Somos sem carisma porque na infância…
A gente não nasce pronto. Algumas coisas estão ali intrinsecamente na gente, mas outras são construídas ao longo da nossa vida, principalmente durante a infância.
E olha, coitadas das crianças. Nós, adultos, fazemos elas passarem por cada coisa… E a gente também não saiu ileso dela. Pois aqui vão alguns motivos para sermos tão sem carisma: vocês nos fizeram assim.
Rita Pintadinha
Por Camila Fremder
Eu e Arthur passamos na frente do MIS hoje, onde acontece a exposição homenageando a Rita Lee, que, por acaso, é a avó paterna dele. Segue o diálogo:
— Filho, olha a foto da vovó Rita naquele prédio!
— Mas por que tem uma foto dela lá?
— Porque ela é uma cantora famosa.
— O que é famosa?
— É quando muita gente te conhece.
— Como assim?
— Tipo a Galinha Pintadinha. Seus amigos não conhecem a Galinha Pintadinha?
— Sim, todos.
— Então, a vovó Rita é tipo a Galinha Pintadinha.
— Uau…
O privilégio de ser ignorante
Por Isabela Reis
Tem dias, como hoje, em que estou mergulhada, engolida, tão imersa num universo de frustração que eu gostaria muito de ser ignorante. Eu acho que já falei sobre isso aqui no contexto político. Agora, digo no contexto materno-profissional-dona-de-casa. Sei lá, sabe. Eu gostaria de simplesmente falar foooodaaaaaa-seeeeee todos os agrotóxicos, vai todo mundo morrerrrrrrr de qualquer jeitoooooooooo, ao invés de estar há semanas pensando que deveria dar orgânicos pro meu filho e quebrando a cabeça porque nunca tem tudo que eu queria na versão orgânica. É claro, pois orgânicos e, portanto, sazonais.
Queria apagar da minha cabeça tudo o que aprendi, tudo o que li, tudo o que foi jogado na minha timeline porque eu inventei de seguir mulheres que trabalham e criam os filhos de formas que me inspiram. Queria acreditar em TODAS as crendices, me agarrar em qualquer pseudociência e nunca pensar em contestar nenhuma bizarrice.
Queria ser orgulhosamente desorganizada, caótica, atrasada, ao invés de tentar manter o mínimo de compromisso com meu trabalho. Queria chutar o balde e jamais cogitar ir buscá-lo. Tem dias que queria não dar a mínima pra absolutamente nada. Viver na sujeira e bagunça? Bora! Me alimentar somente de amendoim e água? Parece ótimo!
Fora dos stories? Minha amiga, especialmente fora dos stories HOJE eu queria ser burra! Eu queria ser inteligente, antenada e responsável somente nos stories. Queria fazer tudo meia boca e pela metade em literalmente todas as áreas da minha vida, botar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Toda vez que eu vejo uma pessoa casualmente alienada e descompromissada, eu penso na paz que deve ser o vazio dessa cabeça. Que inveja!! Juro, morro de inveja! Queria ser assim? Não! Mas hoje, especialmente hoje, eu queria.
Se quiser falar de amor, fale com a Bebetinha!
A importância de saber colocar um ponto final
Sempre tive dificuldade de interromper processos, histórias e de fato finalizá-las. Quando se trata de um relacionamento fica ainda mais difícil, parece que sempre vai existir uma expectativa, uma porta ou um raio de uma janela aberta para seguir.
Me questiono sobre essa história de quando uma porta se fecha, uma janela se abre.
MAS E SE EU NÃO QUISER ABRIR ESSA MERDA? KK
Pistolei, desculpa.
Mas acho que fomos criados com esse ditado, numas de sempre ter esperança mesmo se algo der ruim, só que e se não der? Em algumas situações pode ser positivo e eu acho massa ter esperança, já em outras acredito que pode nos trazer uma dificuldade em entender que nem sempre isso vai acontecer.
Aceitar que as coisas acabam, por menores que sejam, dói e é triste demais. E para mim, no meu inconsciente, por muitas vezes parece até um tanto quanto inaceitável.
