontece em NY. Dois jornalistas relembram esses dois acontecimentos, e acabam descobrindo um possível crime. É um livro bem diferente, mas muito bom.
Dupla falta, de Lionel Shriver
Da mesma autora de Precisamos falar sobre o Kevin. Aqui a narrativa é feita pelo ponto de vista de Willy, uma tenista que busca a ascensão no ranking. Ela acaba casando com um outro tenista, mas no lugar de uma relação tranquila, ela se vê sendo afetada no esporte pelo relacionamento. Enquanto o seu desempenho cai, o do marido cresce. É uma história daquelas bem pé no chão sobre relacionamentos e ambição.
Esforços olímpicos, de Anelise Chen
Athena, a narradora do livro, perde seu melhor amigo para o suicídio. Ela está fazendo uma pesquisa na área do esporte, e esse acontecimento a faz refletir sobre o discurso da vitória. Vencer é tudo? Falhar é a pior coisa que poderia acontecer? É um livro sobre luto, perdas e ganhos.
O drible, de Sérgio Rodrigues
Não pode faltar um livro sobre futebol no país do futebol. Um cronista esportivo meio capenga de saúde procura se reaproximar do filho, com quem não fala há anos. Esse filho é um revisor de livros de auto-ajuda meio mal das ideias desde o suicídio da mãe. Nos encontros, o pai destrincha histórias antigas de craques do futebol. Treta de família e esporte? Gostamos.
Curtiram? Lembram de mais algum livro que trata de algum esporte? Me indica pois adoro. <3
Pods pra esquentar a orelha nesse frio
No É Nóia Minha? teve mais uma batalha de nóias, dessa vez com Marina Smith e Nathalia Cruz. Vem ouvir!
No Calcinha Larga recebemos Manuela Cantuária sobre vício em trabalho e relacionamentos. Ouve aí!
E no PPKANSADA teve uma conversa sobre relacionamentos abusivos no amor, na amizade e na família. Escuta a gente!
É isso aí!
Mais uma semana aqui oferecendo conteúdo de qualidade. Camila está em processo de mudança, por isso demos folga pra ela hoje. Mas semana que vem volta!
Fique aí bem agasalhade e coma coisas quentinhas.
Beijos,
Bertha, Bela e Taize
Meninas, demais!!!
Arrrasaram!!!!!!!