Associação dos Sem Carisma #215
Para onde ir quando você quer sumir
Oi, sumida!
Quanto tempo faz que você não ouve essa frase? Aqui faz tempo, o que significa que não sumimos. Estamos presentes. Estamos em contato. Mas tem horas que dá aquela vontadinha de sumir, né? Assim, puft, como num passe de mágica.
Enquanto a existência da magia não é validada pela ciência, infelizmente não temos como simplesmente sumir. Então oferecemos nossas humildes dicas de pra onde ir quando você precisa dar uma sumidinha básica — para retornar 15 minutos depois com uma cara melhor, mas ainda querendo desaparecer.






Boa sumida!
De boa
Não querendo ser positivona tóxica, mas eu tô amando ser mais velha. Já comentei em algum episódio que no Instagram recebo mensagens de pessoas me dizendo “você não sabe, mas é minha amiga imaginária”, enquanto no TikTok recebo “você é minha mãe!”. E eu tô amando ser a mãe das pessoas, talvez já inclusive vislumbre meu futuro como avó da internet.
A maturidade me trouxe calma e paciência, quer presentes melhores do que esses? Reparei muito nisso agora que estou adaptando o Cisco em casa. Cada dia é um dia e uma mini-conquista. Sem pressa, no tempo de todos e com muito amor. Mais jovem, eu já teria pirado. Agora não, eu curto respeitar o tempo das coisas, sabe? Eu virei aquela pessoa que planta a semente e depois de 7 dias leva o maior susto com os brotinhos nascendo.
Enfim, talvez eu esteja em alguma onda louca hormonal típica das mulheres 40+, ou talvez eu finalmente tenha aprendido a curtir mais a vida, assim, de boa.
Culpa
Eu não sou uma pessoa de sentir culpa, mas nas últimas semanas, com a tragédia do Rio Grande do Sul, ela me pegou. Com meu trabalho jornalístico no Angu de Grilo (um dos meus podcasts), não posso simplesmente me desligar das notícias em nome de preservar minha saúde mental. Acredito que ninguém tenha conseguido desligar dessa catástrofe, porque as redes sociais também estão tomadas de pedidos de ajuda, correntes de solidariedade, desabafos — e que bom! Mas quanto mais eu acompanhava as novas dimensões e agravamentos dessa tragédia, mais a culpa chegava, e talvez você também esteja sentindo isso.
É a injustiça climática. O fato de que os grandes impactos das mudanças climáticas serão sofridos de forma desigual pela população do mundo. Agora o Rio Grande do Sul está debaixo d’água. Quem está longe, sente culpa. Os pensamentos que rondam são dezenas: é muito injusto que eu esteja nesse conforto enquanto as pessoas perderam tudo. É cruel que a nossa rotina esteja normal enquanto um estado inteiro está alagado. É absurdo que nossa vida esteja seguindo e que o país não tenha parado com essa catástrofe. É bizarro que eu esteja aqui, me divertindo e descansando no final de semana, enquanto os voluntários da linha de frente já estão em burnout. Todo tom de normalidade parece inadequado, insensível, cruel. Ainda que a gente não tenha nenhuma culpa direta, é claro.
Tudo que nós podemos fazer é ajudar à distância, com Pix, doações, divulgação, cobrança aos governos. E parece pouco, insuficiente, ridículo. “Ajuda de verdade é estar lá nos abrigos, é ajudar nos resgates”. Também é. Mas não é humanamente possível que 200 milhões de brasileiros estejam na linha de frente da atuação. A gente faz o máximo que pode. Do que cabe no bolso, no tempo, entre uma obrigação e outra. Nos informamos, divulgamos, desmentimos fake news, cobramos um governo bizarro, fazemos as contas de quanto dá pra ajudar sem faltar na conta do mês. Mas nunca parece suficiente.
