Associação dos Sem Carisma #110
3 anos de nóias
O episódio dessa semana do É Nóia Minha? comemora os três anos deste podcast que uniu os noiados do Brasil. E se não fosse essa nação de noiados, a gente nem estaria aqui, né?
Por isso, para comemorar, reunimos alguns comentários ótimos da audiência que recebemos nesse tempo na ativa. Obrigada a todos. <3
Esqueça de propósito seu celular
Por Camila Fremder
Hoje eu fui almoçar sem celular. Não, a frase certa é: Hoje eu esqueci de pôr o celular na bolsa quando saí pra almoçar. E foi aí que eu percebi como eu preciso começar a sair pra almoçar sem o celular, simplesmente porque durante o almoço eu o procurei umas oito vezes. É impressionante como qualquer conversa nos leva ao celular.
Falamos sobre trocar o vidro do box do banheiro das crianças que está emperrado, e fui buscar o celular para dar um google em uma loja. Depois comentei sobre uma marca legal de sapatos e fui em busca do cel de novo pra mostrar o Instagram. E assim foi com qualquer conversa, aula de natação para o Arthur, receita de molho branco, fofoca sobre um antigo colega da época de faculdade… Em qualquer papo eu procurava o telefone, de afazeres da casa a coisas inúteis.
Fiquei meio assustada com isso e, assim, amanhã resolvi que vou apenas almoçar, como faziam os Maias e Incas.
FOMO tem fim?
Por Isabela Reis
Nesta sexta, começa o Lollapalooza. Você vai? Nem eu! O ingresso já estava até comprado, mas a logística, viiixi… Passagens, levar a cunhada junto pra ficar com o filhote enquanto os pais ganhavam o vale-dia — não tive coragem de deixar no Rio e dormir longe —, hospedagem. Muito trabalho e muuuuito dinheiro. Estou 100% em paz com essa decisão. Creio que, dessa vez, a FOMO (Fear of Missing Out), essa angústia de ser a única pessoa do mundo que não está no lugar-desejo, não vai me engolir.
Há três anos, também decidi não ir no Lolla, mas fiquei sofrida de perder o show do Kendrick Lamar. Tão sofrida que, no dia do show, inventei uma viagem sozinha pro meio do mato e desliguei o celular. Não queria ver um story, uma fotinha que me lembrasse que eu tinha escolhido não estar ali. Que coisa horrível seria ter que lidar com os arrependimentos da minha própria decisão. Não me arrependi! Mas também não vi um vídeo do show.
Fui mãe na pandemia, o que cruelmente ajudou muito a não sentir essa sensação de que o mundo está vivendo tudo e só eu estava lá travada, empacada, reclusa dentro de casa sendo tudo o que um bebê precisa por meses. Mesmo assim, disse muitos “nãos”, neguei muitos convites, não pude ir a encontros, show, festas, sambas, rolês. “Pra mim é impossível, não tenho ninguém pra ficar com o Martin” ou “esse horário é foda” ou “fico noiada por conta da pandemia” foram frases que disse muito. Pra vocês sem carisma, posso confessar: a desculpa do filho também é muito confortável pra driblar situações sociais que não nos apetece. Não curtir muito sair de casa também já me ajuda a não sofrer com as privações. Mas é difícil.
Essa semana, descobri que menores de cinco anos não podem entrar no Sambódromo para o desfile das Escolas de Samba. Tudo em mim doeu. A minha parte criança que começou a frequentar desfile aos três anos e tem memórias incríveis. A minha parte sambista que reconhece a importância dos desfiles pra formação de quem eu sou no mundo. A minha parte mãe sambista que queria inaugurar o batismo do meu filho no maior espetáculo da Terra o mais cedo possível. A minha parte mãe que sente vontade de chorar quando pensa que, com a família toda também mobilizada pelo samba, talvez tenha que esperar mais quatro anos para voltar na Sapucaí.
Esse ano, não estarei no Rio de Janeiro nos dias dos desfiles das Escolas de Samba. Pela primeira vez em 23 anos, não pisarei na Sapucaí em dia de desfile. Estarei feliz da vida sendo madrinha de casamento de uma grande amiga. Mas, confesso, um pedaço de mim parece que vai rasgar, mesmo nesse ano, que eu nem iria ao desfile mesmo. Que maluquice! Acho que será a maior FOMO da minha vida. Ailton Krenak nos ensinou a empurrar o céu quando o mundo parecer nos achatar, não sufocar. Ele fala isso num contexto tão importante, tão maior, mas tô eu aqui empurrando o céu pra FOMO não me engolir. Lembrando que existe muito mais vida além disso, pensando que ainda tenho outros 50 carnavais para viver, me agarrando em qualquer boia que me resgate desse luto de tudo que não pude e que também escolhi não viver nesses últimos dois anos. Isso passa?
E o futuro?