Mas e quando algo ou esse alguém te faz mal e consome? Como fazer?
Eu honestamente não sei, mas estou tentando aprender a tirar as reticências e as interrogações, por mais incômodo que seja, e finalmente colocar o ponto final.
A internet é sua, mas nem tudo é para você
Por Taize Odelli
Estar na internet e fazer conteúdo aqui é estar com a cara posta no sol pronta para levar um soco na cara. E por mais que a gente saiba que vai levar esse soco e que isso faz parte, tem alguns que doem. Pegam lá no âmago do ego.
Essa semana recebemos uma mensagem no insta do PPKANSADA que foi um soco desses. Eu não sou de me estressar com comentários negativos, já recebemos vários e sempre levo em consideração quando eles são úteis — já cheguei a chorar quando percebi que pisei na bola feio. E aí é aquela coisa: é se desculpar, pensar, tomar cuidado e melhorar. Esse tipo de comentário é super importante, por mais que doa.
Mas tem uns que, olha, me levantam uma raiva que eu nem sabia que existia. O comentário da vez foi uma reclamação de que, num episódio específico, "fugimos do tema" ao falar sobre… hemorróidas. Fomos taxadas de "pueris" por contar nossas agruras com as hemorróidas e rimos muito. E olha que a hemorroida nem era minha, mas me doeu.
E aí redigi uma resposta bem passiva-agressiva, pois é assim que eu sou. Recomendei podcasts livres de hemorróidas. E a pessoa seguiu falando como se a gente estivesse fazendo tudo errado, pois o episódio não agradou a ela especificamente, não era "jornalístico" como ela queria — bem, nosso podcast é zero jornalístico mesmo, rs. Ainda bem que indiquei O Assunto, da Renata Lo Prete, pra ela.
E é isso que quero trazer aqui. A internet é vasta, é linda, é assustadora, é cheia de conteúdo para todos os gostos. Mas a pessoa acha que tudo tem que ser feito para ela e para agradar a ela. Se algo não está bom para ela, não é válido. E ela precisa te contar, te dizer que achou uma bosta e fazer a ameaça de que não vai mais consumir nada seu porque essa coisinha específica desagradou a ela. E não foi uma coisa super séria como um comentário escroto que ofende alguém ou um grupo de pessoas. A ofensa foi falar de hemorróidas, mesmo de um jeito engraçadinho.
Agora sei como certos produtores de conteúdo se sentem. Tudo bem falar por aí, tuitar, dizer pras amigues que não curtiu. Mas qual a necessidade de chegar na gente, que faz esse conteúdo, e dizer "OLHA, ACHEI HORRÍVEL VOCÊS FALAREM DE HEMORRÓIDAS, MELHOREM"? O que a pessoa espera com isso? Que a gente mude todo o nosso conteúdo, nossa abordagem, o cerne do podcast, para agradar aos gostos dela?
E aqui quero fazer um pedido de desculpas público: Ivan Mizanzuk, perdão. Não mandei mensagem diretamente pra você, mas já trocamos tweets em que eu falava do meu descontentamento com um podcast que eu gostava tanto e depois não fez mais sentido para mim. Imagino o tanto de mensagem besta que você recebeu porque as pessoas não gostaram do jeito que foi feito, e que chegaram em você como se fossem seus chefes do trabalho CLT cobrando as coisas. Desculpa mesmo, cara, seu trabalho é foda, mesmo eu discordando de alguns pontos. Mas jamais invalidaria o que você faz por causa disso.
A gente precisa entender que nem tudo é feito pra gente. E entender também que quem está aqui botando a cara à tapa às vezes se cansa e se dói de apanhar.
Paz.
Ps.: Espero que ela tenha hemorróidas e ninguém com quem conversar sobre isso.