Esse texto não tem conclusão. É só pra dizer que é muito sofrido, mesmo de longe, acompanhar essa tragédia. A gente tende a minimizar nossos sentimentos porque “ah, tô longe, nunca fui lá, não conheço ninguém que perdeu a casa”. Mas se temos empatia, dói. Em maior ou menor grau, sem olimpíadas de sofrimento. Quem é capaz de se sensibilizar com a dor do outro está sofrendo, e não é justo que a gente minimize essas dores. Eu, aqui no Rio de Janeiro, há quilômetros de distância, passei dias terríveis na semana passada acompanhando essa tragédia. Chorei, chorei. Levei pra terapia.
A culpa que a gente sente da nossa vida seguir normal enquanto mais de 70 mil pessoas estão em abrigos não deveria ser nossa. É injusto demais que a população do Rio Grande do Sul esteja passando por isso. É mais injusto ainda que a gente engula esse desconforto ao invés de transferir ele para os vários responsáveis que negligenciaram todos os alertas há anos.
Vamos continuar fazendo o que der. A situação no RS vai demorar meses pra voltar a algum patamar de funcionalidade. Ao “normal”, não vai voltar nunca. Não existe “normal” depois disso. Mas serão muitos meses de pessoas abrigadas, cidades destruídas, necessidade de doações, mobilizações e cobranças. De longe, vamos seguir segurando a onda dos nossos compatriotas como der, e não deixando nunca os responsáveis passarem ilesos. Direcionando a culpa, nos permitindo sentir as dores e cuidando dos nossos.
Coloque aqui a faixa "você não fez mais que a sua obrigação"
Eu queria escrever sobre os três personagens de séries e filmes que vi hoje no metrô enquanto estava indo gravar na casa da Camila, mas ainda não consigo tratar só de amenidades aqui (mas sim, eu estava em um vagão com Professor Xavier, Kendall Roy e Thelonious Ellison). Preciso usar esse espaço para "falar de coisa séria", porque como a Bela disse, é absurdo que a gente tenha que fingir que nada está acontecendo quando tem muita coisa acontecendo. “Everything happens so much”. Essa piadoca do Twitter apenas se tornou uma realidade incontestável.
O assunto ainda é Rio Grande do Sul e a maior catástrofe climática que já aconteceu no Brasil. Falamos "climática" porque é mais fácil visualizar a coisa desse jeito, afinal, as chuvas realmente foram muito acima da média. Mas é uma catástrofe mais política do que climática, e já sabemos quem é o culpado. Se todos os alertas fossem ouvidos, talvez não tivéssemos 70 mil pessoas sem casa agora. Talvez, se tivessem prestado atenção nisso 20 anos atrás, não teria nenhum desabrigado, não importa o tanto de água que fosse cair agora, porque talvez nem uma chuva desse nível aconteceria. Mas de talvez a gente não vive, né? Uma hora vem a resposta, o "sim" ou "não". Estamos levando um "SIM, VAI DAR MERDA" bem grande na cara agora.
Mas o ser humano é um bicho social e solidário. Quanto mais fodido, mais solidário. A gente sabe que, ajudando o outro, as chances de sermos ajudados será grande. E se não fosse a galera se unindo para resgatar, abrigar e suprir as necessidades das vítimas, o número de mortos seria maior — embora esse número não pare de subir conforme as águas baixam. O que nos resta quando tudo colapsa (o clima, a política, a estrutura, o governo), a gente se mobiliza pra sobreviver. Não deveríamos ser nós os responsáveis pelo bem-estar social, mas é o que tá tendo pra hoje.