Por Taize Odelli
O episódio desta semana no Ppkansada é sobre envelhecer. Eu não vejo a hora de ser uma senhora 60+. Eu sinto que já nasci com essa idade, meu espírito sempre foi velho – será se reencarnei sábia? É demais achar isso, provavelmente só reencarnei cansada e sem carisma mesmo, mas isso a gente adquire também com a sabedoria.
Eu me imagino de cabelos brancos, roupas chiques, nas minhas duas casas cheias de livros (uma no campo, outra na cidade), com muitos gatos e cachorros, isolada a maior parte do tempo mas por opção mesmo, não porque serei abandonada por todos. Espero que tenha dinheiro o bastante para não precisar trabalhar, pois odeio trabalhar, mas não estou fazendo nada quando a isso agora. Não tô pagando previdência.
Deveria? Deveria. Mas ao mesmo tempo em que visualizo uma velhice em que estarei bem comigo mesma e realizada, também não tenho lá muitas esperanças para os meus próximos 50 anos de vida. E é por um motivo muito simples: haverá sociedade daqui a 50 anos?
É nessa hora que todo o pessimismo me bate forte. Já estamos no limite da sobrevivência confortável. Não só na questão financeira, mas na questão do planeta mesmo. Eu vejo uma sociedade colapsando, a bolha do capitalismo finalmente estourando, escassez de água, de comida, de oxigênio, se pá. Grandes tragédias naturais causadas pelo aquecimento global.
E se formos a última geração a viver nesse conforto que temos agora? E se esse conforto cobrar seu preço antes do que imaginamos? Porque vamos ser honestos: com a tecnologia e o conhecimento que temos agora já não conseguimos transformar o mundo em um lugar melhor. Essas coisas só acentuam o gap social que sempre existiu no mundo. Aumentam o abismo entre o confortável e o miserável. Tipo: esses dias vi um tweet dizendo que o mínimo que a população brasileira deveria ganhar para viver ok é 6 mil reais. O que a maioria ganha? Um salário mínimo, ou menos. A gente pode até ter uns anos a mais de vida por ter muitos privilégios, mas a maioria vai perecer antes da hora.
O foda é que não consigo ter esperança alguma de melhora quando olho para o mundo como um todo. Individualmente eu consigo ver um futuro, mas coletivamente não. E se o coletivo estiver ruim, o individual também estará ruim. Que futuro será esse?
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
Por Bertha Salles
Acho que me libertei!
Acho, não tenho certeza, mas sinto que estou a cada dia mais a vontade com o meu corpo, e especialmente com a minha barriga e umbiguinho.
Sempre tive vergonha deles, eu era aquele tipo de pessoa que evitava ao máximo tirar a camiseta, até nas horas mais íntimas, sabe?
Sentia que o meu umbigo era triste, e comparava muito a minha barriga com a de outras pessoas que não tem o mesmo biotipo que o meu. Um grande ALÔ REALIDADE, ALÔ CORPOS DIFERENTES, VIDAS DIFERENTES E METABOLISMOS DIFERENTES para mim.
Por mais que eu vinha fazendo há anos o exercício de limpar o meu Instagram e as pessoas que me "influenciam", que eu sigo, buscando corpos e pessoas reais e que se parecem mais comigo nesse sentido, eu acredito que só agora esse movimento esteja de fato fazendo efeito na minha cabeça e em como eu me sinto.
Já se passaram alguns bons anos em que eu me maltratei, me coloquei para baixo por esse motivo, motivo esse que parece tão besta falando assim. Mas não é.
São anos enfrentando diversos distúrbios alimentares e de imagem, anos brigando com a minha própria imagem e com quem eu sou. Então, ter me olhado com mais carinho e me sentindo à vontade depois de 27 anos foi muito mágico e especial.
E isso aconteceu de um jeito que eu não imaginava. Na semana passada eu estava em uma gravação, onde a minha roupa mostrava a minha barriga por inteiro, e pela primeira vez na vida eu me olhei e me senti confortável, não me incomodei. Pensei:
"CARAI, QUE GOSTOSA QUE EU TÔ!". Isso mesmo com o umbiguinho para baixo e a minha barriguinha totalmente positiva, recheadinha e gostosinha.
Como isso é novo para mim, e pode ser que não seja permanente, resolvi registrar aqui e compartilhar com vocês, essa pequena vitória.
Nossos corpos são incríveis e lindos demais — sempre gostei de dizer isso —, e agora, finalmente, conseguir me enxergar dessa forma também é incrível.
De olho na dica
Dicaizze
Comecei a ver Bad Vegan, série documental nova da Netflix, e gente, que história doida. Ela conta a história de Sarma Melngailis, chefe de um dos restaurantes veganos mais badalados de Nova York, o Pure Food & Wine. Famosos mil frequentavam o lugar, ela deu uma popularizada na comida vegana, e de empreendedora de sucesso virou, bem, uma caloteira. E tudo isso por causa de um HOMEM.
Ao entrar em um relacionamento abusivo, ela sofre quase que uma lavagem cerebral, acreditando que, fazendo tudo o que ele pede – principalmente mandando dinheiro –, ela e seu cachorro, Leon, seriam imortais. E aí começou a pagar seus fornecedores, bancos e até os próprios funcionários. Um caso de polícia esquisitíssimo.