Aquela dica
Dicaize
A diquinha de hoje é uma série que estreou essa semana no GNT: Sociedade do cansaço. Ela é inspirada no livro de mesmo nome do Byung-Chul Han, que já indiquei por aqui, e a cada episódio vai tratar de um tema dessa sociedade doida em que a gente vive. Trabalho, família, saúde, relacionamentos…
Aliás, no dia 3 de novembro vai ao ar o episódio sobre estar cansada de relacionamentos, e eu participei dele falando sobre as frustrações da vida em apps de encontro — pois muitos anos de experiência nisso, kkkkrying.
Então anota aí: toda quarta-feira, às 23h30, no GNT. E os episódios ficam disponíveis também no Globoplay.
Belatips
Se tem uma coisa que tem curado minha alma — e aberto um rombo no meu bolso — nos últimos tempos é a Dengo Chocolates. Meu deus, é o melhor chocolate que existe. Derrete na boca, combinações perfeitas. Queria uma carregamento vitalício dessa delicia!
Meu favorito é o quebra-quebra de morango. Perco tudo! Outros que amo: o quebra-quebra de castanha de caju com banana, os grãos de café cobertos de chocolate e as drágeas de castanha de caju.
Conteúdo da podosfera
No É Nóia Minha?, Uno Vulpo, o Senta Mesmo e Rafa Mon revelaram seus traumas engraçados de infância. Vem ouvir a gente falar das vergonhas passadas!
No Calcinha Larga, recebemos a maravilhosa Monica Iozzi para falar sobre se vale a pena assustar as crianças para educar. Dá o play!
E no PPKANSADA teve uma conversa sobre o FOSF: Fear of Se Fuder. Ouve lá para descobrir quais são os medos das ppkers.
Beijos e até!
Estão sentindo esse clima? Esse cheirinho no ar? É o pólen da primavera. Aquele momento zero carisma para quem tem rinite. Então fica a nossa dica final: fechem as janelas.
Muito obrigada por estarem aqui com a gente por mais uma semana. Apreciamos mesmo.
Beijos,
Camila, Bertha, Bela e Taize
Sobre o trauma de infância de ir comprar algo sozinha... Tenho uma história bem engraçada! Quando era pequena, minha mãe costumava fazer aquela touca de grampo pra deixar o cabelo liso como se tivesse feito escova em mim (eu tenho os cabelos bem encaracolados e por bullying que sofri ao longo dos anos, ainda tenho eles alisados) e me mandou ir comprar pão na vendinha que ficava duas ruas próximo de casa com o cabelo preso cheio de grampos. Um homem que estava arrumando o carro me viu e apontou pra mim e começou a rir. Foi o suficiente pra eu abrir o berreiro no meio da rua, mas ainda consciente de ir comprar os pães e voltar correndo pra casa. Minha mãe achou que não ia acontecer nada comigo, mas hoje damos risada de tudo isso.
Sobre o privilégio de ser ignorante: por acontecimentos na infância, eu me isolei completamente, as vezes até da minha família. Gerei um grande medo das ações das pessoas e isso me mantém numa bolha, onde eu mantenho contato com poucas pessoas e conheço muito, mas muito pouco mesmo do mundo que me rodeia. Estar nessa bolha me faz pensar o quão grande é foda eu poderia ser se arriscada mais, se conhecesse e mantesse contato com mais pessoas, se eu sirvo pra ser um dono de empresa ou preencher cargos incríveis, de alta responsabilidade. Ao mesmo tempo, eu sou grato por ter que me esforçar muito pouco (ainda dependo da minha família para sobreviver e ter um relacionamento conturbado com eles ajuda a jugar ainda mais a mente), mas ter o mínimo de sossego, sem pressa, sem exigir algo surreal e maligno pra minha saúde, inclusive minha opinião sobre o sistema capitalista no geral kdsjdjskdjsk
E aí caímos no paradoxo de entender que estar nessa posição de ignorância, isolamento social, estar fora de redes sociais, a alienação, a bolha, te limita. Te mantém pequeno, "fraco", imutável.
Acredite: mais vale uma vida com muitas experiências, por mais que elas sejam negativas, do que ficar imaginando como seria se... entendem?
Papo pra uma terapia, olha só.