Não deveriam ser os influencers milionários os grandes agentes da ajuda humanitária, mas, novamente, é o que temos pra hoje. E aí chegamos no ponto que eu queria: o povo agradece muito pela sua solidariedade, influencer milionário, mas estando você num lugar de destaque e de bem-estar monetário, ajudar o outro nada mais é do que a sua obrigação. Qualquer ser moral tem dentro de si o ímpeto de ajudar, então doar milhões não te transforma em herói, apenas mostra que você é um humano funcional, que sabe que tem que compartilhar de suas riquezas com aqueles que estão lutando pela vida, caso contrário você seria só mais um milionário escroto que prefere ver gente morrer a perder um centavo de sua conta bancária — como muitos milionários e bilionários, pois somos seres morais em um sistema econômico imoral, mas aí é outro papo…
Essa semana teve influencer dando piti por não se sentir o protagonista da ajuda aos atingidos no RS, teve fotinha estilo Nana Gouvêa em meio às imagens de caos, teve muita gente caçando like com seu trabalho "voluntário". Mas existe trabalho voluntário quando o que a pessoa espera fama e visibilidade em retorno? Deixo aqui essa questão.
Então assim, povo rico pra caralho: valeu aí pelas doações. Mas doem mais, vocês ainda podem. Não é mais do que a sua obrigação.
Não endeuse ninguém que esteja fazendo apenas a sua obrigação. E cobre daqueles que passaram bem longe de fazer o que deviam.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
De repente 30
E finalmente, os 30 chegaram. Eu, que cresci na base do filme De repente 30, em que ela falava que queria ter trinta, “I WANNA BE THIRTY AND FLIRTY”, que era a idade do sucesso, aqui cheguei.
É muito louco como a gente acredita em números, e que em algum momento da sua vida uma chave vai virar e SEREMOS FELIZES PARA SEMPRE.
Daqui, da minha terceira década, te digo que são momentos felizes, e momentos de introspecção, de recalcular rota e ressignificar bastante coisa.
Não posso negar que, com a idade, com a maturIDADE kk rs, algumas coisas ficam mais certas. Os limites mais claros, e a certeza de quem você é e o que quer também.
Acredito que esses desejos, e aspectos, nos mantêm em movimento para enfrentar os próximos 30, independente do bom e do ruim.
Se é isso que é ter sucesso, eu acho que estou THIRTY AND FLIRTY.
Dá o play!
Esse é o nosso espacinho para divulgar os podcasts das sem carismers da equipe. Não deixa de seguir cada um lá no seu Spotify e deixar aquelas 5 estrelas de avaliação. É muito importante para nós! <3
No É nóia minha? dessa semana, Camila recebeu Mareu e Letícia Ribeiro para conversar sobre esse sentimento universal de querer sumir. Ouve aí!
E os namoradinhos? continua entregando o melhor da treta familiar. Bora escutar o episódio dessa semana!
E no Conselhos que você pediu, Isabela fez um episódio dedicado à você, pessoa emocionada. Vem ouvir!
Pode fechar o laptop
Mais uma semana finalizada com sucesso. Seja lá o que “sucesso” signifique. Não ter surtado — e nem sumido — já configura sucesso, né? Então é isso.
Oh, lembrando que o Rio Grande do Sul continua precisando da nossa ajuda para acolher as pessoas atingidas pelas enchentes. Aqui no abre da edição da semana passada deixamos informações sobre como você pode contribuir. Então bora ajudar!
Obrigada por ler mais uma edição desta newsletter que tanto amamos fazer. <3
Beijos, se cuidem,
Camila, Isabela, Bertha e Taize
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E vem aqui conhecer o livro Quibe, a formiga corajosa.
Influencers milionários vcs não fizeram mais do que a obrigação!!!!!!!!!
Essa culpa em relação ao RS também tem me perseguindo, tenho familiares que foram atingidos e estão agora calculando os prejuízos… quando mandam mensagem sempre tão calmos e esperançosos sinto um alivio. Mas ao mesmo tempo vendo as notícias acho que eles talvez escondem a realidade pra não nos preocupar de longe… é muito difícil… mas seguimos ajudando como podemos… é uma culpa parecida com a da pandemia, mas o que conforta é que agora temos um governo federal preocupado e trabalhando em favor do povo DE VERDADE.