Belatips
O espetáculo musical 2022, da HBO Max, está sensacional! No centenário da semana de 1922, nomes de peso da música brasileira se juntam para cantar um repertório histórico em combinações nem sempre óbvios, como Majur, Larissa Luz e Alcione ou Gilberto Gil com Duda Beat. Tem de Paralamas a Ludmilla, passando por BaianaSystem e Zeca Pagodinho. Excelente!
Níver de podcast
Como já falamos, o É Nóia Minha? está completando 3 aninhos! E para comemorar, nossa presidenta chamou os melhores amigos Jana Rosa, Leka Mendes e Rodrigo Rosner para uma batalha da amizade. Ouve lá!
Lá no Calcinha Larga teve a jornalista e escritora Lia Bock para falar sobre a hora de ficar amiga do ex e a coisa mais prazeirosa do mundo: desmarcar uma reunião. Vai lá escutar!
E no Ppkansada teve Carol Rocha, a Tchulim, para bater um papo sobre as nossas perspectivas para a velhice — ela vai chegar. Vai lá ouvir!
Tchauzinho
A gente não estaria aqui se não fosse os noiers. Porque ser noiado também tira uma boa parte do nosso carisma. Todo noiado faz parte desta associação automaticamente. Então nesses três anos de Nóia, aqui vai um muito obrigada pela audiência e pelas nóias compartilhadas.
Vocês são tudo.
Beijos,
Camila, Bertha, Isabela e Taize
Vou começar abrindo aspas da menina do print lá do início dessa edição "Camila, minha best imagiária". Não está sendo nada fácil viver em um mundo que de todos voltaram ao normal, mas o meu não. Embora eu tenha muitos amigos, não é todo findi que eles podem estar comigo, vida de adulto é uma bola de neve de responsabilidades, que cria uma incompatibilidade de agenda. Inclusive com minha esposa, que trabalha justamente nos dias que estou de folga. Vivo um home office desde que decretaram quarentena. No início era legal, ainda tenho os privilégios que isso permite ter, mas sem dúvidas sinto falta até das pessoas que eu desprezava no trabalho kkkk (mentira, eu não desprezava ngm, só tinha uma certa incompatibilidade hahaha). Nunca mais devolveram minha vida com piqueniques na praça Paris, bem na hora do almoço, com meus amigos que tbm trabalhavam na Cinelândia. E as escapadas para comer umas besteirinhas, comprar um livrinho na feira, comer aquele espetinho delicioso na porta do metrô, ouvir os shows de artistas de rua, as manifestações de esquerda (todas da Marielle eu estava lá), as idas para Lapa após o trabalho, os encontros com a minha amiga confidente ( o meu trabalho, era caminho pra casa dela, então era todo santo dia), que sempre me encontrava pra gente beber pra tudo (comemorar ou afogar as mágoas), os shows no circo voador, as apresentações (quase semanais) no Theatro municipal, teatro Rival, entre outros (ganhava tudo nos sorteios do meu trabalho, acho que só eu participava daquilo) e minha companheira, me buscando de bike, porque ela trabalhava na Glória, bem ao lado. Íamos pra nossa casinha, eu na garupa, às vezes até empurrando a bike pra conversar e testar uns bares no meio do caminho. Enfim, eu tinha uma vida social maneiríssima, já escutava "é nóia minha" no trabalho (eu ficava de fone a maior parte do dia pra não ter que corrigir as falas machistas e misóginas o tempo todo). Mas hoje, o programa se tornou meu escape da realidade. Ontem escutei 3 eps seguidos, enquanto arrumava a casa e praticava meu auto cuidado, fugindo um pouco da realidade pessoal, que me assombra de estar sozinha em um sábado e mais ainda, pra fugir dessa depressão social coletiva que estamos imersos. Eu até gostaria de praticar a solitude de curtir um dia sozinha, mas cadê nosso dinheiro pra isso, né?! O podcast não me faz gastar, nem sair de casa e nem a tentativa de conciliar horários. Seu trabalho é dose de serotonina para mim. Eu rio, aprendo novas gírias, vejo o que tá na boca da galera e fujo da realidade um pouquinho. Obrigada pela companhia durante a faxina, durante o horário de trabalho ou na simples ausência de uma amiga pra nos fazer rir.
viva!! parabéns meninas, amo o noia é minha, ppkansada, calcinha larga & associação dos sem carisma <3 cami, te acompanho desde sempre e pra mim e pra muitas outras, você é minha amiga imaginária que me faz escutar os pods falando: É ISSO MESMOOO, meu deus como é bom ter alguém tao noiada quanto eu! ahhahahah
ah, e agora sou super fã do rádio endorfina tb! bertha, te ouço e consigo sentir seu nervosismo no primeiro ep mas nossa, que coragem de enfrentar esses obstáculos. admiro muito!
parabéns à todes ♥♥